O que foi feito para durar?


Quem lembra daqueles modelos antigos de celulares que mais pareciam um tijolo do que representação do avanço tecnológico? Eram pesados, faziam volume no bolso da calça, tinham ringtones simplórios e marcantes (a musiquinha clássica do nokia, quem nunca ouviu?). O negócio não quebrava nem com um porrete. Caia no chão e mantinha seu interior intacto, sem danos. Mesmo que fosse "caro", você tinha algo durável. As coisas, naquele tempo, eram feitas para durar. 

Hoje é comum nos depararmos com vários celulares: tipo, tamanho, design, modelo, configurações. A oferta no mercado é gigantesca e existe celular para atender todos os estilos e gostos. Há quem troque de modelo sempre quando um novo é lançado. Há quem procure um celular com a melhor câmera para possíveis selfies. Há quem permaneça com o mesmo celular até que este fique ultrapassado. Mas ambas pessoas irão afirmar: são objetos frágeis, não foram feitos para durar

O que foi feito para durar? Eu me pergunto constantemente: Móveis? Roupas? Calçados? Objetos? Relações? Sentimentos? A fé? A dúvida? A verdade? O caos? O amor? A confiança? O ódio? Os seus vícios? As suas paixões? O seu apego? A sua vida?

O que foi feito para durar numa sociedade fluídica onde as relações humanas são tão rasas e supérfluas?

O que foi feito para durar se o tempo todo estamos sujeitos a mudanças, a imprevistos e transformações? 

O que foi feito para durar quando nos deparamos com separações de casais que pareciam serem feitos um para o outro? 

É inevitável, o fim existe e aceitar que nada é eterno e que somos seres em constantemente mutação não é uma negação da "fé", mas de uma constatação da nossa humanidade. Uma incontestável afirmação que somos mortais. Todavia, somos seres apaixonados. Nos apegamos as pessoas. Criamos laços. Temos raízes. Possuímos uma herança (genética/kármica); somos seres que precisamos um do outro para viver, para afirmar que existimos e que somos mais fortes quando estamos unidos. Buscamos preservar aquilo que possua um valor simbólico, seja ele material ou sentimental. 

Há quem cuide para que as tradições não se percam, para que os valores não sejam mundanos, para que a fé na vida continue sendo a energia motriz que impulse os indivíduos à serem seres humanos melhores. Há quem busque preservar a vida como um bem precioso, há quem agradeça pelo alimento de todo dia, há quem se indigne com os padrões limitantes, com a violência urbana, com a ignorância que alimenta preconceitos. Há quem lute para quebrar barreiras, há quem preserve a história.

O que foi feito para durar? Eu respondo com mais certeza: tudo aquilo que não se misture com o que é supérfluo e mundano foi feito para ser preservado. E isso envolve: a nossa busca por ser alguém melhor a cada dia; o trabalho que dignifica a alma; as relações construídas a base do afeto e respeito; as tradições seculares que buscam religar o ser humano ao divino. É só olhar com carinho para vida e você perceberá que as coisas duráveis transcendem espaço e tempo. 

"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós"

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