Há milhares de anos a mulher vem
construindo um papel essencial para o desenvolvimento da humanidade. Cada
mulher traz o arquétipo da Grande Mãe em seu inconsciente.
Segundo Jung, todo conteúdo
psíquico não é de origem individual, mas coletivo. Rompendo com a noção de que
tanto a mente consciente como a inconsciente eram originárias da experiência,
Jung demonstrou que a evolução e a hereditariedade determinam a linha de ação
da psique, assim como o fazem com o corpo físico. A mente, através de seu
mediador, o cérebro, herda as características que determinam de que forma uma
pessoa reagirá às experiências de vida, configurando-a previamente pela
evolução. O homem está ligado ao seu passado pessoal, ao passado de sua espécie
e à longa cadeia da evolução orgânica.
O Inconsciente coletivo é o depósito
das “imagens primordiais”, que se referem ao primeiro, ao mais primitivo
desenvolvimento da psique.
Herdamos essas imagens do passado ancestral,
que inclui os nossos antecessores humanos, pré-humanos e animais. São
predisposições ou potencialidades no experimentar e no responder ao mundo tal
como os nossos antepassados.
Os conteúdos do inconsciente
coletivo ativam padrões pré-formados de comportamento pessoal, que a pessoa
seguirá desde o seu nascimento.
Um exemplo: Temos no
inconsciente coletivo uma “imagem primordial” de “mãe”. Esta imagem
expressar-se-á assim que o bebê tiver a percepção de sua mãe verdadeira, e a
ela reagir. A imagem de “mãe” que está no inconsciente coletivo é a responsável
pela nossa fácil identificação da figura materna e como reagimos a ela.
A simbologia da Grande Mãe é encontrada
nas mais diversas referências culturais. Os gregos, por exemplo, acreditavam
que a titânia Gaia era a Terra e gerou todas as outras formas diversas de vida
do planeta. Dando uma volta no mito e contando de forma resumida, Gaia uniu-se
a Uranos (caos) e de sua união surgiram os Titãs, Ciclopes e os hecatônquiros.
Mas, insatisfeita com a tirania de seu parceiro, solicitou que seu filho Cronos
aprisionasse seu pai e libertasse seus outros irmãos titãs tão poderosíssimos
quanto ele. Temendo a forma como seu filho agia intolerante e tirano como
Uranos, Gaia solicitou a Zeus, filho de Cronos a aprisionar seu pai também
oferecendo como recompensa o domínio sobre o mundo.
Temos que levar em conta que a
função do mito é explicativa. A estruturação básica dessa explicação é de
promover um relato a respeito de algo no mundo, mostrando sua origem. O
princípio não é o regente, mas a origem acontece por intermédio da paternidade
e maternidade divinas, que envolve a participação dos deuses e entidades
similares no âmbito do mundo dos mortais.
Gaia representa o papel da
Nutridora, que gera e dá a vida, e determina o tempo de vida que um indivíduo
terá enquanto estiver no seu controle ou sob suas terras. A analogia é feita
sobre o papel de sustentabilidade que a mulher adquiriu ao longo desses anos,
tornando-se indispensável para a humanidade.
Outra forma de se referir ao
arquétipo da Grande Mãe é mencionar a Virgem Maria, mãe de Jesus. Mesmo diante
a tantos desafios, a Virgem, nunca deixou de lado suas responsabilidades como
mãe ou como mulher. No momento de sua concepção com o divino, Maria sabia que
carregaria em seu ventre “Aquele que salvaria a humanidade”. Compreendemos que
o termo “salvar” é metafórico. Cristo veio nos entregar sua palavra de Amor
através de seus ensinamentos e esperava que estes fossem espalhados aos ventos
para que assim atingisse o maior número de pessoas.
Maria era uma mulher comum até o
momento da concepção, que cumpria suas responsabilidades e diante ao desafio de
ser mãe aceitou sem hesitar. Por ter vivenciado a experiência da perda de um
filho, entendeu perfeitamente o significado que aquele propósito era muito
maior do que se imaginava. Entregou se totalmente na sua missão de desenvolver
o amor incondicional por todos os seres humanos após passar pela “perda” de um
filho. Por ter amado e sofrido, ela nos libertou da dor, assim como Jesus nos
libertou do pecado. O pecado refere-se ao estado de ignorância do ser humano.
Tudo o que Ele fez, foi mostrar que o Bem, a Verdade e a prática do Amor devem
prevalecer no coração do homem virtuoso.
“... Maria inicia uma nova Era de Graça. Ali começa uma nova etapa. Ela
é a noiva cósmica, e se deixa fertilizar. Neste momento, graças a sua coragem
de aceitar o próprio destino, ela permite que Deus venha a Terra e transforma
na Grande Mãe.” – Paulo Coelho, Nas margens do rio piedra eu sentei e chorei.
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Tanto o Homem, quanto a Mulher,
possui papéis bem distintos dentro de uma sociedade. A mulher, desde os tempos
primitivos, desenvolvia atividades manuais, cuidava da prole e do lar,
desenvolvendo sua percepção para os detalhes e a intuição característicos do
aspecto feminino. Enquanto o homem era encarregado de trazer o suprimento e
manter a segurança de sua família devido aos seus aspectos físicos, aprendendo
a desenvolver o instinto de proteção e o dever característicos do aspecto
masculino.
