A Grande Mãe do Século XXI



Há milhares de anos a mulher vem construindo um papel essencial para o desenvolvimento da humanidade. Cada mulher traz o arquétipo da Grande Mãe em seu inconsciente.

Segundo Jung, todo conteúdo psíquico não é de origem individual, mas coletivo. Rompendo com a noção de que tanto a mente consciente como a inconsciente eram originárias da experiência, Jung demonstrou que a evolução e a hereditariedade determinam a linha de ação da psique, assim como o fazem com o corpo físico. A mente, através de seu mediador, o cérebro, herda as características que determinam de que forma uma pessoa reagirá às experiências de vida, configurando-a previamente pela evolução. O homem está ligado ao seu passado pessoal, ao passado de sua espécie e à longa cadeia da evolução orgânica.

O Inconsciente coletivo é o depósito das “imagens primordiais”, que se referem ao primeiro, ao mais primitivo desenvolvimento da psique.

 Herdamos essas imagens do passado ancestral, que inclui os nossos antecessores humanos, pré-humanos e animais. São predisposições ou potencialidades no experimentar e no responder ao mundo tal como os nossos antepassados.

Os conteúdos do inconsciente coletivo ativam padrões pré-formados de comportamento pessoal, que a pessoa seguirá desde o seu nascimento.

Um exemplo: Temos no inconsciente coletivo uma “imagem primordial” de “mãe”. Esta imagem expressar-se-á assim que o bebê tiver a percepção de sua mãe verdadeira, e a ela reagir. A imagem de “mãe” que está no inconsciente coletivo é a responsável pela nossa fácil identificação da figura materna e como reagimos a ela.

A simbologia da Grande Mãe é encontrada nas mais diversas referências culturais. Os gregos, por exemplo, acreditavam que a titânia Gaia era a Terra e gerou todas as outras formas diversas de vida do planeta. Dando uma volta no mito e contando de forma resumida, Gaia uniu-se a Uranos (caos) e de sua união surgiram os Titãs, Ciclopes e os hecatônquiros. Mas, insatisfeita com a tirania de seu parceiro, solicitou que seu filho Cronos aprisionasse seu pai e libertasse seus outros irmãos titãs tão poderosíssimos quanto ele. Temendo a forma como seu filho agia intolerante e tirano como Uranos, Gaia solicitou a Zeus, filho de Cronos a aprisionar seu pai também oferecendo como recompensa o domínio sobre o mundo.

Temos que levar em conta que a função do mito é explicativa. A estruturação básica dessa explicação é de promover um relato a respeito de algo no mundo, mostrando sua origem. O princípio não é o regente, mas a origem acontece por intermédio da paternidade e maternidade divinas, que envolve a participação dos deuses e entidades similares no âmbito do mundo dos mortais.

Gaia representa o papel da Nutridora, que gera e dá a vida, e determina o tempo de vida que um indivíduo terá enquanto estiver no seu controle ou sob suas terras. A analogia é feita sobre o papel de sustentabilidade que a mulher adquiriu ao longo desses anos, tornando-se indispensável para a humanidade. 




Outra forma de se referir ao arquétipo da Grande Mãe é mencionar a Virgem Maria, mãe de Jesus. Mesmo diante a tantos desafios, a Virgem, nunca deixou de lado suas responsabilidades como mãe ou como mulher. No momento de sua concepção com o divino, Maria sabia que carregaria em seu ventre “Aquele que salvaria a humanidade”. Compreendemos que o termo “salvar” é metafórico. Cristo veio nos entregar sua palavra de Amor através de seus ensinamentos e esperava que estes fossem espalhados aos ventos para que assim atingisse o maior número de pessoas.

Maria era uma mulher comum até o momento da concepção, que cumpria suas responsabilidades e diante ao desafio de ser mãe aceitou sem hesitar. Por ter vivenciado a experiência da perda de um filho, entendeu perfeitamente o significado que aquele propósito era muito maior do que se imaginava. Entregou se totalmente na sua missão de desenvolver o amor incondicional por todos os seres humanos após passar pela “perda” de um filho. Por ter amado e sofrido, ela nos libertou da dor, assim como Jesus nos libertou do pecado. O pecado refere-se ao estado de ignorância do ser humano. Tudo o que Ele fez, foi mostrar que o Bem, a Verdade e a prática do Amor devem prevalecer no coração do homem virtuoso.


“... Maria inicia uma nova Era de Graça. Ali começa uma nova etapa. Ela é a noiva cósmica, e se deixa fertilizar. Neste momento, graças a sua coragem de aceitar o próprio destino, ela permite que Deus venha a Terra e transforma na Grande Mãe.” – Paulo Coelho, Nas margens do rio piedra eu sentei e chorei. Pág. 71.




Tanto o Homem, quanto a Mulher, possui papéis bem distintos dentro de uma sociedade. A mulher, desde os tempos primitivos, desenvolvia atividades manuais, cuidava da prole e do lar, desenvolvendo sua percepção para os detalhes e a intuição característicos do aspecto feminino. Enquanto o homem era encarregado de trazer o suprimento e manter a segurança de sua família devido aos seus aspectos físicos, aprendendo a desenvolver o instinto de proteção e o dever característicos do aspecto masculino.

