Cena Um



Ele chega, acompanhado. Ela senta ao seu lado. Logo atrás, havia uma paisagem simbolizando o ápice do capitalismo natalino. Intimidade não era visível, mas eram supostamente casados. O garçom se aproxima, trazendo o cardápio, ele escolhe e ela apenas concorda. Sem rituais ou cerimônias, um dos parceiros pega um celular, aqueles da última geração e começa a mexer no aparelho, entusiasmado. O outro, procura com o olhar algo que lhe tire da atmosfera entediante instalada. Por um breve momento, não há conversações, apenas silêncio entre o acompanhante e o acompanhado. Em frente, observando, perguntava-me, cadê o brilho nos olhos daquele casal? O distanciamento interno entre eles eram tão visível, que até mesmo um aparelho eletrônico era mais interessante que o parceiro ao lado. 

         A relação havia esfriado, já não existia o brilho nos olhos e a relação poderia ter sido mantida apenas por conveniência ou acomodação. A magia do relacionamento se perdeu, já não existia o friozinho na barriga da primeira vez. Nada parecia novo. Os sonhos haviam sido enterrados pela presunção de achar que já se conhecia tudo sobre a pessoa ao lado. Lá estavam os dois, diante aos velhos hábitos e velhas opiniões. Nos olhos dele, a mulher por quem se apaixonou não existia, apenas uma fotografia relembrava nostalgicamente seu tempo de juventude. A paixão esfriou... O carinho foi esquecido e o Amor se apagou antes mesmo de se acender. Nos olhos dela, a incerteza. Aprendeu que a vida não abre espaço para suas idealizações e que você paga um preço muito alto para seguir seus sonhos. Quem escolhe o caminho da liberdade, tem que lidar com a sombra da solidão e auto aprisionamento. Mas ela tinha medo, medo de arriscar, medo de escrever novas linhas, pois precisava da segurança. Seus sonhos foram aprisionados no pretérito mais que perfeito...


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