Tem hora...

Tem hora que não dá. Temos que parar e respirar. Temos que diminuir o fluxo, o ritmo, desacelerar o passo e as palavras. Emprestar o ouvido e comungar com o silêncio. Ter atenção no que os olhos comem, refletir o que os olhos enxergam e perceber o que a essência evidencia, mas que por cansaço se esquece de si, se esquece quem é no meio da multidão, se esquece de olhar para dentro por estar perdida lá fora... 

Tem hora que não dá. Não encaixa, não rola, não tem química. Não adianta forçar, não entra e o que não entra, não é nosso. É como vestir uma roupa que não cabe. O desconforto é notável, o sorriso é amargo. Tem que dizer "não" sem medo de repressão, sem medo da reação, sem medo do desagrado, sem medo de magoar a si por não ser o que os outros esperam que você seja. 

Tem hora que não dá! Por quanto tempo se aguenta uma situação sufocante? A alma não respira, o corpo não fala! A gente não se enxerga no espelho! A mudança foi tão rápida que nos perdemos diante ao processo! Olhar para o espelho e não reconhecer os próprios sonhos. Olhar para dentro e vê o vazio que nos tornamos. 

Tem hora que não dá. Chega! 

Tem hora que não dá... Não mais e por essas e outras que cada vez que estou perto de me encontrar, me perco, confundo, esqueço e tão logo, levanto e volto a caminhar, mais forte, ciente, agarrada em meus sonhos que não desistem de mim e nem eu, deles. Nessas horas, relembro quem sou e me vejo novamente em seus olhos refletidos pelo espelho da alma.