Os relacionamentos foram se desenvolvendo e com o passar dos séculos, ambas as partes acabaram não compreendendo e distorcendo seus papéis. A mulher, por representar o ser mais fraco comparada com a força bruta de um homem, teve seus direitos renegados constantemente nos momentos da construção de nossa história.

O cenário é desolador, pois existem mulheres que ainda sofrem abusos, são repreendidas, humilhadas e totalmente submissas as vontades dos homens. O descaso contra seus direitos é decorrente, muitas vezes, do aspecto cultural e ético de cada país.

Na áfrica e em muitos países do oriente médio, por exemplo, segue-se uma tradição milenar dolorosa em que a mulher é obrigada no início da puberdade a retirar seu clitóris. O nome desta prática chama-se mutilação genital feminina. O objetivo é ausentar o prazer no ato sexual. A prática acontece silenciosamente e recentemente a Guiné Bissau aprovou em 2011 uma lei proibindo e criminalizando tais atos. Os direitos humanos esperam que os países que ainda cometem esses abusos parem imediatamente, mas como se interferir na cultura de um país? Como mudar uma tradição milenar? Quem há de dizer o que é certo e errado, sob a ótica que cada país possui seus respectivos valores? A submissão da mulher existe independente dos “manifestos femininos” estarem ocorrendo em nosso país ou não.


A independência que a mulher possui hoje em alguns países é graças aos movimentos feministas realizados contra esses abusos. Podemos finalmente sair das atitudes passivas de nossas antepassadas, que sofriam os maus tratos caladas e ganhar uma dimensão mais ativa.

As mulheres já deram um longo passo na busca pelos direitos iguais. Isto pode ser observando naquelas que tomam frente em empregos que antes eram ocupados apenas por homens, fato este que está se tornando cada vez mais comum. Elas lutam dignamente em busca de reconhecimento, e em muitos casos superam na competição constante com os homens. Todavia, o que toda mulher não percebe é que o arquétipo da Grande Mãe manifesta-se silenciosamente em seu inconsciente.

A mulher procura competir no mesmo ambiente que o homem, mas não percebe que essa competição ressalta o desejo embutido de reconhecimento e respeito por parte deles. Até porque durante muitos anos, a mulher sempre foi destratada, desmerecida e sendo vista apenas como um objeto de satisfação para as vontades dos homens e para a procriação.

O desejo por trás de manifestos feministas com certo gosto de radicalismo é romper a imagem estereotipada em torno da imagem que muitos homens têm da mulher, além de quebrar com esses paradigmas sustentados pelo machismo.



A Grande Mãe do Século XXI merece que seus direitos sejam respeitados, mas não deve se esquecer que as suas responsabilidades continuaram distintas as dos homens. Cada mulher possui a Energia Universal Feminina e é inerente da sua natureza, pois uma das missões mais sublimes é lhe concedida pelo Universo.

O papel da Grande Mãe não é substituir o serviço de empregada, mas de cuidar, proteger e educar aqueles que estão sob suas responsabilidades. As primeiras noções de moralidade devem ser transmitidas pelos pais para as crianças. A educação começa em casa e não nas escolas. É sob o teto familiar que a oportunidade para nossa evolução nos é concedida. Encontramos antigos laços afetivos no seio da maternidade e caminhamos na trilha rumo ao amor incondicional. A Grande Mãe é aquele que concebe, gesta, dá a vida, nutre e se entrega totalmente as graças do Amor, cumprindo assim, suas obrigações perante a Justiça Divina.    

“... Nascemos exatamente no lar que precisamos, vestimos o corpo físico que merecemos, temos os recursos financeiros coerentes com as nossas necessidades. Nem mais, nem menos, mas o justo para as nossas lutas terrenas. Escolhemos o nosso ambiente de trabalho espontaneamente para a nossa realização, trazemos para perto de todos nós os nossos parente e amigos conforme nossa afinidade. Portanto, o nosso destino está constantemente sob o nosso controle. Você escolhe, colhe, recolhe, elege, atraia, busca, expulsa, modifica tudo aquilo que te rodeia a existência. Nossos pensamentos e vontades são a chave de nossos atos e atitudes... São as fontes de atração e repulsão na nossa jornada. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim. – Chico Xavier.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

Jogo de Areia, Psicologia Analítica Junguiana, Edna G. Levy, Inconsciente Coletivo <http://jogodeareia.com.br/psicologia-analitica/inconsciente-coletivo/> Acessado no dia 27 de junho de 2012.

Wikipédia, Maria
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_(m%C3%A3e_de_Jesus)> Acessado no dia 26 de junho de 2012.

Wikipédia, Mutilação Genital Feminina <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mutila%C3%A7%C3%A3o_genital_feminina> Acessado no dia 24 de junho de 2012.

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