Um fato curioso aconteceu comigo essa semana (09/01)
merecendo ganhar um registro. Eu e o Carlos estávamos a caminho do trabalho. Pegamos
uma van lotada. Padrão, afinal, faltava apenas alguns minutos para abrir o
centro comercial. A viagem seguia seu percurso normalmente quando uma senhora,
idosa, aparentando ter seus 75 anos, adentrou no transporte, acompanhada por
alguém que parecia cuidar dela. Os assentos estavam todos ocupados por jovens.
A idosa mal conseguia ficar de pé e percebendo a indiferença da “juventude”,
pois ninguém cedeu de imediato o lugar para ela, o Carlos começou a falar mais
alto: Ninguém vai ceder lugar para senhora sentar? Repetindo a frase,
indagando a situação, uma senhora que estava sentada, levantou-se e cedeu o
lugar para a idosa. Eu estava no fundo da van, perto da porta, observando a
situação atentamente. A indiferença e o desrespeito eram visíveis com a
terceira idade. Situações assim me deixam extremamente indignada. Até então, o
aparente caso da senhora estava “resolvido”. Não para mim, claro, pois fiquei o
tempo todo refletindo o que acabara de presenciar. Chegando ao centro da
cidade, a van esvaziou abrindo espaço para mim e Carlos sentarmos. A viagem
seguia seu curso “tranquilamente”, mas meus neurônios estavam a mil. A atitude
que ele teve foi como um insight, deixando-me agitada.
O ser humano está condicionado (como se a “condição” fosse
algo imposto nele, não da natureza dele) a aceitar o que é errado como certo.
Estamos acomodados com aquilo que incomoda. Vemos diariamente situações que a
injustiça é claramente visível aos nossos olhos, mas raramente nos movemos
contra ela. É mais fácil ignorar, fingir que a problemática não existe e que
não somos responsáveis por ela. Como o caso da senhora que adentrou o recinto e
ninguém cedeu espaço para ela, como se aquilo não fosse “problema” delas. Ledo
engano. Somos responsáveis também por aqueles que nos rodeiam. Não podemos nos
acomodar, achando que o errado é o certo e o certo errado. Temos que ter atitude
para agir quando preciso e voz para lutar quando todos permanecem calados no
seu próprio barulho. Outra coisa interessante também, é que em vez de “reclamar”
da maioria que não tem atitude frente a uma injustiça, simples, não espere a “boa
vontade” das pessoas. Aja e não tenha medo de falar.
Voltando ao caso.
Chegando na BR, a van para novamente e uma outra senhora
entra carregando sacolas. Ela devia ter seus 60 anos. Eu e o Carlos sentávamos lá
nas últimas cadeiras do transporte. A van estava cheia e NINGUÉM cedeu espaço
para a dona e a mesma estava parada, segurando suas sacolas com dificuldades de
frente para uma jovem, que estava sentada, alheia à tudo o que ocorria,
conversando no celular, indiferente. Não aguentei. Comentei com o Carlos que lá
na frente tinha outra senhora em pé e que ninguém cedia espaço para ela. Ele se
levantou. Atravessou com dificuldade a pequena passagem que havia entre as
pessoas e a chamou para sentar no seu lugar, lá atrás.
A senhora chegou
sorridente, sentou-se ao meu lado e começou a puxar papo comigo. Senhores
leitores, não é por má educação, mas tenho certa dificuldade em me interagir
com os famosos “free talkers”. Não consigo manter a conversa, acabo respondendo
com alguns monossílabos e afirmação de positivo com a cabeça. Mas a senhora me
dizia que estava carregando naquele balde um monte de PEIXE. Isso. PEIXE. E que
iria levar para os filhos e era peixe pescado, nem sei onde em Betim se pesca
peixe hoje em dia. Eu não sei a cara que fiz, já que transpareço o que penso
nas minhas expressões faciais e acabei dizendo algo nonsense como: “hmm, mas peixe é muito gostoso”.
Chegando ao destino, descemos da van e eu olhei para aquela senhora e ela olhou
de volta para mim, me deixando com algumas impressões estranhas. Senti algo
estranho. Peixe é algo de valor muito simbólico. Chegamos à loja e comentei com
o Carlos que a senhora estava carregando no balde, peixes para levar para os
filhos. Ele olhou para mim, assustado e disse: “ela era muito estranha, vai ver
que ela não existia nesse mundo”. Quando ele disse isso, senti na hora um
estranho arrepio que me acompanhou durante a manhã toda.
Bem. A história é
longa e eu jamais saberei se realmente, aquele ser que sentou ao meu lado, com
um balde cheio de Peixes, era realmente algo “humano”. Nossa imaginação é
fértil, mas foi curioso o fato ter ocorrido duas vezes, na mesma manhã me trazendo poderosos insights...
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