Por que você acredita em Deus?




- Por que você acredita em Deus? – Perguntou o professor àquela classe.

As respostas da turma saiam de forma desengonçada, o que para mim era compreensível, pois justificar a crença em algo superior à nossa existência dificilmente poderia ser respondido com meras palavras. Afinal, nossa crença na existência de Deus é algo totalmente individual e inerente a natureza do ser humano. São as experiências que temos que solidificam a nossa fé.

Mas aquele professor, que se declarava ateísta, desconsiderava a importância da fé em Deus e a relação com o Ser Humano na sua construção histórica e cultural. Ria ao se deparar com as razões que levavam cada pessoa a professar sua própria fé. Indagava a subjetividade alheia pela sua visão lógica quando ouvia as respostas individuais que entravam em conflito com seu pensamento ateísta. 

Diante a pergunta, meu primeiro pensamento foi: “porque a crença em algo superior é inerente a natureza do homem”. Isto é. Eu não preciso acreditar. Eu sei. 

Dissertem comigo.

Desde os primórdios da humanidade, a relação entre o ser humano e a Divindade esteve presente em todas as culturas e os povos. As mitologias locais (egípcia, nórdica, grega, romana, chinesa, japonesa) assim como os ritos tribais (africanos, indígenas) buscavam uma compreensão a cerca dos fenômenos naturais que julgavam ser as forças superiores que regiam os céus, a terra, o Universo. Todos os mitos, sem exceção, procuravam encontrar respostas para os conflitos humanos através de suas figurações simbólicas como também cultuar a divindade sob os sentimentos de respeito ou temor. 

A crença em algo superior não é um contexto atual, mas antigo e diz respeito a construção da história do Homem desde que ele passou a ter consciência da sua existência e questionar o seu propósito de vida.

A palavra "religare" permanece com seu sentido intacto e o seu significado continua o mesmo: buscar a união com a Divindade, Força Superior, Consciência Suprema ou Deus. As religiões que nasceram a partir disso, buscaram apenas formas para institucionalizar, dogmatizar e estabelecer regras de condutas que poderiam ajudar o Homem a se aproximar de Deus. 

É verdade que não podemos fechar os olhos para os abusos e as atrocidades que são cometidas pelos homens através da fachada “religião”. Mas é interessante mencionar que a religiosidade não significa necessariamente ter espiritualidade. Uma pessoa pode ter fé e preferir não adotar uma ideologia religiosa. Uma pessoa também pode ser convicta dentro da sua religião e desconhecer a verdadeira fé que não se veste pelo fanatismo, mas a compaixão.



É engraçado ver ateus negando a existência de “Deus” tão fervorosamente como os religiosos extremistas que buscam impor suas crenças como “verdade única e inabalável”. A racionalidade ateísta sobrepuja àqueles que acreditam em algo Superior a existência. Engraçado também, que muitos desconhecem que a Ciência e a Religião andavam de mãos dadas até a Era do Iluminismo. Muitos matemáticos, físicos, filósofos, astrônomos, buscavam explicar através de seus estudos científicos a existência humana e sua ligação com o Universo/Deus. Sem comentar que vários desses gênios da humanidade eram iniciados em ordens herméticas e ocultistas... A negação da força superior não é de agora e tampouco é privilégio dos ateus "dawkianos". Um exemplo disso são os estudos astrológicos que eram usufruídos pela religião cristã e hoje, são totalmente negados pelo próprio cristianismo e a ciência, que rotula a Astrologia como algo meramente supersticioso. Exemplo histórico? Pegue arquitetura de algumas catedrais mais antigas e estude seus símbolos. Verá como a contradição é própria do ser humano. 

Outro ponto para se refletir. Sabemos que existem forças que atuam no nosso meio e que são invisíveis: magnetismo, a energia, raios ultravioletas e por aí vai. Não as vemos, mas possuímos aparelhos que possam medir-las e mensurá-las. Mas será que correlacionar apenas ao sentido do "não ver", exclui a existência delas? Nesse momento, ondas eletromagnéticas passam por você e se tiver o aparelho certo para captá-las, poderá ligar a televisão para assistir algo ou mesmo ouvir um programa de radio. Mas você não "ver" essas ondas magnéticas passando por ti. Você sabe que elas existem, mas não as ver e por não conseguir enxergá-las suas existências não são excluídas! 

A negação, isto é, o ato de ignorar algo não exclui sua existência. 
"Negar" a existência de Deus não exclui sua existência no Universo. 

Sob essa análise, faço a mesma pergunta que o professor fez outrora: "Por que você acredita em Deus?" 

E com os pensamentos teorizando o porque, paro um minuto para olhar a imensidão daquele céu azul e repenso que apesar de não vermos as Estrelas, sabemos que elas estão lá. Deixo que o próprio silêncio responda que a natureza divina está no cerne de cada indivíduo e que as verdades do mundo são apenas máscaras de vaidade. E que não são os barulhos e zumbidos da descrença que serão capazes de desconstruir um ato de humanidade: a fé.


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