O Entardecer






O que resta de mim enquanto vejo o esvanecer do céu alaranjado? O entardecer deveria levar consigo minha miserável visão de mundo, enterrando de vez todas as desculpas que tenho dado para não encarar meus medos, minha hipocrisia, o meu preconceito. Todas as noites, as sombras me rodeiam, me questionam, zombam de mim, riem de meus tropeços e jogam na minha cara o quão arrogante tenho sido estes anos todos. 

Como é olhar no espelho sabendo que o espelho também reflete o que não vejo? Agora vejo as mentiras que tenho contado a mim mesma na vã tentativa de amenizar a dor de não viver um sonho. Corro num labirinto de incertezas, presa em um trono de mentiras com uma coroa de espinhos. Minhas vistas distorcem a realidade para evitar encarar o mundo como ele é: cruel com sonhadores. E neste pérfido entardecer, nada resta se não aceitar que também sou cruel, ordinária, miserável e muito, muito humana. Tantas culpas a condição humana carrega que não tenho vergonha de acrescentar outras. 

Neste breve entardecer da alma, a noite se desenha no céu sem estrelas. A sombra da lua é vista como um fino risco, um poder adormecido a ser conhecido, mas que por ora não tenho acesso. Nesta escuridão de sentidos, deveria recomeçar o caminho para dentro a fim de encontrar nem que seja uma fagulha de luz. Por mais pequena que seja esta luz, ela será mais que o suficiente para mim.  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Estrela + 9 de Espadas

Gita e os 22 arcanos do Tarô

Tarô - Uma expansão da Mente, Coração e Alma! [parte 2]