O Espelho

Projeto o mal que há em mim em você. Vejo em ti, tudo aquilo que repudio e não aceito teu defeitos que também os compartilho. Não sou essa fachada de luz, trêmula, escassa. Sei que você me disse que eu era um ser iluminado. Mas, estou longe disso, muito longe. Ter mais entendimento de um assunto não quer dizer necessariamente que me torne perito em algo. Buscar a evolução espiritual não quer dizer que sou um ser evoluído. Não... Não o sou. 

Preciso lidar constantemente com aspectos sombrios de minha alma; aspectos que até pouco tempo atrás, os negava. Se me dói olhar para você, se me sinto  incomodada com suas atitudes, é porque não consigo me encarar por completo. 

Estar nu, na frente do espelho, é olhar para o que há de feio em si e aceitar que ele faz parte da sua pérfida natureza. É saber que nada há de ser por completo, pois existe um constante processo de vir-a-ser e que é provável que a morte nos tenha antes mesmo de sabermos o que nossas mãos poderiam ainda realizar... 

Nesse estranho processo chamado vida, ela me convida a não ficar presa nos preceitos e julgamentos que me separam do encaramento da natureza conflituosa, própria da humanidade que caminha em meus passos. Se existe o outro que ainda me incomoda, ele não é meu inimigo, mas um aliado para que eu mergulhe dentro de mim e aceite que a escuridão é o complemento do Yang.
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