Bicho estranho, esse

 O tempo tem dessas indiscrições: desgasta, corrói, enferruja, envelhece, mata. Resumindo no mais puro clichê: o tempo passa.
 E assim, só de passagem, ele para pra deixar esse presente, meio de grego, essa tal saudade, sem nem ter a educação de perguntar se você quer. E, fazer o quê, a gente aceita e cuida desse bicho estranho. Abre as veias, gavetas com fotos, memórias enterradas, tudo pra alimentar essa saudade, porque se você não alimentar ela vai embora. Tá, você não pediu, não queria ela mesmo, mas depois de olhar bem nos olhos... Tem que ser meio desnaturado pra deixar ela desaparecer, não é mesmo?
 É até bonitinha, da pra brincar com ela se quiser, e se abraçar ela bem apertado, a saudade te aperta de volta. É um aperto doído, verdade, mas abraço apertado é que é bom, mesmo o da saudade.
 E tenta dialogar com ela pra você ver: saudade não gosta de razão, razão é veneno pra saudade. Ela fica brava, te arranha, machuca.
 E aí você acha que está acostumado, e o tempo bate de novo e para pra entregar mais outra... porque pra saudade esse sem-vergonha para, só pra ela o tempo para. E quando você percebe, a casa está cheia delas, e você cuida de tantas, mas mesmo assim conhece cada uma, nome por nome. Eventualmente, alguma foge, vai embora, e você fica com saudade da saudade que foi...

 Cara-de-pau, esse tempo, amante descarado da memória.

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