3° Carta [Superfície, Profundidade e o Avião]



Oh, minha amiga, me deu saudade agora. Escrever aqui é uma ótima (e diferente) forma de conversar e abrir meu coração e mente com você. 
Primeiro, algo que sempre sinto e sei que é recíproco: parece que faz tanto, mais tanto tempo que a gente não se vê! Parece simples e algo dito comumente, como se diz bom-dia todo dia, mas realmente sinto isso. E se não fosse por isso, não diria: por que será isso? Acho que se trata de profundidade. Atravessamos o limite da superficialidade, Mi. Deve ser por isso que o nosso tempo tornou-se mais profundo também. Mudamos tanto, não é, Mi? Mas uma coisa prevalece: o fato que, depois de ultrapassado a superfície, temos uma profundidade infinita a conhecer; a nos encontrar, a nos perder, a amar e mal-amar, enfim, o direito de ser, de ver e seguir pelo desconhecido. 
Mi, também gostaria de dividir uma experiência com você. Tem uma coisa, que dentre as coisas materiais, me é de um fascínio, confesso "vergonhosamente", muito grande! O avião! É, o avião, a máquina mais incrível inventada pelo homem. Parece bobeira de criança, mas nada como ver de fora, ver do alto para entender muito. Lá de cima, com tudo tão pequeno, é ótimo remédio contra o Ego; e a vista, a percepção lá de cima preenche o que fica vazio. Quanto mais ele subia, mais eu via, mais eu entendia, e ainda assim, não via tudo. Realmente, somos filhos do infinito, Mi. Somos realmente pequenezas extremas, pelo menos, fisicamente. Mas lá de cima, eu me sentia parte dessa vida indimensional. É difícil explicar algo tão maior do que eu. Então, digo, pegue um, não importando destino! 
Acredito que o mesmo acontece com a gente: a beleza e a verdade acontece, por mais engraçado que pareça, quando não estamos presos as nossas coisas, a Terra, aos pensamentos e tarefas do dia-a-dia. Somos nós quando não somos nós mesmos. Quando ultrapassamos a superficialidade. Ou melhor, quando subimos da superfície. Como disse, vim pensando muito sobre o Robbie Willians. No começo, me pareceu absurda a ideia de uma pessoa com tanta beleza e vida, morrer desta forma. Uma pessoa profunda suponha: e depois de tanto permanecer pensando e conversando com outros, me veio a minha mente sobre a importância de avançar depois de se aprofundar pela vida. É normal que com tamanha infinitude nos percamos. E o importante nisso é seguir na confiança de si, no infinito da vida e de si mesmo. Despertar é difícil... Porém, as coisas difíceis são as que mais valem à pena assim como o nosso querido poeta Rilke diz e, nós sabemos muito bem disso. Assim como a vida é profunda... Profunda também é minha saudade, Mi. 
Desculpa por tantas frases doidas. 
Grande Abraço, do seu amigo, Marco.      
E pensar que nunca andei de avião. Não por muito tempo. Daqui uns meses estarei partindo. O destino da minha viagem fica do outro lado do mundo: Japão. Reler esta carta me fez imaginar, por um breve instante, que esse momento de estar dentro de um avião não será tão assustador assim. Não mais.  Muito obrigada, meu amigo, por compartilhar comigo suas preciosas palavras!

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