30 de junho de 2024

Eu ainda não vendi minha alma para o diabo...

O que é certo é certo. Não existe meio termo. Olhar para o mundo, ver suas injustiças e fechar os olhos quando elas acontecem do meu lado não é do meu feitio. Não consigo lidar bem com isso. Se eu quiser sobreviver no mundo corporativo, seja no meu local de trabalho atual ou em qualquer outro lugar, preciso fingir que não estou vendo as coisas erradas. Esse foi o conselho que recebi de alguém que já foi chefe durante gestões públicas de esquerda e direita. Nunca se dobrou diante a oposição, soube liderar as diferenças e uni-las em nome de um bem comum. Será que sou capaz disso? Será que minha rigidez cognitiva vai ser flexível e se dobrar diante as maldades alheias cometidas em ambientes corporativos?

Essa semana aconteceu algo que me deixou muito chateada. Identifiquei o autor das intrigas geradas na equipe. E lá vou eu outra vez, levantar o bastião da justiça com risco de ter a cabeça cortada. O alvo é alguém protegido do chefe. Chamemos ele de o "funcionário intocável". Sabe aquele indivíduo que adora puxar saco, adora um leva-e-traz de informações criando inimizades e intrigas na equipe, manipulando colegas para que fiquem um contra o outro? Estou tendo que lidar com um tipo assim atualmente.

Nessa semana, fora os inconvenientes que ele vem gerando entre nós, o "funcionário intocável" transgrediu uma regra; regra que foi muito clara bem no início em que foi apresentada. Contudo, o "intocável" fingiu desconhece-la, tirou vantagem da desatenção de seu superior e ficou por isso mesmo. Como eu poderia ficar calada vendo tudo isso acontecer? Eu sou autista, mas não nasci muda. Se há uma injustiça, ela deve ser exposta. Se há um erro, ele não deve ser corrigido com outro erro. Não se passa a mão na cabeça de quem errou, pois ele não tirará nenhum aprendizado de tal situação. Seja por dissimulação, por falta de caráter, por ingenuidade, por omissão ou por desatenção; erros não são corrigidos premiando quem errou.  

Amanhã será um dia de cortar cabeças. 

Talvez a minha role dessa vez, mas vai rolar ladeira abaixo sabendo que falei o que era certo, ainda que tenha gerado constrangimento e incomodo. 

Eu ainda não vendi minha alma para o diabo. 

Meus valores não estão corrompidos com a podridão do mundo.


22 de junho de 2024

Meu Shutdown - sobrecarregando meu sistema interno...



Em dezembro de 2023 recebi meu diagnóstico de autismo e TDAH de uma neuropsicóloga especialista em TEA. Uma avaliação neuropsicológica não é uma simples entrevista que você faz com um psicólogo. Pelo contrário. A avalição tem várias atividades selecionadas para avaliar o nível cognitivo do paciente e suas formas de percepção da realidade que o cerca. É um diagnóstico tardio para quem viveu a vida toda sofrendo as penalidades de tais condições... Mas... nunca é tarde para se conhecer, não é mesmo? 

Essa semana levei meu diagnóstico para o neurologista. De cara, ele já me disse que precisaria avaliar minuciosamente esse laudo, pois ficou faltando algumas informações mais detalhadas de alguns resultados. Me deu até uma solicitação para encaminhar para neuropsicóloga que fez a avaliação. Farei com ele também acompanhamento médico mensal para tratar os sintomas do TDAH, parte essa da minha personalidade que me prejudica bem mais que o autismo. Me sinto muito incomodada com minha falta de atenção, com minha procrastinação e dificuldade para me concentrar nos estudos. 

Não queria que minha mente fosse dessa forma. Só quem sofre com o TDAH sabe que é uma luta diária com seus próprios pensamentos que estão em uma guerra constante e aí, com as pressões do trabalho, pressões familiares e sociais, com a sobrecarga sensorial que vivencio diariamente, meu sistema interno entra em um tal de "shutdown do autismo", um ato que me faz querer se desligar por completo. Tudo o que eu quero depois de um dia de trabalho é chegar em casa e me enfiar debaixo do cobertor e ficar por lá. Lá é tão bom, tão aconchegante... mas com os pensamentos intrusivos, que não param por nada, todo segundo que passo descansando é cobrado por uma voz que fica falando: "você poderia estar fazendo algo com o tempo que você passa olhando pro nada"; "você poderia estar estudando se você quer virar programadora"... "você poderia estar gravando vídeos para o canal..." e por aí vai... os pensamentos não param. Meus pensamentos são armadilhas... armadilhas que me prendem e não me soltam enquanto não me verem derrubada e sem forças. 

Hoje, meu dia foi assim: sem energia para fazer alguma coisa. Percebi que no dia anterior eu havia me esforçado para ser sociável, pra fazer boas vendas, impressionar meu público e trazer uma energia de empolgação para o ambiente. Até que eu fiz algumas coisas direitinho -só acho. Cheguei em casa exausta com tanto "esforço" empregado. No outro dia, eu estava igual um zumbi e trabalhei dessa forma durante 6 horas direto. Sem energia alguma. Minha bateria social foi pro espaço. Tudo o que eu queria era chegar em casa, tomar um banho quente e entrar debaixo das cobertas em plena 16h daquela tarde. Normal? Talvez seja. Não sei se é uma exclusividade de quem vive no espectro autista. Não sei se quem é normal também é assim. Esse não é um episódio incomum na minha vida e sei que estarei sujeita a viver com isso, pois eu nasci assim. 

Sabe o que é foda? É que as pessoas que não estão vivendo com isso, acham que ser autista/tdah é uma escolha voluntária... você é assim porque você quer! Você acha mesmo que eu gosto de ser distraída? Você acha mesmo que eu gosto de começar algum estudo e largar no meio do caminho? Você acha que eu gosto conhecer pessoas e não lembrar o nome delas? Você acha mesmo que eu gosto de ficar isolada no meu canto enquanto as outras pessoas estão socializando? Se bem que eu gosto bastante de ficar no meu canto.

Enfim... acho que se fosse para escolher, eu queria ser "normal"... Normal? 

Será que isso é legal?