O quanto você está disposto a...?




Ela reclama: "tenho dificuldades para viver de arte". A situação sempre se repete. Passa meses sem vender absolutamente nada, outrora, consegue vender mais que a última estação passada. Vive daquilo que consegue lucrar. Mal dar pra pagar as contas ou mesmo investir na própria habilidade. Pode até parecer um trágico-cômico, pois o quadro nunca muda até a pessoa perceber no ciclo vicioso que está. Contudo, isso não acontece apenas com aqueles que decidiram viver da sua "arte", mas com todos que trabalham seu lado criativo e esperam ganhar dinheiro com ele.  

Dias atrás, ao ler o novo lançamento da autora Elizabeth Gilbert, a Grande Magia (Ed. Companhia das Letras), pude refletir sobre algumas técnicas a respeito de como extrair o melhor do meu potencial artístico e até mesmo, perceber nas situações de frustrações, um lado para explorar minha criatividade. 

Um dos melhores textos abordados foi justamente mencionar o quanto nós, artistas, estamos dispostos a comer o sanduíche de merda que o nosso próprio trabalho produzirá. O termo pode parecer ofensivo, mas ele menciona justamente as pessoas que querem resultados imediatos, esquecendo-se de avaliar as frustrações no caminho que escolheu. Bloqueios criativos, períodos que a inspiração sumiu ou se escondeu em algum canto obscuro do nosso íntimo, são tão inevitáveis como a rotação da Terra. 

Por exemplo:  
Uma pessoa quer ser pintora, mas não quer ver seus quadros sendo criticados. 
Uma pessoa quer ser escritora, quer glória, quer fama, mas não cogita a ideia de ter seu trabalho rejeitado. 
Uma pessoa decidiu que teria um filho, mas quer passar a gravidez livre de enjoos. 
Uma pessoa decidiu que seria advogado, mas não quer estudar o "Vade Mecum" ou investir na compra de livros sobre o assunto.     
Uma pessoa quer ser Yogui, mas não trabalha sua disciplina todos os dias com a meditação. 

Mesmo que você encontre o trabalho que ama, é quase certo que haverá momentos que você irá se deparar com um belo sanduíche de merda. Faz parte. Até mesmo as atividades prazerosas são acompanhada por situações que poderão ser desgostosas. Mas ao se deparar com ele, você está disposto a comê-lo? Sim? Quanto? Mas evite colocar pesos ou idealizações excessivas em cima da sua criatividade. Se a expressão artística é processo individual que se desenvolve totalmente livre dentro de uma pessoa, como ela poderia subordinar sua criatividade ao retorno financeiro?  A pessoa coloca um peso muito grande em cima de sua respectiva arte, como se a própria Arte fosse obrigada a lhe retribuir em dinheiro o fato de você dar vida a ela.

A sua arte não é obrigada a te pagar nada, mas você também não compra ela de graça em qualquer lugar. Vai ter que ralar, arregaçar as mangas e trabalhar duro consigo mesmo, comer alguns sanduíches de estrume, lidar com períodos de seca criativa, frustrações e bloqueios. Mas se você se dedicar, ela te recompensará de outras formas pelo seu esforço! O maior prazer do artista é a sensação experimentada durante o processo criativo e não com o gozo da obra finalizada.

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