31 de dezembro de 2020

As promessas de ano novo


No último dia do ano é normal querer que o ano vindouro seja diferente. Todos estabelecem metas, objetivos e traçam planos. Mas quem tem disciplina o suficiente para alcançar tudo aquilo que se planeja? Olho para meu caderninho de metas que escrevi no final de 2019 e sinto um misto de vergonha e fracasso. Não eram metas tão difíceis assim. Havia decidido estabelecer objetivos mais realistas, que estavam ao meu alcance, nada daquilo que ultrapassassem meus limites. 

Quando vejo os 12 objetivos que escrevi para esse ano de 2020, vejo que a maioria deles seriam resolvidos se houvesse mais atitude e menos preguiça; mais centralidade e menos impulso. Controlar compulsões e paixões é uma luta diária que tenho que fazer com a mente e quase sempre perco essa batalha. E a realização de uma compulsão nem sempre é acompanhada de satisfação. 

Prometo para mim mesma que não beberei Coca-Cola todos os dias. Mas sabe quando bate aquela bad vibe? Sabe aquele dia que você não tem estado emocionalmente bem? Sabe o estresse que você carrega do trabalho? Seu cérebro pede uma compensação imediata e na hora o que vem na mente? A vontade de comer algo bom, saboroso, algo que você associa a momentos divertidos, de relaxamento e de que: "eu mereço algo bom também". Mas Coca-Cola não é algo tão bom assim e quando menos espero, estou eu, dando corda para minhas compulsões, quebrando uma regra que havia estabelecido de não beber Coca durante a semana. Lá estou eu, consumido glicose industrializada para ter uma compensação rápida e ilusória para mente. E olha que o controle das minhas paixões não se dizem respeito a luta que tenho que fazer para não beber Coca-Cola, mas também ao meu lado financeiro e profissional. É ruim a sensação de fracasso quando você quebra aquela promessa. E ao quebrar uma, você se permite quebrar outras. Todas aquelas promessas de ano novo vão pro ralo.   

É difícil lidar com esses "demônios" interiores. Lidar com a própria sombra. Lidar com as próprias limitações ou fracassos. O ano de 2020 foi como um soco na boca do estômago de muita gente. E esse ano, em especial, me fez olhar as oportunidades que já desperdicei na vida por medo, por não achar que era capaz, por puro comodismo ou preguiça. Quantas promessas de ano novo já não as fiz e eu mesma as quebrei? 

De um lado, essas reflexões me deixam triste, por outro lado, elas são necessárias. E mesmo que em algum momento eu venha quebrar alguma promessa que farei hoje; eu continuarei insistindo até que elas deixem de ser meras promessas para virarem realidade. É na persistência que se encontra o êxito, certo?

Feliz ano novo, leitores do Fragmentos de Meu Ser! Somos verdadeiros guerreiros porque 2020 foi uma batalha (espiritual) na vida de muitos. 

Cuidem da alimentação, bebam bastante água e passem filtro solar! 


12 de dezembro de 2020

O que foi feito para durar?


Quem lembra daqueles modelos antigos de celulares que mais pareciam um tijolo do que representação do avanço tecnológico? Eram pesados, faziam volume no bolso da calça, tinham ringtones simplórios e marcantes (a musiquinha clássica do nokia, quem nunca ouviu?). O negócio não quebrava nem com um porrete. Caia no chão e mantinha seu interior intacto, sem danos. Mesmo que fosse "caro", você tinha algo durável. As coisas, naquele tempo, eram feitas para durar. 

Hoje é comum nos depararmos com vários celulares: tipo, tamanho, design, modelo, configurações. A oferta no mercado é gigantesca e existe celular para atender todos os estilos e gostos. Há quem troque de modelo sempre quando um novo é lançado. Há quem procure um celular com a melhor câmera para possíveis selfies. Há quem permaneça com o mesmo celular até que este fique ultrapassado. Mas ambas pessoas irão afirmar: são objetos frágeis, não foram feitos para durar

O que foi feito para durar? Eu me pergunto constantemente: Móveis? Roupas? Calçados? Objetos? Relações? Sentimentos? A fé? A dúvida? A verdade? O caos? O amor? A confiança? O ódio? Os seus vícios? As suas paixões? O seu apego? A sua vida?

O que foi feito para durar numa sociedade fluídica onde as relações humanas são tão rasas e supérfluas?

O que foi feito para durar se o tempo todo estamos sujeitos a mudanças, a imprevistos e transformações? 

O que foi feito para durar quando nos deparamos com separações de casais que pareciam serem feitos um para o outro? 

É inevitável, o fim existe e aceitar que nada é eterno e que somos seres em constantemente mutação não é uma negação da "fé", mas de uma constatação da nossa humanidade. Uma incontestável afirmação que somos mortais. Todavia, somos seres apaixonados. Nos apegamos as pessoas. Criamos laços. Temos raízes. Possuímos uma herança (genética/kármica); somos seres que precisamos um do outro para viver, para afirmar que existimos e que somos mais fortes quando estamos unidos. Buscamos preservar aquilo que possua um valor simbólico, seja ele material ou sentimental. 

Há quem cuide para que as tradições não se percam, para que os valores não sejam mundanos, para que a fé na vida continue sendo a energia motriz que impulse os indivíduos à serem seres humanos melhores. Há quem busque preservar a vida como um bem precioso, há quem agradeça pelo alimento de todo dia, há quem se indigne com os padrões limitantes, com a violência urbana, com a ignorância que alimenta preconceitos. Há quem lute para quebrar barreiras, há quem preserve a história.

O que foi feito para durar? Eu respondo com mais certeza: tudo aquilo que não se misture com o que é supérfluo e mundano foi feito para ser preservado. E isso envolve: a nossa busca por ser alguém melhor a cada dia; o trabalho que dignifica a alma; as relações construídas a base do afeto e respeito; as tradições seculares que buscam religar o ser humano ao divino. É só olhar com carinho para vida e você perceberá que as coisas duráveis transcendem espaço e tempo. 

"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós"