Transição [Stephen Arroyo]




Na cultura americana, mais do que um ritual de iniciação que redundaria na transformação pessoal necessária para permitir cortar, rápida e completamente, os laços da infância que nos ligam aos pais e encaminhar o indivíduo para a idade adulta, existe apenas um longo e arrastado período em que uma pessoa tenta convencer-se a si própria de que é um adulto, um ser independente, auto-suficiente. Em vez de palavras sagradas ou mitos que o protejam durante este período de incerta transformação o indivíduo apenas dispõe de vagas promessas combinadas com uma carta de condução e licença para beber álcool. 

Nos Estados Unidos, como não existe Rite of Passage de um modo de viver para outro, este processo prolonga-se, regra geral, no mínimo, pela casa dos vinte e oito anos; e, muitas vezes, nunca se completa e o indivíduo nunca alcança uma total libertação dos modelos e necessidades da infância. Os ideais culturais nos Estados Unidos são tão elevados, tão irrealistas, que nunca ninguém os pode atingir. Assim, tornamo-nos uma nação de carneiros, uma nação de crianças perdidas que jogam video-game quando estão grandes.  

Nos EUA não há nenhum rei, nenhuma autoridade absoluta fora de nós próprios. Por isso, temos que nos voltar para os nossos recursos pessoais, o que nos assusta terrivelmente. Reagimos através da busca, muitas vezes desesperada, de segurança em qualquer função social, profissional ou familiar. Fugimos, assim, da nossa própria responsabilidade e de enfrentarmos o nosso próprio ego e os nossos próprios ideais. Muitos de nós começam a morrer por dentro; e, no fim da vida, descobrimo-nos vagamente ressentidos, sem conhecermos claramente o objeto do nosso ressentimento. Em vez de compreendermos que aquilo de que nos ressentimos é a nossa própria ignorância, as nossas tolices e a nossa covardia, voltamo-nos com frequência contra um grupo, um segmento da sociedade vagamente definido que pavoneia a sua indiferença pelos nossos valores opressivos ou de algum modo representa as estruturas sociais opressivas que reconhecemos terem-nos escravizado. 

Numa sociedade em que devemos descobrir os nossos próprios meios de iniciação e de transformação, a astrologia tem um papel particularmente válido a desempenhar. Mas temos que nos lembrar de que a astrologia não é algo separado da vida. Não é uma religião em si nem uma ciência que contenha todas as outras perspectivas do entendimento humano. É apenas um instrumento, um dos muitos instrumentos possíveis que pode ser usado de diversíssimas maneiras. 

Nas nossas vidas individuais, a astrologia pode servir o objetivo de nos gruir através de várias iniciações, transformações e transições cruciais. Pode fornecer-nos aquela estrutura e aquele significado cósmico que infunde a todas as experiências fundamentais um profundo significado, algo que a maior parte das religiões tenta fazer, mas sem êxito. E, na pratica da consulta astrológica como profissão, é de absoluta necessidade para um auxílio eficaz, a consciência dos papeis sociais, laços, influências paternas e necessidades individuais com que se ultrapassem as fases arquetípicas da transformação humana. 

Quando uma sociedade ou uma religião não conseguem proporcionar os meios de compreender tão importantes processos e necessidades, deve descobrir-se outro caminho. E a astrologia é um método de compreensão que milhares de pessoas procuram como guia. 

    
Astrologia, Karma e Transformação. - Stephen Arroyo. Ed - Europa.América 

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