19 de janeiro de 2014

Não existe Luz sem Escuridão...




Já tínhamos andado metade do caminho. Estava mal iluminado e a única fonte de luz que víamos, era o céu que estava absolutamente estrelado. Ela encostou-se a árvore como quem fosse sentar em suas gigantescas raízes. Pegou seu enferrujado cantil, abriu e antes de dar o primeiro gole, disse: 

- Estou cansada. Não conseguirei mais caminhar ao teu lado.

- Tudo bem. – respondi. – Daqui para frente irei sozinha. – espantada com sua afirmação.

- Você irá ficar bem sozinha? – perguntou.

A pergunta me causou certo desconforto. O quê é estar realmente “bem”? Há anos venho lutando para reconquistar minha liberdade. Adentrei por esse caminho, insegura e mesmo diante de tanta escuridão, por incrível que pareça, estou me reencontrando. Sua pergunta, entretanto, causou-me um súbito mal estar. Sua presença é como um analgésico para minhas dores. Será que conseguirei dar mais passos adiante sem ela ao meu lado? Acho que estou dependente demais, penso.

- Depende daquilo que você gostaria de ouvir – disse após pensar muito. – Certamente, não ficarei bem sem você. Confesso. Estou com medo daquilo que não vi e medo das sombras que me rodeiam. Tenho medo de não encontrar a “luz” e cair nas redes da escuridão que não tem fim.

- Já passamos por esse exercício, minha querida. A sombra e luz são as mesmas coisas, mas com intensidades diferentes. Uma depende da outra para existir e nenhuma das duas é dispensável no Universo. Só temos medo daquilo que desconhecemos, e só é desconhecido porque raramente temos a coragem para correr riscos, gastando muito tempo alimentando àquilo que temos receio. Finde suas apreensões encarando cada sombra que surgir no seu caminho. São importantíssimas para o conhecimento verdadeiro de si mesmo. 

Verdade. Penso. O que mais fazemos atualmente é relutar que interiormente a “escuridão” se faz presente. Não somos seres repletos de Luz. Aceitar essa condição é o básico para a iniciação neste caminho. E quanto maior é a Luz, maior também é a Sombra que ela se faz, por isso o cuidado é extremo para não cair nas armadilhas do Ego.

- Você ficou calada. – disse ela – algo que eu falei te incomodou?

- Um pouco. – falei. - Você sabe. Eu sou sensível demais e estou ainda me acostumando com a ideia que você um dia vai embora. Entretanto, isso parece tão normal para você, que aparentemente demonstra está no controle.

- Não estou aqui para te dar rosas e sim, espinhos. E é melhor que enfrente alguns, muitos, milhares para poder apreciar verdadeiramente a graciosidade de uma flor. E eu não estou me controlando, apenas penso que isso será bom para seu aprendizado. Estivemos em simbiose por tempo demais e eu estou cansada, já cumpri parte do meu carma, o resto é contigo.

Ela estava certa. Não posso deixar para que os outros resolvam aquilo que está sob minha responsabilidade. Sua companhia, por mais espinhosa que me parecesse, trouxe-me aprendizados. Mas, a jornada continua. O caminho está mal iluminado. Na minha bolsa carrego comigo, alguns pedaços de pão que peguei na velha estalagem, ervas curativas e meu livro. Não precisava de mais nada, já tinha tudo o que era preciso. 

Ela me acompanhou de volta ao caminho. Parou, voltou a me observar com ternura da qual pude ver em seu olhar. Deu-me um lampião velho, com uma chama que quase se apagava. Em seus olhos, senti aquilo que não ganhava forma com suas palavras: “sentirei saudades”. Também, pensei. Mas este era o meu caminho e não o dela. Nossas estradas apenas se cruzaram e aqui seria o momento onde deveríamos cada uma voltar para seus respectivos caminhos. Andei a passos vagarosos com o lampião que mal iluminava a via. Olhei para trás, para certificar-me que ela me acompanharia com o olhar, mas ela não estava mais lá. Olhei para frente e o que vi foi uma completa escuridão. Senti medo. Minhas pernas tremeram. Tornei a olhar pra minha mão e o que segurava era um velho lampião, com um resquício de chama que fora capaz de me iluminar até que o primeiro raio de sol surgisse no horizonte daquele dia...


