Eternal Sunshine of the Spotless Mind





Ela entrou no consultório que havia visto em um anúncio no jornal. Estava desesperada. Pagou rios de dinheiro para um tratamento experimental que colocaria de vez um ponto final no sofrimento que vivenciava. A promessa do anúncio era: “apague de sua mente todas as memórias dolorosas que impedem você de alcançar sua felicidade”. Duvidoso, mas ao mesmo tempo milagroso o suficiente para ela tomar a atitude de marcar uma consulta. Estava nervosa e sua afeição transmitia unicamente o desespero interno de uma alma que já não sabia o que fazer para simplesmente esquecer ele. Esquecer, pois, não era fácil. Meses se passaram após um término conturbado. Tudo havia sido jogado no ralo. Os momentos bons e ruins tornaram-se uma coisa só. Os erros foram mais visíveis que os acertos. Os defeitos foram inaceitáveis. E as qualidades, invisíveis. Ela estava perturbada.  Balbuciava palavras sem sentido, incoerentes, incertas e confusas. Mas ela já tinha a certeza que queria apagar de sua memória todos os resquícios fragmentados que ainda restaram dele em sua mente. 

“- O que você gostaria de esquecer?” – Perguntou o médico.

“- Quero esquecer quem foi ele. Quero apagar de minha mente e do meu coração a prova de que um dia ele existiu em minha vida...”.

“- Você tem certeza que quer se submeter a esse tratamento?”- insistiu o médico.

Após uns segundos. Ela respondeu sem hesitar:

“- É melhor viver a dor de esquecê-lo do que viver a dor de não ter ele ao meu lado.”





O filme Eternal Sunshine of the Spotless Mind, em português, O brilho eterno de uma mente sem lembranças traz consigo uma maravilhosa reflexão a respeito dos relacionamentos pessoais. A história é de um casal, Joel e Clementine. Ambos estavam lutando há anos para manter um relacionamento que já mostrava seus sinais de desgaste e negligência. Mas não deu certo. Desiludida com o fracasso, Clementine aceitar a fazer um tratamento experimental em que todas as lembranças que ela mantém de Joel são simplesmente apagadas. Ela esquece totalmente ele e todos os momentos que vivenciaram juntos. Após ver a atitude de sua ex, Joel entra em depressão, pois ainda a amava e simplesmente sofria por saber que ela não lembrava mais dele. Até que não aguentando mais, submete-se também ao tratamento. Mas durante o processo, ele acaba desistindo, entrando em uma luta para tentar manter as lembranças de Clementine dentro de si e encaixar ela em memórias dos quais ela não participa. 


A proposta parece boba, mas nos traz uma reflexão maravilhosa. Quem nunca teve  vontade de esquecer algo? Quem não gostaria de ter dentro de si um botãozinho com a palavra “erase” e que a qualquer hora você poderia apertá-lo para apagar todos os registros negativos da sua caminhada? 

Durante nossa jornada, damos muitos tropeços. Agimos por impulso, sem pensar nos efeitos. A causa de toda impulsividade acaba nos levando a trilhas incertas, sem rumos ou saídas. O arrependimento sempre é visível quando uma escolha não dá certo, ainda mais em relacionamentos pessoais. Quantas vezes vemos casais separando-se em pé de guerra, destruindo tudo de bom que existiu um dia e depositando no coração o rancor, a mágoa, o ressentimento e a tristeza pela pessoa que um dia foi importante em nossas vidas? Nessas horas é que gostaríamos de esquecer. Simplesmente fingir que aquela pessoa não foi importante e que com certeza se tivéssemos a oportunidade, iriamos apagar de vez a existência dela dentro de nós. 

Mas ainda bem as coisas não são assim! Ainda bem que não existe nenhum botão mágico ou nenhum tratamento que nos faça esquecer as coisas dolorosas. Ainda bem que não existe fórmula ou poção mágica do “esquecimento”. Ainda bem. Não podemos fechar os olhos para as coisas que não deram certas, pois nem sempre seremos os vitoriosos. 

Temos que aprender a lidar com nossos fracassos pessoais. 

Temos que ter humildade suficiente para reconhecermos nossos erros. 

Temos que ter o amor suficiente para perdoar as nossas falhas e as falhas dos outros. 

Se não deu certo seu relacionamento, perdoe ele (a), ame e desapegue-se. 

Deixe o barco tocar. A vida fluir. Se abra para ela e ela se abrirá para você.

Pegue todas as lições e aprendizados, pois certamente podemos aproveitar tudo e sinta com toda a certeza que nada foi em vão.

Quando perdemos, também ganhamos. 







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