Querida Aflição [Astrologia]




A maioria das pessoas que me procuram para que eu faça a leitura de seus mapas e para terapia estão dispostas a crescer. Se não têm motivos para isso quando chegam, certamente têm algum quando saem, mudando e crescendo sob trânsitos difíceis. A astrologia as ajuda a vencer os obstáculos mostrando-lhes a parede contra a qual estiverem batendo a cabeça e apontando-lhes um caminho. Contudo, uma verdade que me foi difícil de engolir, durante os anos de amadurecimento, foi que certas pessoas não melhoram sob o impacto de trânsitos de "transformação". Uma alternativa, nesse caso, é manter o padrão e até mesmo intensificá-lo. Você pode se recusar a crescer, continuar a jogar a culpa nos outros, cultivar a dor. Algumas pessoas jamais melhoram, tampouco o desejam. E aliás, à revelia de todos os meus esforços como astróloga-terapeuta-professora, pioram. Para uma jupiteriana ferrenha como eu, isso é inteiramente incompreensivo.

Uma das poucas respostas a esse enigma está no que chamo de "a querida aflição". Muitas pessoas são apaixonadas por seus problemas. Se você observar suas faces enquanto falam, observará uma espécie de auto-satisfação, quase orgulho. Repare em particular no sorriso afetado quando você sugere alguma coisa. Dirão que já tentaram aquilo e não deu certo ou apresentam a desculpa perfeita. (Te peguei!) O problema se tornou uma parte de seu autoconceito. Quando uma pessoa desse tipo fala de meu medo dos homens, minha terrível situação de trabalho, minha úlcera, percebemos que essas são as dificuldades que as definem, tornando-as pessoas mais dignas de atenção e as qualificam para receber mais consideração e cuidados. A dor que faz com que elas se sintam vivas, dá sentido a suas vidas. Naturalmente, não vão lhe agradecer se você apontar uma saída. Recorrem a todas as armas de seu arsenal para não melhorar. Esses benefícios colaterais, que os terapeutas chamam de "ganho secundário", dificultam o abandono do sintoma doloroso para dar lugar a alguma coisa potencialmente boa. 

Não posso é a maior defesa; isso significa que sequer considerarão a possibilidade de experimentar. Talvez tenha tentado uma vez, há algum tempo, com "um pé atrás" (ou até mesmo sem reservas), e não tiveram sucesso. A partir daí, e pelo resto de suas vidas, não devem tentar de novo, porque não podem. 

Não poder é uma expressão das mais limitadoras e deformadoras da existência. Se disser não farei, você ficará mais perto da verdade. Por exemplo, não consigo dançar e nunca consegui, mas a verdade é que não farei isso. Se eu for disciplinado e tiver aulas, posso me tornar um dançarino passável mas não vou me dar o trabalho, de modo que, por enquanto, não vou dançar. Antes de me dar conta de que eu poderia se quisesse, isso teria, porém, repercussão na minha noção de valor pessoal. Eu me considerava desastrada, socialmente desajustada e perfeita para tomar chá de cadeira. Se existem coisas que você acha que não pode fazer a probabilidade é que isso resulte num complexo total de idéias de autodepreciação. Procure encarar a questão como uma coisa que você não vai fazer e observe o que acontece como consequência de sua atitude. 

No que tange à habilidade para apresentar desculpas, os indivíduos astrologicamente sofisticados são os piores, pois falam das dificuldades de seus mapas de uma maneira muito convincente: "minha quadratura Marte/Saturno me dá tanto trabalho com os homens!" "Meu Saturno na segunda significa que eu jamais terei dinheiro." Só se comparam aos psicologicamente sofisticados, que se refém com desembaraço a "meu Édipo", "minha fobia". Esses, pelo menos, têm fé de que, após quinze anos de análise, ou num fim de semana com o grupo de encontro certo, ficarão curados. Já os especialistas em astrologia não têm a mesma dimensão: "Com saturno na sétima, meu carma é não me casar nesta vida". A astrologia fatalista é um álibi fantástico para menosprezar o que você mesmo fez para criar seus próprios problemas. Afinal de contas, tendo saturno como bode expiatório, o que mais se pode fazer?

Se você olhar para si mesmo com honestidade, verá que está grudado em seu problema como um carrapato. Não apaixonado por ele, claro, como todo mundo, mas como está apegado a ele" Será que ele faz parte de seu autoconceito? Faz você se sentir um pouquinho mais importante ou interessante? Você pode escolher entre confrontar o problema e trabalhar para resolvê-lo, ou continuar acarinhando-o e cultivando a sua manutenção. Seja qual for o rumo que você tomar, lembre-se de que você não é seu problema. Você não é saturno na sétima casa, você não é Netuno em trânsito pelo sol natal. Você pode ser uraniano, mas Urano não é você. Seu Eu Superior é maior do que tudo isso. Essa coisa dolorosa que você pratica no nível de personalidade não é você como entidade espiritual. Se estiver disposto a trabalhar, pode melhorar.


Donna Cunningham - Astrologia e Desenvolvimento Espiritual. Editora Agora. 















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