8 de julho de 2025

A última estação....


Agora não tem mais jeito. O fim se aproxima. O corpo está cansado de lutar, de resistir, de tentar. O espírito, aos poucos, vai se desprendendo dessa máquina exaurida pelos excessos de outrora, pelo desgaste do tempo. Sinto que sua partida está próxima. De longe, ouço o trem chegando... e o adeus se anunciando.

Confesso: eu queria que tivesse sido diferente o nosso encontro nesta vida. 

Te idealizei por anos sob a figura de alguém onipotente, forte, presente.

Mas te conheci no fim da tua caminhada: sem memórias, tomado pelas enfermidades, perdendo, dia após dia, os traços da própria identidade. Te abracei sem saber se, em algum lugar dentro de ti, você sabia quem eu era... Uma parte de mim se entristece por não ter conseguido construir boas lembranças ao seu lado, pois estava perdida em julgamentos tentando achar culpados pela sua ausência, pela falta de sorte. Mas outra parte se alegra, pois o Universo, com sua  generosidade silenciosa, me concedeu tempo. Tempo, ainda que breve, para te conhecer, pai. Agora meu pai tem um rosto, tem um abraço, tem força.

Agora sei de onde vim. Sei meu sangue, minha origem. Sei um pouco da nossa história. E prometo vivê-la, pai, com dignidade, fazendo o melhor que puder com o que recebi de ti.

Sinto muito pelas cobranças, pelas acusações, pelas palavras duras.
Sinto muito por tudo.
De verdade.
Sinto muito por não ter conseguido te oferecer mais conforto.
No fim de tudo... nada disso importa mais, pois vai ficar comigo uma parte da sua essência.
Você não está sozinho,
Meu coração te acompanha até a última estação.

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