Desconectada




- Em que mundo você vive? - perguntou espantada ao descobrir que não tinha whatsapp. 

Respondi que tinha um celular que me permitia o básico exigido por um aparelho: telefonar e ouvir músicas. A conversa se encerrou e voltamos aos afazeres habituais. Reparo durante o trajeto do trabalho à casa que várias pessoas caminhavam com celulares na mão. Olhava para o que faziam discretamente e via os dedos ágeis, se comunicando através da rede. O programa permitia as pessoas se sentirem conectadas e bastava-lhe uma mensagem, para que a comunicação atravessasse distâncias! 

Senti, naquele momento, que não estava conectada. O único momento que tinha para adentrar na rede era somente em casa depois das vinte. O restante do dia, era dado a viver no mundo desconectado, sem ter nas mãos um aparelho que permitisse conversar com algum amigo nas horas da solidão, queixar-me de alguma situação frustrante no facebook ou mesmo usar a linha do tempo para compartilhar uma alegria súbita, uma foto para mostrar como estou no dia ou dizer para Ele que sentia saudades. 

O mundo que vivo não tem filtros, mas tem suas próprias cores. Não tem mensagens instantâneas, mas tem o barulho dos carros, o cheiro humano, o céu pintado de azul e decorado com estrelas.  O mundo que vivo não é aquele das palavras rápidas, mas dos livros que carregam histórias e do silêncio que uma conversa nos causa. Este mundo espera em silêncio a mensagem como quem espera uma carta. O mundo que vivo é o mundo que meus olhos enxergam; é o mundo onde a existência descobriu que se conecta com o outro através do coração que pulsa, do abraço apertado e da memória, falha, mas que guarda o significado de cada momento vivido com trabalho, mas também amor.


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