As Dimensões do Ódio.




Um maravilhoso livro que pulou das prateleiras para minhas mãos chama-se a Cabala da Inveja. Para confessar, sei pouquíssimas coisas a respeito da Cabala. É vergonhoso, eu sei, saber tão pouco a respeito de algo que está presente em quase todos os estudos esotéricos. Estudar a Cabala Judaica é um dos pontos a serem ressaltados na minha lista de necessidades primordiais pro ano de 2016.

O livro trata de um tema bastante revelador e polêmico. Ele mostra as dimensões do mundo do ódio e suas mais variadas formas de manifestações nas interações sociais que temos durante a vida. Um mal visível que atrapalha cada ser humano no desenvolvimento de suas verdadeiras potencialidades, se expande ao tentar negar o conflito existente nas partes sombrias e rejeitadas de si, que passa a exteriorizar as faltas condizentes em seu íntimo como defeitos originários do próximo. É muito raro encontrar alguém que admita com total sinceridade a dimensão de sua raiva, ódio, inveja. Difícil mesmo é encontrar pessoas dispostas a crescerem com suas falhas e verem nas situações adversas algum aprendizado aproveitoso para o conhecimento de si mesma.

Nilton Bonder, adentra no mundo do ódio de forma dinâmica, trazendo no final de cada capítulo uma reflexão generosa, incitando-nos a pensar no contexto exposto pelos textos e que são vivenciados nos exemplos obtidos no próprio dia-a-dia.

A leitura é proveitosa. E para instigar a sua curiosidade, vai alguns trechos selecionados:

"Os problemas de harmonia e equilíbrio de nosso mundo relacionam-se diretamente com esta questão (a possibilidade de ter a experiência de ser ou sentir). Sociedades mais consumistas são, sem sombra de dúvida, sociedades mais invejosas e mais desejosas de ter." 
"A inveja faz do ser humano um inigualável predador. Não apenas a cobiça e a ambição atuam no sentido da dilapidação dos recursos naturais; a ideologia de ter para que o outro não tenha é também elemento fundamental no estabelecimento de grandes discrepâncias na distribuição destes recursos.  
"Aquele que diz crer e que inveja, na verdade crê em algo ou em alguma justiça que não é absoluta. Provavelmente possui um deus particular, cuja visão de mundo e agenda são personalizadas. Sua manifestação no mundo se dá na confirmação de pequenas vitórias ou conquistas pessoais que os tornam arrogantes e egocentrados. Falam desta maneira de suas estrelas que brilham, que trazem sorte, e expressam regozijo pelo que acreditam ser a concretização de mais uma etapa de um sofisticado cronograma cósmico de realização de seu sucesso pessoal. Ou, no caso contrário, reconhecem em seu revés pessoal apenas um momento pontual de um deus que "escreve certo por linhas tortas", mas que em breve fará conhecer o destino final que confirma suas expectativas de vitória pessoal. " 
"Há quatro disposições na gradação da raiva: 1) naquele que é fácil de provocar-se e também fácil de apaziguar-se, o que há de negativo neutraliza-se com o positivo; 2) naquele que é difícil de ser provocado e também difícil de ser apaziguado, o que há de positivo neutraliza-se com o negativo; 3) aquele que é difícil de ser provocado e fácil de ser apaziguado: este é o sábio; 4) aquele que é facilmente provocado e dificilmente apaziguado: este é o perverso. 

"O orgulho é uma das manifestações mais importantes capazes de armazenar rancor. Dele surgem as justificativas que propiciam a manutenção de muitas de nossas rixas. É bastante comum acharmos que a humildade é o outro extremo do orgulho, quando é, na verdade, uma situação de equilíbrio. O extremo oposto ao orgulho é a falta de autoestima. O humilde nada tem a ver com aquele que não consegue reconhecer e apreciar a si como parte das maravilhas desse mundo. Sua atitude, porém, é distinta daquela do orgulhoso, que é totalmente centrado em si." 
"O orgulho no induz a crença de que estamos "certos" e obstrui a nossa capacidade de relativizar e olhar situações sob diferentes perspectivas, além de nossa opinião ou julgamento já formados."
"Quanto maior a capacidade de vivenciar uma vida interior desvinculada da afirmação de "vitórias pessoais" perante os outros, mais exterioriza-se um comportamento humilde. Quanto maior a dependência externa, mais marcante é a atitude de orgulho."
"Nós já aprendemos que não interessa se uma pessoa faz muito ou pouco, contato que seu coração esteja direcionado aos céus."
 "Rancor é um produto da diferença, ou melhor, da descoberta da diferença."
"Somos condicionados, como seres oriundos da diferenciação, a amar tudo que percebemos como parte de nós ou de nossa essência. Tudo o que amamos poderia ser reduzido a empatias e interesses". 
"Certa vez, um discípulo procurou seu mestre para reclamar que era constantemente alvo de pequenas agressividades e indelicadezas. Protestou intrigado: "Rabi, por que será que para onde quer que eu me vire há sempre alguém pisando no meu pé?". Respondeu o rabino, sem hesitação: "É porque você ocupa tanto espaço que as pessoas não têm outra saída senão pisar nos seus pés!".
 "Para tradição judaica, aquele que fala é como um arqueiro. Joga suas flechas e, uma vez que estas já estejam no ar, não pode mais arrepender-se. Todas as atitudes e consequências geradas são de nossa responsabilidade."
"Os rabinos ensinaram - há quatro tipos de pessoas que ninguém tolera: um pobre que é arrogante; um rico que bajula; um ancião luxurioso e um líder que governa sua comunidade sem causa".
"Há determinados personagens que cada um de nós pode assumir, ou que evocamos em certos momentos ou atitudes de nossas vidas, que são deploráveis aos olhos de todos que possuem um mínimo de bom-senso. Os que adotam tais posturas são identificados como os "inimigos públicos" de uma sociedade. Há um consenso de que eles ferem a sensibilidade estética da dignidade humana. Estar em uma posição de inimigo público é ser flagrado em atitudes que revelam não as fraquezas humanas, mas a dificuldade de lidar com elas. Expressam formas de ridículo a que pode um ser humano chegar, demonstrando, acima de tudo, o quanto se deixou de aprender da vida e de sua condição."
"Impressionante é a capacidade que pessoas complementares, ou pessoas que se admiram muito e precisam uma da outra, têm de iniciar processos de brigas. Entre amigos que acreditam doar-se muito um ao outro, o senso de traição e ingratidão é intolerável. "
 "Quem entra em conflito acalenta em seu ser mais profundo a ideia de que vencerá. Ninguém brigaria se acreditasse que fosse perder a briga. Esta teologia da vitória, por meio da qual se crê que se vá conseguir provar ao outro que se estava certo  e que o outro acabará por implorar seu perdão, é o que mantém rixas vivas."
O livro é facilmente encontrado nas principais livrarias do país e está disponível em vendas onlines na Saraiva e Submarino.


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