Menina boazinha...



Quando mais nova, tinha a síndrome do "salvador". Achava que sabia exatamente o que todos precisavam, dava conselhos imbuídos de "alto-ajuda". Sacrificava o saciamento de minhas necessidades pessoais para satisfazer o próximo.  Eu adorava esta imagem que apresentava aos outros: a moça boazinha que falava de amor ao próximo, que escrevia textos inspirados na cura através do perdão. Até que um dia, esta imagem desmoronou e a moça boazinha revelou seus ressentimentos. Suas feridas emocionais fediam; seu coração não estava totalmente aberto para o perdão. Havia raiva e frustração nela; havia também autopiedade e vitimismo; e suas explosões emocionais quase sempre colocavam tudo que ela tinha a perder...

Hoje, essa garota boazinha não existe mais. A bondade, ao meu ver, são para os justos e corretos de espírito. Uma qualidade moral sobre-humana que dificilmente é exercida nesta sociedade. Quando presenciamos atos genuínos de bondade, somos tomados por esta força tão vivenciada por Cristo. Todavia, deixei de lado este estigma de querer ser a todo tempo alguém "bom". Não tenho intenção de ser como Cristo e nem como indivíduos que viveram suas vidas de modo missionário. Não é minha intenção.  Eu também não tenho este chamado dentro de mim. Tudo o que quero por ora é ser humano e aceitar minha natureza apaixonada e mortal. Não tem problema nisso. Acho que estou no meu melhor momento, aceitando-me como sou, com meus limites e minhas confrontações. E por isso, não me cobro a ser quem não sou e a fazer o que não quero. Só faço o que dou conta e ainda que aos olhos alheios isto signifique "limitação ou pobreza de espírito", continuo fazendo o que posso fazer.

O momento atual me faz pensar que também posso ajudar sem me colocar num pedestal de "salvador". E isso não me obriga a amar o indivíduo que sirvo esta "ajuda". Não mesmo. O Amor nunca deve ser um ato de obrigação à alguém. E ainda que a raiva por seu passado me cegue em alguns momentos; eu tenho consciência de que aquilo que faço por ele é o que dou conta de fazer. Mas...
Se o que eu faço, tiver um pouquinho de amor e misericórdia, talvez minha alma não ande pelo limbo quando eu me for. Talvez, Deus não me puna por não ter aprendido a amar quem me rejeitou. Talvez, o Universo considere estes pequenos atos para não deixar que minha alma se perca. Talvez. Mas uma coisa é certa, eu não nasci para ser "salvador".   

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