Foi Apenas Um Sonho




E se Rose e Jack tivessem embarcado em Nova York sem passarem pela trágica tragédia que afundou o Titanic? Será que eles seriam capazes de vivenciar a relação no dia-a-dia, mantendo vivo o ideal de Amor que os uniram? 

"Foi Apenas Um Sonho" é uma trama bem elaborada que mergulha no dinamismo de uma relação e suas dificuldades vivenciadas no dia-a-dia. O filme se inicia em uma discussão exaltada entre o casal Jack e Rose pós-titanic (os atores são os mesmos), mostrando que a vida não está se encaixando nos ideais que ambos sonharam para si na juventude. Aos poucos, compreendemos como aquele casal construiu uma relação angustiante que corroíam suas idealizações com o veneno da "realidade" e vemos o peso que eles carregavam nas costas por terem que satisfazer as expectativas que ambos tinham um do outro para manterem uma relação bem sucedida aos olhares alheios. 

O filme nos permitem refletirmos como vivenciamos as nossas relações pessoais. Se a expectativa de um parceiro não condiz com a realidade da relação, é óbvio que ele viverá insatisfeito dentro do relacionamento. Contudo, é impossível não nos relacionamos com os nossos ideais num relacionamento, pois a visão que adquirimos do Amor é uma construção de tudo aquilo que absorvermos: filmes, músicas, livros, vivências. Não adianta Jack mostrar para Rose que eles podem construir uma relação saudável, se os ideais e sonhos de ambos são totalmente divergentes um do outro. 

A atração inicial que muitas vezes formam os casais não é o suficiente para manter a relação. O desejo pode ser a chave para engatar o carro, mas ele não é a gasolina e tampouco faz o carro se mover sozinho. Quando nos unimos com alguém, temos que estar preparados para lidarmos com aquilo que não conhecemos no outro. A convivência nos mostram diversos aspectos da personalidade do outro e que por vezes, nos desagradam e isso nos ensina a desenvolvermos a honestidade e aceitação com aquilo que vemos no outro e não gostamos. Mas o fato de vermos determinados aspectos não quer dizer necessariamente que temos que suportá-los quando eles passam a nos agredir internamente. Rose e Jack não dispensavam argumentos para machucar um ao outro com palavras, acusações, cobranças e xingamentos. O ódio estava tão presente naquele relacionamento que dificilmente uma terapia poderia recuperá-los e é certo que o divórcio/separação seria mais cabível já que ambos não tinham disposição (nem amor) para continuarem juntos.

Outra coisa retratada no filme é a pressão interior que Rose sente ao tentar satisfazer as expectativas do marido em detrimento das suas reais aspirações. Com o sonho de atriz descartado, Rose ver sua vida resumida à cuidar dos filhos e ser a esposa perfeita. Quantos sonhos Rose teve que deixar de lado para ser a "esposa" de alguém? Jack não estava preocupado com sua mulher, pois o tempo todo tentava encaixá-la em seu ideal de "família". Enquanto isso, Rose vivia sufocada por ver sua vida tomar um rumo totalmente diferente do que ela planejou para si. Incentivava o marido a correr atrás de seus sonhos à medida que matava seus próprios sonhos. E tudo isso culminou em seus acessos de ataque e em uma possível depressão pós-parto que foi sufocada para não quebrar o padrão de mulher perfeita que o marido lhe atribuiu.  

É interessante pensar também que o Amor de Jack e Rose só foi "eternizado" porque o jovem morreu tentando salvar a dona do seu coração no filme Titanic. Se eles tivessem desembarcado em Nova York, sem um tostão no bolso, tendo que encarar a dureza da vida, o romance que nasceu em três dias estaria fadado a morrer na primeira semana. Talvez, os românticos (como eu) não concordem com este fatalismo, mas é melhor aceitar a verdade no início do que pensar que "foi apenas um sonho". 

Um Amor vivido no dia-a-dia com suas perdas e ganhos, sem pesos ou cobranças, cedendo espaço para que os sonhos de ambos parceiros cresçam dentro da relação; tem um valor incalculável! Se conseguirmos enxergar o outro sem que nossas expectativas nos atrapalhem, estamos próximos da verdadeira experiência de amar alguém, isto é: amar sem medidas, sem cobranças, aceitando o outro como ele exatamente é. 



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