Eu sei o que ele está sentindo. Nos poucos momentos de lucidez, sua mente se indaga o tempo todo: "o que estou fazendo aqui?". Ele não entende como sua vida se tornou tão limitada, tão impotente e previsível. Ele não compreende porque seu direito de ir e vir estão designados aos outros decidirem. Ele não entende como sua liberdade de outros tempos construiu sua prisão de agora. A realidade dele está difícil, eu sei, porque ao me colocar em seu lugar, tenho certeza que enlouqueceria.
Mas o Universo está dando a ele a oportunidade de viver o restante de sua vida sem ter consciência de quem foi e quem é. Esquecer os erros que cometeu em vida é melhor do que viver arrependido sem a chance de repará-los. Ainda bem que o esquecimento está sendo seu remédio. Ainda bem que seus sentidos estão sendo anestesiados e que ele não lembra o homem ordinário que foi. Quando a morte vier buscá-lo, ele não reconhecerá sua imagem no espelho e toda podridão de seu passado será enterrado junto com ele.
E ao morrer, ele continuará sendo apenas um homem que passou pela terra e não usou sabiamente seu tempo. Ainda bem que ele também está se esquecendo disso. Melhor assim.
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