16 de janeiro de 2014

A verdade vos libertará


Ao longo da construção da história da humanidade a intolerância quanto a sua crença religiosa sempre foi algo muito presente desde que o Homem se conhece como Homem. Uma das instituições mais poderosas do mundo possui uma face obscura e sombria, relutando em admitir que seus pilares estejam tão corrompidos por uma base dogmática, rigorosamente implantada na consciência de seus seguidores. 

Quantos inocentes derramaram seu sangue para sustentar suas colunas em nome de uma fé cega e isenta da verdadeira misericórdia ensinada por Yeshua?   E o que dizer das Santas Cruzadas, Santas Inquisições, venda de indulgências, que assassinou, roubou, enganou sob o nome de “Deus”? Que “Deus” é esse, que julga, mata, condena, pune e impõe rigorosamente sua fé ou crença nele e que se você mísero mortal, não depositar sua falível crença será condenado ao fogo eterno do inferno?  Fechar nossos olhos quanto ao passado tenebroso da maior religião do mundo ocidental, é negar a morte de milhares de inocentes no percurso da história da humanidade. E se não prestarmos atenção quanto ao nível de intolerância religiosa que estamos chegando, é certo que o Homem, pouco evoluiu, mesmo se passando séculos. 

Felizmente, a fé e a religião são totalmente diferentes, pois uma sustenta-se perfeitamente sem a outra. E as palavras Dele, foram ditas ao ar livre, longe de templos luxuosos e expostas para quem tivesse ouvidos para ouvir e olhos para ver. A intolerância é uma presença constante no dia-a-dia aliando-se ao "pre-conceito" e ninguém está totalmente livre delas. São chagas da nossa humanidade que devem ser combatidas não com a espada, mas com a aceitação de que não existe APENAS UM caminho para se chegar até Ele. E que se seu caminho é diferente ao do irmão, não quer dizer que seja a trilha errada. Cada um traça com seus próprios passos seu próprio caminho, descobrindo que a Centelha Divina adormece interiormente dentro de cada individuo.  


12 de janeiro de 2014

Coisas estranhas...




Um fato curioso aconteceu comigo essa semana (09/01) merecendo ganhar um registro. Eu e o Carlos estávamos a caminho do trabalho. Pegamos uma van lotada. Padrão, afinal, faltava apenas alguns minutos para abrir o centro comercial. A viagem seguia seu percurso normalmente quando uma senhora, idosa, aparentando ter seus 75 anos, adentrou no transporte, acompanhada por alguém que parecia cuidar dela. Os assentos estavam todos ocupados por jovens. A idosa mal conseguia ficar de pé e percebendo a indiferença da “juventude”, pois ninguém cedeu de imediato o lugar para ela, o Carlos começou a falar mais alto: Ninguém vai ceder lugar para senhora sentar? Repetindo a frase, indagando a situação, uma senhora que estava sentada, levantou-se e cedeu o lugar para a idosa. Eu estava no fundo da van, perto da porta, observando a situação atentamente. A indiferença e o desrespeito eram visíveis com a terceira idade. Situações assim me deixam extremamente indignada. Até então, o aparente caso da senhora estava “resolvido”. Não para mim, claro, pois fiquei o tempo todo refletindo o que acabara de presenciar. Chegando ao centro da cidade, a van esvaziou abrindo espaço para mim e Carlos sentarmos. A viagem seguia seu curso “tranquilamente”, mas meus neurônios estavam a mil. A atitude que ele teve foi como um insight, deixando-me agitada.

O ser humano está condicionado (como se a “condição” fosse algo imposto nele, não da natureza dele) a aceitar o que é errado como certo. Estamos acomodados com aquilo que incomoda. Vemos diariamente situações que a injustiça é claramente visível aos nossos olhos, mas raramente nos movemos contra ela. É mais fácil ignorar, fingir que a problemática não existe e que não somos responsáveis por ela. Como o caso da senhora que adentrou o recinto e ninguém cedeu espaço para ela, como se aquilo não fosse “problema” delas. Ledo engano. Somos responsáveis também por aqueles que nos rodeiam. Não podemos nos acomodar, achando que o errado é o certo e o certo errado. Temos que ter atitude para agir quando preciso e voz para lutar quando todos permanecem calados no seu próprio barulho. Outra coisa interessante também, é que em vez de “reclamar” da maioria que não tem atitude frente a uma injustiça, simples, não espere a “boa vontade” das pessoas. Aja e não tenha medo de falar.

