O Elixir Milagroso e a Psicologia "Pop"




Para complicar as coisas, vamos dar mais passo em direção ao entendimento da natureza de nossos problemas. Pode parecer estranho que alguém com anos de experiência em psicologia diga uma coisa dessas, mas fiquei desiludida com essa ciência porque ela só revela parte da verdade. Só considera o comportamento e a nível de personalidade, que representam pálidos reflexos do Eu superior. Existem coisas da personalidade que, para o ponto de vista psicanalítico, são incompreensíveis, uma vez que atendem a uma finalidade importante do nível interior, que é atemporal. O eu superior talvez não tenha em mente a satisfação imediata da pessoa, mas sim trabalhe por uma evolução bem mais lenta. 

Por vezes, necessidades cármicas parecem neuroses, se consideradas pela limitada perspectiva da psicologia. 

Por outro lado, muitos astrólogos vêem carma em tudo o que acontece e em todas as posições planetárias ou relacionamento difíceis. Algumas pessoas apreciam dignificar os erros repetitivos, comportamentos masoquistas e casos extraconjugais com o halo cármico, postura que para alguns astrólogos terminam incentivando mediante um pequeno acréscimo ao pagamento. Essa manobra representa a última palavra em termos de álibis para os indivíduos sofisticados que começam a perceber a progressiva perda de popularidade das desculpas de natureza psicológica. 

Sem dúvidas, acredito em carma e reencarnação, mas não em sua banalização. Carma pode não ser punição, mas sim, equilíbrio; uma seleção de circunstâncias feitas pelo Eu superior que levam a um maior desenvolvimento. Algumas escolhas de fato implicam a retificação de erros passados, mas outras limitações são escolhidas como incentivo ao crescimento. Certas experiências amargas não constituem punição nem neurose; simplesmente, são os ingredientes apropriados para nossa receita de vida. O cacau é amargo, mas sem ele não teríamos o bolo de chocolate. A psicologia, a metafísica, os estudos espirituais são partes importantes da minha formação, mas estou ficando cada vez menos paciente com a superficialidade da psicologia "pop", da metafísica "pop", do carma para milhões.

Idéias profundas como essas estão sendo transformadas em algo como o Elixir Milagroso e costumam ser empregadas de maneira hostil e onipotente. Se você fica doente, os amigos perguntam o que você está reprimindo. Se você continuar doente, dirão: "Você está criando essa doença". Por que você precisa estar doente? Sem dúvida, você a está criando. Mas a resposta talvez seja que você precisa ficar doente porque o tempo que passar deitado pode mudar sua vida em outra direção. A doença pode modificá-lo de alguma maneira importante e assinalar o caminho para se chegar a algo glorioso, daqui a cinco anos. Não obstante, por causa dos metafísicos e psicólogos "pop" que adotam o Elixir Milagroso, nos sentimos culpados por ter problemas. As pessoas doentes não só sentem fisicamente comprometidas, como também terminam se sentido neuróticas por terem permitido que emoções reprimidas viessem à tona. Além disso, também se sentem metafisicamente incompetentes, pois é óbvio que desencadearam a doença com sua própria negatividade. Se apenas conseguissem dar um jeito na cabeça, conseguiriam dissolvê-la com a força dos bons pensamentos.

A miopia espiritual ignora a perspectiva de longo prazo e cria uma autodepreciação desnecessária. O eu superior sabe do que você precisa e a doença, às vezes, pode ser o meio mais eficaz para pôr as coisas no lugar. Em especial, as doenças que se manifestam com Netuno e aspectos da décima segunda casa, podem aparecer simplesmente porque não há outro espaço em nossa cultura para um retiro, um recolhimento, uma prolongada contemplação que nos é tão necessária, a determinados intervalos, para podermos entrar em contato com os níveis mais interiores de nosso ser. Damos aos hospitais mais crédito que aos ashrams, embora ambos possam tenham a mesma qualidade de décima segunda casa. A maioria das pessoas procura um hospital quando uma vivência de décima segunda casa pede espaço. Mas os convênios de saúde não cobrem despesas com ashrams.  

Não é apenas uma questão de mente sobrepujando a matéria, pois existem níveis em que a mente não tem a menor importância, onde somos facilmente desencaminhados pelo torvelinho de nossos desejos e vontades não-iluminados. Nesses níveis, a mente consciente é o ferro velho da alma. O eu superior sabe o que precisamos e a metafísica acontece no âmbito em que o Eu Superior tem capacidade e responsabilidade de se sobrepor aos anseios não-iluminados da mente. 


Donna Cunningham - Astrologia e Desenvolvimento Espiritual. Editora: Agora. 

  

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