Nunca julgue alguém apenas pelo relato de outra pessoa. Desabafos têm o poder de nos arrastar para dentro de narrativas que não nos pertencem — principalmente quando se tem um coração mole demais como o meu. Quem conta uma história pode até não mentir, mas sua visão é sempre atravessada pela própria emoção. E emoção demais, às vezes, distorce a realidade. A verdade vira fumaça.
E cá estou eu, mergulhada em uma história que não é minha. Só que, agora, qualquer passo em falso pode me custar caro.
Quando foi que me enrolei nisso tudo? Foi quando decidi ficar do seu lado enquanto o mundo virava as costas? Foi quando fechei os olhos para não ver seus erros, tentando acreditar que, no fundo, você era só alguém mal compreendida — e não egoísta ao extremo?
Agora, você quer me arrastar para a forca. Quer me ver sem saída, encurralada, até cairmos juntas num buraco sem volta.
Naquele dia, quando me fez aquele convite, você sequer pensou em mim. Não se colocou no meu lugar, não percebeu que aquilo poderia me comprometer, me colocar numa situação delicada, questionar o meu caráter. Ou percebeu, e mesmo assim foi em frente? Foi um teste? Uma armadilha disfarçada de lealdade? Uma lealdade que, convenhamos, eu nunca te devia por completo.
E ainda assim, fui gentil ao recusar.
Poxa... tente, ao menos uma vez, se colocar no meu lugar, se colocar no lugar de uma pessoa.
Como espera que eu testemunhe contra um lugar onde nunca fui ferida?
Como quer que eu me volte contra pessoas com quem convivo bem?
Essa história não é minha. Os seus inimigos não são meus — porque eu enxergo o mundo de outra forma.
Quando fecho os olhos, sabe o que me vem à mente?
Você. Se consumindo numa obsessão doentia por estar no topo. Sempre a melhor, sempre vendendo mais — não importava o preço, nem quem precisasse atropelar no caminho.
Essa é a lembrança que ficou.
Alguém que colecionou desavenças...
Alguém que nunca soube conviver.
Alguém que adoeceu porque não tinha limites.
Alguém que preferiu colocar a culpa nos outros do que assumir a responsabilidade pelos próprios atos.
E agora, depois de tudo, só me resta aceitar: você fez suas escolhas — e eu fiz as minhas.
Não vou carregar uma culpa que não é minha, nem me afundar em batalhas que não me pertencem.
Me retiro da sua guerra com a consciência limpa e o coração em paz.
Porque a lealdade que você exige… nunca foi recíproca.