Voltando ao caso.


Chegando na BR, a van para novamente e uma outra senhora entra carregando sacolas. Ela devia ter seus 60 anos. Eu e o Carlos sentávamos lá nas últimas cadeiras do transporte. A van estava cheia e NINGUÉM cedeu espaço para a dona e a mesma estava parada, segurando suas sacolas com dificuldades de frente para uma jovem, que estava sentada, alheia à tudo o que ocorria, conversando no celular, indiferente. Não aguentei. Comentei com o Carlos que lá na frente tinha outra senhora em pé e que ninguém cedia espaço para ela. Ele se levantou. Atravessou com dificuldade a pequena passagem que havia entre as pessoas e a chamou para sentar no seu lugar, lá atrás. 

A senhora chegou sorridente, sentou-se ao meu lado e começou a puxar papo comigo. Senhores leitores, não é por má educação, mas tenho certa dificuldade em me interagir com os famosos “free talkers”. Não consigo manter a conversa, acabo respondendo com alguns monossílabos e afirmação de positivo com a cabeça. Mas a senhora me dizia que estava carregando naquele balde um monte de PEIXE. Isso. PEIXE. E que iria levar para os filhos e era peixe pescado, nem sei onde em Betim se pesca peixe hoje em dia. Eu não sei a cara que fiz, já que transpareço o que penso nas minhas expressões faciais e acabei dizendo algo nonsense como: “hmm, mas peixe é muito gostoso”. 

Chegando ao destino, descemos da van e eu olhei para aquela senhora e ela olhou de volta para mim, me deixando com algumas impressões estranhas. Senti algo estranho. Peixe é algo de valor muito simbólico. Chegamos à loja e comentei com o Carlos que a senhora estava carregando no balde, peixes para levar para os filhos. Ele olhou para mim, assustado e disse: “ela era muito estranha, vai ver que ela não existia nesse mundo”. Quando ele disse isso, senti na hora um estranho arrepio que me acompanhou durante a manhã toda. 

Bem. A história é longa e eu jamais saberei se realmente, aquele ser que sentou ao meu lado, com um balde cheio de Peixes, era realmente algo “humano”. Nossa imaginação é fértil, mas foi curioso o fato ter ocorrido duas vezes, na mesma manhã me trazendo poderosos insights...

  

6 de janeiro de 2014

Pandora


Ela me perguntou: o que você irá fazer? Não sei, pensei comigo. Aprendi recentemente que não devo gerar expectativas demais. A vida é uma roda, nada é estável e estamos em constante mutação. Meus planos mudaram bruscamente de um ano pra cá, ou será que na verdade isso é uma prova que em mim, não existe constância? Talvez me falte persistência. 

Talvez. 

Não sei o que fazer. O plano é estudar para “ser” alguém, ou pelo menos, para ser enquadrado perfeitamente na parede da sociedade como “mais um tijolo”. Dura realidade. Esse é o mundo “real” que tento enfeitá-lo com minhas ideologias, mas ainda que minha mente ande nas nuvens, meus pés estão constantemente no chão.


O que se fazer quando na verdade se está esperando? E o que se esperar quando na verdade as ações parecem temporariamente bloqueadas pelo o quê  é externo? Ou será que na verdade, eu sou o maior obstáculo para mim mesmo?

O futuro tornou-se uma caixa de surpresas e toda vez que tenho visualizá-lo, suas imagens se distorcem, escorregando de minhas mãos aquilo que achei que jamais escaparia delas. Mas entendi, que as melhores coisas que nos acontecem, raramente as planejamos. Não marcamos horário com a felicidade e não há receita certa ou manual de instruções para obtê-la. 

Descobri que mesmo diante de todos os "males" que surgiram da inocência, você ressignificou aquilo que achei que tinha perdido: a esperança de dias melhores.