Canção de Ninar

Durma meu amor no embalo desta doce canção.  Durma esta noite tranquilo, sem medo de pesadelos. Deite a cabeça no travesseiro sem se culpar por erros que não existem. Durma e nem pense em como viverá o amanhã; basta-lhe o agora que oferece esta cama cheia de rosas e espinhos.   

Durma meu amor, pois assim você não vê a tempestade que balança a vidraça da janela. Durma para ser acolhido pelo barulho da chuva lá fora; durma para não ver o que se perde toda vez que fecha os olhos! Mas, enquanto você dorme, tudo se desmorona e logo não haverá mais nada dos sonhos que construímos e sonhamos para nós dois. Tudo está ruindo e nada será como antes; não podemos voltar ao início e começar tudo de novo; temos que continuar do ponto que paramos, temos que seguir em frente com o que restou de nós. Seguir em frente sem tê-lo, ainda que esta realidade me despedace; seguir em frente sem me ter por completo, ainda que o futuro não tenha sido escrito por nossas mãos.  

Durma meu amor. 

Não te incomodarei. 

Não te procurarei se assim for da sua vontade ainda que contrária a minha. 

No mundo dos sonhos te alcanço ainda que a realidade nos distancie. 

E mesmo que durma acompanhado nas próximas noites, não tenha medo de acordar sozinho. 

Mesmo que o último beijo não tenha sido dado por nossos lábios, resta-nos o abraço apertado da involuntária despedida.  

Durma meu amor, pois desta forma, a partida não será dolorida.    

Quando acordar noutro dia, abra a janela e deixe que a luz do sol ilumine novamente sua vida. 

O que sobreviver a este temporal, florescerá belamente com raízes fortemente fincadas no chão.  

Se o Amor sobreviver após a tempestade teremos a prova que o fim não lhe destina e o Amor escolherá esperar com calma sem se abalar com as incertezas de nossas decisões...