25 de julho de 2025

Entre Banhos, Telefones e Silêncios: A Hora da Despedida

Eu estava no banho quando o telefone começou a tocar. Era da casa de repouso. Tocava sem parar. Senti aquele frio na espinha, como sempre acontecia quando via o nome deles na tela. Pensei comigo: “Deixa eu terminar o banho primeiro.”

Receber ligações de lá sempre me causava um pânico silencioso. Eu já sabia o que me esperava: correr com ele para o pronto-socorro, passar a noite nas UPAs, carregar o cansaço no corpo e na alma... Reviver tudo isso agora ainda dói. Mas naquele dia, o telefone não parava. Tocava sem dar trégua. “Deve ser importante” — pensei.

Assim que saí do banho, atendi. Do outro lado da linha, poucas palavras, ditas com peso e cautela:
“Ele faleceu dormindo. As cuidadoras foram virá-lo e perceberam que já não havia batimentos.”

Ela tentou me consolar. Mas ali, naquele instante, o chão sumiu. Chorei. Me perguntei em pânico: “E agora? O que eu faço?”

Com a ajuda do meu marido, me recompus. Fomos cuidar dos trâmites. Era hora de preparar o último adeus ao meu velho.

Ele partiu no dia 21 de julho de 2025, por volta das 5h da manhã. Dormindo. Numa cama limpa, aquecido, com cuidados constantes. Ele não estava só.

Por mais difícil que tenha sido essa missão, eu sabia que não podia virar as costas. Era um chamado da alma. Enfrentei noites longas, crises, lágrimas, medos, mágoas. E mesmo diante de tudo, não carrego arrependimentos. Até mesmo as palavras duras que lhe disse um mês antes... tive a chance de pedir perdão. Fui ouvida. E ele, mesmo em silêncio, me perdoou.

Desde sua chegada ao Brasil, em 25 de agosto de 2019, até o dia de sua partida, muitos anjos cruzaram meu caminho. Gente que segurou minha mão, que me acolheu no cansaço, que não me deixou desabar. Em nenhum momento fui desamparada. Deus, em sua infinita misericórdia, sustentou cada passo,  nunca deixou faltar o necessário, nem mesmo nas maiores tempestades.

Por amor, por dever, por compaixão ou mesmo pela dor, fizemos o que precisava ser feito. 

Demos o nosso melhor. Cuidamos até o fim.

E agora que o fim chegou, fica o silêncio… Mas nele, há também paz.

Fica o vazio… Mas nele, mora a certeza de que o amor cumpriu sua missão.

Fica a saudade… Mas também a gratidão por ter feito parte de uma história que, apesar das feridas, foi real.

Porque no final das contas, a vida é isso:

Uma sucessão de despedidas que nos ensinam a amar mais forte enquanto ainda dá tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário