Descendentes de Caim




O sangue de um inocente fora derramado naquele dia. Seu rosto estava pálido diante ao fato. Suas mãos estavam trêmulas. Seu olhar estava assustado. Uma explosão de sentimentos negativos eclodiu de si e ele não sabia se sentia ódio, se sentia raiva, se sentia nojo, se sentia remorso. Contudo, descartou-se ligeiramente a ideia de remorso ao saber que o ato, ainda que motivado pelo impulso, pois fim naquele indivíduo que nascera do mesmo pai.

A  piedade para com o ocorrido não cabia dentro dele, mas ele sentia por si uma compaixão monstruosa. A que ponto as coisas tinham chegado para que tudo culminasse neste fim? Foi o ódio que se espreitou na própria sombra que observava realizações alheias, desejando ardentemente que estas fossem suas? Foi a inveja que sentira pelo sucesso do outro que o afundava cada vez mais em seus fracassos? O que fizera para atrair tamanha hostilidade do destino a ponto de não reconhecer em si mesmo uma parte da centelha divina? A inveja por não ser aquele que recebia elogios pelo seu esforço; o rancor que nutria todas as vezes que Desagradava o Criador; o levaram a despertar o MAL que já dormia dentro de si. O primeiro ato de maldade cometido a um ser benevolente fez com que esta maldade se alastrasse pelos quatro cantos do mundo. O homem viu a face do mal quando olhou no espelho refletido pelo seu semelhante e não o reconheceu como seu irmão. 

Os indivíduos que reconheceram os pecados de seus antepassados e aceitaram que o mal faz parte da natureza humana tão reconhecida em Caim e em seus atos; lutam para modificá-la, para não perpetua-la, para não torná-la uma tradição nefasta e desonrosa. A natureza humana, ainda que complexa e facilmente direcionável à autodestruição, traz em sua essência a imagem e a semelhança do Criador. 

Ainda que o Mal persiste e teime em nos destruir; o Bem impulsiona a humanidade a reconhecer suas falhas e a motiva a se esforçar para mudar seu próprio impulso a destrutividade. O bem estimula o lado divino da criação, ensinando que a realidade, independentemente de sua dureza e por ora inflexibilidade, pode ser construída de um modo que não ouse a destruir os nossos esforços para se tornar alguém melhor a cada dia.  

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