A Bolha




Você não consegue me ouvir de onde estou e nem eu consigo escutá-lo de onde está. Estamos lidando com um problema simples de comunicação. Neste momento, a comunicação deixa de existir. Eu não te escuto e você não me ouve. Estamos somente ouvindo nossas próprias ideias. Estamos presos nos nossos conceitos de como as coisas deveriam funcionar. Estamos presos no preconceito. Nossas palavras estão carregadas de certezas; nossas decisões parecem serem conclusivas e irreversíveis. Não cogitamos a ideia de estarmos errados, sob nenhuma hipótese. Sequer reparamos que a mente prega peças e quem está preocupado com as próprias palavras não tem tempo para escutar o outro. Imersos em bolhas individuais, pensamos exclusivamente em como nos sentimos; não se permitindo colocar no lugar do outro.

Eu não quero viver com tantas certezas, pois sei que as dúvidas foram primordiais no meu caminho... Não quero acreditar que as decisões podem ser tomadas por impulso sem avaliação dos efeitos e sem considerar a importância de algo em minha vida. Desta vez, me rendo e deito no chão. Eu não posso fingir que sei todas as respostas, pois eu não as tenho. Então, declaro para ti que estou em dúvidas! Não sei como agir ou reagir. E deito no chão, toco este chão para lhe dizer que estou plenamente vulnerável, sem certezas, sem verdades, sem decisões.   

Deite comigo no chão, só desta vez. 
Que eu e você possamos sair das bolhas individuais para adentrar no espaço um do outro sem nos machucarmos com acusações de imaturidade evidenciada por atos. Ninguém tem culpa. Não se trata disso. Se trata apenas de conversar. E esta conversa não precisa estar armada com argumentos, não precisa ser um vômito de palavras... Só precisamos que nossa conversa toque o chão para percebermos que o chão que você pisa é o mesmo que eu piso; é a realidade que compartilhamos sem suposições, sem idealizações, mas percebendo o outro como ele é: humano.  

Quando você deita no chão, você se desarma das certezas e verdades que ditam regras de como outro deveria ser. Você deita no chão porque quer enxergar os conflitos por outro ângulo. Você deita no chão para se humanizar e pensar que no espaço do diálogo há um ser tão humano quanto você. 

Estou deitada no chão e este não é um momento de decidir rumos. Este é um momento para se distanciar do próprio barulho e se permitir colocar no lugar do outro saindo da própria bolha. Invertendo as posições, somos mais capazes de resolver os conflitos do que tapar os olhos e fingir que eles não existem. Se formos capazes de olhar nos olhos um do outro e se sensibilizar que a dor dele é a minha também, reconectamos os nossos corações.         

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Estrela + 9 de Espadas

Gita e os 22 arcanos do Tarô

Brincar na chuva...