Alpendres Desenrolados



   Fotografias que saíam dos rolos de filme, 35mm, geralmente, eram comuns. 35 minutos a 1 hora. Um dia talvez. E nunca era rolo, era deixar desenrolar e revelar algo. Nas mãos, recebíamos um pacote lacrado, um presente. Hoje essas fotos reveladas estão nas caixas e continuam revelando. O eterno ternamente mostrado para o nosso curto tempo.

   Em várias dessas fotos, estão os alpendres em desuso. E assim as câmeras analógicas. Alpendre era aquela parte livre da frente das casas antigas, com cadeiras, redes e pessoas. Tiravam-se terreno da sala para dar lugar ao terreno da rua, do mundo.

   Quanto às câmeras, quando já gastas a parte do rolo reservada para poses meticulosamente ensaiadas, ou seja, fotos para aniversário, casamento etc., gastava-se, livre e espontaneamente, o final do rolo. Haviam aquelas cerimônias que hoje são sagradas: sentar-se em frente de casa com a família curtindo o ócio. Aí que era a verdadeira festa. As fotos mais engraçadas e naturais, nas quais as pessoas de todas as idades da família, de fora e agregados, claro, não se levantavam para posar nem nada. Estar no alpendre era sinônimo de liberdade exposta. Era abrir sua casa com você e tudo dentro.



   Alpendres e fotografias reveladas continuam lá ao contrário do que pensamos. O que pensamos que hoje temos nas mãos - todas as conversas, os grupos, as fotos, as pessoas até -, não estão de fato presentes. O curioso é que talvez o presente, aquele especial que envolvia a vida, esteja no passado.

   Na verdade, ainda fotografar enche as coisas do presente independente do quanto mudamos. Viver também. Paralisa o momento, mas não a mim. Fragmento do espaço suspenso que podemos contemplar. O eterno presente.




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