O Grande Culpado

     Passei a saber, que você escreveu um diário. Sem que você soubesse folheei por curiosidade e encontrei este acontecimento que penso que deve ser publicado para que todos que tenham visão vejam. Existe a história privada, os acontecimentos que nos afetam sem o cuidado de levarem assinatura. A história anônima, secreta em oposição a história nomeada, conhecida, inventada. Mas você não tem o direito de manter escondido este acontecimento. Peço que me perdoe, apesar de não ter arrependimento. Jesus Cristo disse que não se pode esconder uma cidade edificada atrás de uma montanha, por maior que seja, ou achar que é possível esconder a luz de uma vela por maior que as trevas e o tamanho que elas ocupam no recinto. Ele disse ainda novas palavras de Deus em todos os continentes e universos paralelos, universalizando os universos regionais no amor. Ele disse: “Se todos nós pudéssemos dar ao amor um novo nome e conseguíssemos fazer deste nome o nome de todos, todos perceberiam tornar-se um só com Deus e o Universo Absoluto, como na verdade realmente assim é”.

     Bom, nada mais tenho a fazer a não ser entregar a cópia desta parte de teu diário sob juramento de que é a reprodução fidedigna e sem alteração. Que as conseqüências da inverdade caiam sobre aqueles que retirarem ou acrescentarem uma só palavra a este registro, seja ao fazer novas cópias ou ao reproduzir oralmente.
     Não quero que com essa exortação aqueles que se comprazem de levar a verdade adiante se sintam intimidados. Vão em paz, pés santos e formosos anunciar as boas novas. Eu vos abençôo.

     Tal como vi
     Assim escrevi:

     “Eu passei a saber da existência de um grande sábio. Não era um versado em erudições das mais importantes literaturas religiosas, esotéricas e espirituais. Era um homem versado na essência delas, na essência dos grandes ensinamentos e dos grandes mestres espirituais e das divindades. (minério, planta, animais, homem, energia, divindade, absoluto. Tal é o ciclo do ser como eu entendia). Ou seja um grande sábio do amor. Diria da espiritualidade também, mas se eu apenas disser que é do amor não estarei omitindo nada.
     Depois de saber onde exatamente ele estava localizado, comecei a fazer meu planejamento afim de estar na hora e no local certo para encontrá-lo. Além disso tive que escolher atalhos para que estivesse na poesia, no ritmo e na dimensão espiritual onde eu de fato poderia ter um encontro de verdade com esse sábio.
     Bom sem preocupar-me muito com o “além do necessário” (não foi fácil alcançar essa despreocupação, pergunte-me isso depois) arrumei então o meio de transporte e parti para vê-lo. No plano astral encontrei ele na Cidade de I.... Depois de meditar no monte de onde dava para ver quase toda a cidade fui ter com ele. Conversamos por um bom tempo, mas me lembro vagarosamente das palavras apesar de saber quase plenamente do que comunicamos. Foi algo em torno de onde localiza-se o mal e como ele atua nas pessoas e como a confiança no legado de sabedoria que recebemos pode nos apontar para o fortalecimento e a purificação.
     Quando enfim cheguei em (...), iria começar minha peregrinação espiritual e começar a minha caminhada pelos atalhos.
     Há algo interessante que tomei nota. Assim como a Viagem, o Caminho nos ensina muito. Estes costumam ensinar mais que o destino. Nós atravessamos quilômetros e paisagens e o que vimos nela comunicamos aos nossos amigos. Mas eu prefiro falar de quantas vezes meu coração mudou, quantos sonhos e quimeras me atravessaram a mente, quantos devaneios tive sobre o que eu esperava de lá e quantos devaneios tive lá e depois de sair de lá, quanto que cada viagem tem de especial e de universal. A Viagem é produto do espírito e do movimento. Se não tem participação do espírito é deslocamento. Se não tem participação do deslocamento é o mesmo que a alma orar sem ritual. Da mesma forma que Ser Pai é um papel além de progenitor. A Viagem é a verdadeira, Fé com Obras como diz a Bíblia. Você pode realizar uma viagem da sua casa a Padaria. Bem como efetuar mero deslocamento dando a volta ao mundo.  Estamos combinados? Eu particularmente nunca fiz a volta ao mundo, mas viajo pelo universo, pelas estrelas, pelo sistema solar. Bom, com isso denuncio-me não muito provido de recursos materiais por aparentar sobrar em recursos espirituais. Bom, mas voltando a viagem...
     O atalho consistia em atravessar o deserto e subir a montanha. Assim fiz e dei de cara com o sábio meditando.
     Então me aproximei e antes que abrisse minha boca ele me interrompeu com a autoridade inquestionável de um suave movimento de mão convidando-me a contemplar o silêncio e observar a paisagem. Assim fiz por horas...
     Quando a inquietude tomou conta de mim ele abriu seus olhos e me olhou. Então descarreguei desde este momento meu coração e comecei a perguntar.

- Qual a origem do mal?
- Qual a origem do mal?
- A origem do mal não estaria no governo, no estrangeiro, na sociedade, na religião, na falta de religião, na religião falsa, na política, na falta de política ou na ausência de falsa política...
- O mal está na falta de amor e a solução dele no amor. O resto é história.
- Oh! Mestre! Vim de tão longe, de tantas mudanças de coração e de reflexão...
- Não precisaria vir de tão longe para entender isso. Você vem de caminhos complexos, mas isso não significa necessariamente, que isso faça um pensamento profundo. Dar piruetas no ar impressiona. Mas caminhar com objetividade é o que te faz chegar onde queres. Nem precisarias sequer conhecer-me, se conseguisses reconhecer e aceitar a realidade que te move e que ainda você não consegue satisfazer-se com ela, por colocar teus sonhos paralelos a ela. Assim ora vive a realidade, ora vive o sonho. A plenitude da realidade e do sonho se dá quando entendes os caminhos numa só direção em que essas duas retas são concordantes e coincidentes.
- Qual é o caminho?
- O amor.
- Como saberei quando começar?
- Começando a amar.
- Mas...
- Veja só esta montanha. Observe a composição química dela. Na vida que há nela. Nas forças que atuam sobre ela. Na verdade separamos cada parte dela para facilitarmos o estudo de nosso entendimento limitado.  Cada verdade que recebemos ao observar cada aspecto da montanha parecem ser maior na pluralidade do que na singularidade. Mas a montanha em todos os seus aspectos é apenas uma só verdade. Fragmentar a montanha facilitaria deslocarmo-la, mas é no seu absoluto que mantém sua identidade. Semelhantemente assim são os grandes valores e na simplicidade deles é que se obtém a grandeza. Eu poderia fazer grandes discursos cheios de erudição para você e você me daria por sábio. Mas se eu dou como resposta o amor, você pensa de mim que sou louco, tolo ou ralo de entendimento. No entanto o que melhora o mundo em todo momento é a simples idéia do amor, enqüanto os grandes discursos repletos de erudição não faz tantos feitos. Não me faça fragmentar a montanha. Não fragmente a montanha. A montanha e o amor são grandes na unidade e não na divisão. Entender que a simplicidade é a que faz os grandes feitos e que a complexidade falsa os esconde será o teu princípio de aumento de sabedoria.
     A partir daí mergulhamos juntos no silêncio e assim foi que me iniciei no caminho da sabedoria. Depois disso voltei (se é que sairei de lá algum dia) para casa e encerrei minha viagem. (Quem é o culpado? Quem é o culpado? Eternidades de silêncio e meditação para ignorar: Você)”.

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