Quando tudo se torna nada


Alguns dias atrás, ao exercitar minha curiosidade mórbida e procurar sobre cartas de suicídio na internet, descobri algo muito interessante: um homem chamado Mitchell Heisman se matou nos degraus de uma igreja, em Harvard. Como carta de suicídio,ele deixou um livro de 1904 páginas, contendo um ensaio sobre religião, filosofia, política e tantos outros assuntos. Mitchell considerava seu suicídio um ''experimento niilista''. O mais interessante é que o ponto de vista niilista se faz presente em todo o livro. Uma frase em especial me chamou a atenção, dizia algo do tipo: ''se não existe Deus ou deuses, certo ou errado, nenhum significado ou propósito: se não existem valores que sejam inerentemente válidos, nenhuma justiça justificável, nenhuma argumentação que seja fundamentalmente lógica, então não existe uma maneira sã de se escolher entre ciência, religião, racismo, niilismo, liberalismo, nacionalismo (diversos outros ismos depois). Então errado e certo, morte e vida, liberdade e escravidão se tornam iguais ou sem sentido.''

Fiquei perplexo ao analisar esta frase. Sabemos que certo e errado são relativos, que a justiça é um conjunto de leis criadas pelos homens e, portanto, também relativa, que significados e propósitos somos nós quem atribuímos a algo e que ninguém ainda conseguiu provar, em definitivo, a existência de Deus. E sabem os matemáticos que até mesmo a ciência conta com axiomas: verdades que simplesmente não podem ser provadas, mas são apenas aceitas. Deste ponto de vista de que adianta tentar definir certo ou errado ou atribuir valor a algo? Se tudo é tão puramente abstrato em suas definições que não pode ser definido, então o próprio ser humano e seu pensar se tornam inúteis, assim como a luta eterna para se agarrar a vida e à crença de que ela se estende indefinidamente. Qual a diferença de se praticar o bem ou o mal, ou de se agarrar à vida, se em poucos anos, sequer se lembrará que existiu? Seus trabalhos virarão menos que pó, e de nada adiantou ter aproveitado a vida se, em relação aos infinitos anos de inexistência que nos aguardam, nossa pobre vida não representa nada. Olhando desta perspectiva, Mitchell Heisman e todos os suicidas existentes são sábios por apressarem o inevitável e pularem uma etapa desnecessária na existência do universo. 

Existe, no entanto, uma possibilidade mais aterradora: a existência de Deus. Se este existe, e não há nada acima dele, o que determina os valores, o bem e mal, o certo e errado, o justo e injusto, é apenas sua vontade. Então, estaria todo o destino subordinado à vontade de um único ser? E que autoridade teria este ser para ditar suas ideias? Por que me submeter à elas, o que mudaria se eu não o fizesse? Por fim, se existe algum Deus, a habilidade mais admirável do homem será o poder de contrariá-lo.

Comentários

  1. wow... simplesmente incrível toda a estrutura desse texto!

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