Anjo


Divagando ao caminhar, pensamentos soltos, perdidos, dispersaram-se no ar. Caminhava solitariamente e minha única companhia era a chuva. O vento frio beijava meu rosto. Meus pés sentiam a gélida água perpassar pelos sapatos. Andava solitária, mas não me senti sozinha.

A escuridão espreitava-me e a cada passo dado, sentia uma espécie de temor por situações e seres imaginários. As sombras tornavam-se uma possível projeção destes medo que me assombravam. 

Me dei conta que havia adentrado na noite escura. Na presença da escuridão quem eu era? Senti medo por não estar em segurança, por adentrar em territórios desconhecidos. Não havia ninguém naquela rua. E se acontecesse algo? Meu coração palpitava e não sabia se era por medo ou cansaço. 

Mas ao sentir medo, senti-me incrivelmente viva.  
Senti que esta vida valia consideravelmente o bastante para não perdê-la na mediocridade da existência. 
Por que temos medo do escuro? A resposta mais plausível seria pelo simples fato que lá escondemos o que não queremos ver: feridas, traumas, conflitos e defeitos provenientes do caráter duvidoso. É nas profundezas do íntimo que se escondem nossas verdadeiras intenções e que muitas vezes, o repúdio à elas desenha-se nos atos alheios. O espelho para nossos conflitos é o outro.

Meditei com a chuva. 
Mesmo solitária, não estava sozinha. 
Senti uma presença estranha a andar ao meu lado. Ela me intuía os caminhos, protegendo-me de algum mal. Quis acreditar que existia uma mão protetora a embalar o sono dos poetas, o coração dos artistas e a alma dos sonhadores. Acreditei fielmente estar em companhia do meu Anjo, pois Ele, melhor do que ninguém para saber que na escuridão, armadilhas se escondem e a única força capaz de lutar contra as trevas era a luz. Ele estava comigo, andando lado-a-lado, presente nas incontáveis noites escuras já enfrentadas, dando-me forças quando acreditei ter perdido tudo. 

Hoje, senti sua presença, ao caminhar por vias escuras, debaixo da chuva. Senti-me protegida e o ouvi Ele recitar versos que saíram desengonçados de meus lábios:

"O Senhor é meu pastor e nada me faltarás. Ainda que eu ande pelo vale das sombras, não temerei nenhum mal, pois o Senhor está comigo." 

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