Os relacionamentos foram se
desenvolvendo e com o passar dos séculos, ambas as partes acabaram não
compreendendo e distorcendo seus papéis. A mulher, por representar o ser mais
fraco comparada com a força bruta de um homem, teve seus direitos renegados constantemente
nos momentos da construção de nossa história.
O cenário é desolador, pois
existem mulheres que ainda sofrem abusos, são repreendidas, humilhadas e
totalmente submissas as vontades dos homens. O descaso contra seus direitos é decorrente,
muitas vezes, do aspecto cultural e ético de cada país.
Na áfrica e em muitos países do
oriente médio, por exemplo, segue-se uma tradição milenar dolorosa em que a
mulher é obrigada no início da puberdade a retirar seu clitóris. O nome desta
prática chama-se mutilação genital feminina. O objetivo é ausentar o prazer no
ato sexual. A prática acontece silenciosamente e recentemente a Guiné Bissau
aprovou em 2011 uma lei proibindo e criminalizando tais atos. Os direitos humanos
esperam que os países que ainda cometem esses abusos parem imediatamente, mas
como se interferir na cultura de um país? Como mudar uma tradição milenar? Quem
há de dizer o que é certo e errado, sob a ótica que cada país possui seus
respectivos valores? A submissão da mulher existe independente dos “manifestos
femininos” estarem ocorrendo em nosso país ou não.
A independência que a mulher
possui hoje em alguns países é graças aos movimentos feministas realizados
contra esses abusos. Podemos finalmente sair das atitudes passivas de nossas
antepassadas, que sofriam os maus tratos caladas e ganhar uma dimensão mais
ativa.
As mulheres já deram um longo
passo na busca pelos direitos iguais. Isto pode ser observando naquelas que
tomam frente em empregos que antes eram ocupados apenas por homens, fato este
que está se tornando cada vez mais comum. Elas lutam dignamente em busca de
reconhecimento, e em muitos casos superam na competição constante com os
homens. Todavia, o que toda mulher não percebe é que o arquétipo da Grande Mãe
manifesta-se silenciosamente em seu inconsciente.
A mulher procura competir no
mesmo ambiente que o homem, mas não percebe que essa competição ressalta o
desejo embutido de reconhecimento e respeito por parte deles. Até porque durante
muitos anos, a mulher sempre foi destratada, desmerecida e sendo vista apenas
como um objeto de satisfação para as vontades dos homens e para a procriação.
O desejo por trás de manifestos
feministas com certo gosto de radicalismo é romper a imagem estereotipada em
torno da imagem que muitos homens têm da mulher, além de quebrar com esses
paradigmas sustentados pelo machismo.
A Grande Mãe do Século XXI merece que seus direitos sejam
respeitados, mas não deve se esquecer que as suas responsabilidades continuaram
distintas as dos homens. Cada mulher possui a Energia Universal Feminina e é
inerente da sua natureza, pois uma das missões mais sublimes é lhe concedida
pelo Universo.
O papel da Grande Mãe não é
substituir o serviço de empregada, mas de cuidar, proteger e educar aqueles que
estão sob suas responsabilidades. As primeiras noções de moralidade devem ser
transmitidas pelos pais para as crianças. A educação começa em casa e não nas
escolas. É sob o teto familiar que a oportunidade para nossa evolução nos é
concedida. Encontramos antigos laços afetivos no seio da maternidade e caminhamos
na trilha rumo ao amor incondicional. A Grande Mãe é aquele que concebe, gesta,
dá a vida, nutre e se entrega totalmente as graças do Amor, cumprindo assim,
suas obrigações perante a Justiça Divina.
“... Nascemos exatamente no lar que precisamos, vestimos o corpo físico
que merecemos, temos os recursos financeiros coerentes com as nossas
necessidades. Nem mais, nem menos, mas o justo para as nossas lutas terrenas.
Escolhemos o nosso ambiente de trabalho espontaneamente para a nossa
realização, trazemos para perto de todos nós os nossos parente e amigos
conforme nossa afinidade. Portanto, o nosso destino está constantemente sob o
nosso controle. Você escolhe, colhe, recolhe, elege, atraia, busca, expulsa,
modifica tudo aquilo que te rodeia a existência. Nossos pensamentos e vontades
são a chave de nossos atos e atitudes... São as fontes de atração e repulsão na
nossa jornada. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim. – Chico Xavier.”
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
Jogo de Areia, Psicologia
Analítica Junguiana, Edna G. Levy, Inconsciente Coletivo <http://jogodeareia.com.br/psicologia-analitica/inconsciente-coletivo/>
Acessado no dia 27 de junho de 2012.
Wikipédia, Maria
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_(m%C3%A3e_de_Jesus)>
Acessado no dia 26 de junho de 2012.
Wikipédia, Mutilação
Genital Feminina <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mutila%C3%A7%C3%A3o_genital_feminina>
Acessado no dia 24 de junho de 2012.
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