9 de dezembro de 2017

Aceite a vida como ela é...




Por várias vezes acreditei que estava no caminho certo e me decepcionei. Por tantas e outras vezes a expectativa não enxergava a linha tênue que se separa os desejos da mente da realidade. E você sabe o que acontece quando a esperança é irreal, ilusória e traiçoeira. É como permanecer preso em um castelo de areia, observando o movimento das ondas e vendo-as destruírem a frágil construção com um sopro. 

Mas é melhor que as ilusões se desfaçam, que os véus dos desejos fúteis esmoreçam e que a verdade surja como uma flor de lótus que nasce da lama. Prefiro me decepcionar e sofrer a alimentar falsas esperanças e me enganar com os desejos da mente. Prefiro que as falsas expectativas sejam destruídas e que a esperança real retorne quando o vento beijar o meu rosto ou quando eu acordar com o sol de cada dia, pronta para viver um dia de cada vez. 

Não quero mais mergulhar em subjetividades e pouco me importa as nuances do coletivo. Não vou  me prender a sentidos sem significado, nem quero questionar a existência daquilo que é. Estou aprendendo a deixar tudo ser como é e não como quero. Estou aprendendo a viver no mundo real com minhas limitações, aceitando que a maçã é maçã e não laranja; e que a coca-cola não é fanta, muito menos pepsi. Estou aprendendo a questionar menos e aceitar mais. Aceitar que existe dificuldades, mas todas são superáveis. Aceitar que existe tristeza, mas os momentos alegres são superiores. Aceitar o ódio pode ter expandido sua presença no mundo, mas que o Amor é mais forte. Estou aprendendo a aceitar que o Universo é justo e devolve a cada ser humano o que ele tem cultivado. Injusto é o próprio homem que não entende os símbolos da própria existência e vive lutando contra si e os outros. 

Desta vez, a palavra-chave do dia é "Aceitação".

O céu pode não estar azul e com nuvens como gosto, mas a terra precisa da chuva que cai e eu preciso da terra para caminhar rente ao meu verdadeiro propósito existencial. 

25 de novembro de 2017

O Coração sabe tudo!



Só hoje descobri que o medo de perdê-lo é exatamente proporcional ao amor que tenho por ele. 

O coração sabe tudo. Sabe quando estamos prestes a tomar uma decisão errada. Sabe também quando estamos acertando em nossas escolhas. Mas é difícil ouvir sua voz e seguir seu sábios conselhos quando estamos atormentados pelas tramas da mente. A mente cria ilusões e te impedem de ouvir corretamente o que o seu coração tem a dizer. A mente é tão barulhenta que você se perde em meio a tantos pensamentos destrutivos e enganosos. A mente, mente. 

O coração fala através do silêncio toda a verdade que ele carrega. E quando você diz e ouve algo dito de coração, a alma se alegra e emociona; tudo vibra em alegria. O coração sempre sabe quando as palavras são verdadeiras. O coração sabe e não se engana. O coração também sabe que precisamos da tristeza para saber o peso de importância que damos às pessoas e aos nossos sonhos. Se dói, é porque a dor é do tamanho do espaço que aquela coisa importante ocupa dentro do coração. Se você tem medo de perder algo, é porque o "algo" tem significado para si.

Só hoje descobri que o Amor que pulsa dentro de mim é tão grande que chega a doer. 
Ainda bem que dói. Quer dizer que é real e que estou disposta a seguir o ritmo de suas batidas ao lado dele, na tristeza e na alegria! Para sempre!

Darkside




Por que estou sofrendo? Por que estou encarando a vida como se estivesse chovendo sendo que lá fora o sol está brilhando? Não consigo analisar minha dor e por ora, meu coração chora. É mentira dizer que estou calejada pelas dificuldades da vida. É mentira dizer que meu coração já está calejado de tanto sofrer. Coração não cria calos, mas bombeia sangue; não endurece, mas pulsa fortemente tanto na dor quanto na alegria. 

Tenho perdido as esperanças. Ando meio cética, desacreditada da bondade alheia. Agora posso dizer que adentrei na escura floresta para caminhar por ela assustada com suas sombras e revivendo velhos medos. A noite já não tem estrelas e a completa escuridão me espreita. Ela devora tudo. Até mesmo a luz que acreditava possuir. A escuridão é traiçoeira e as sombras criam rostos através do medo. E quem há de nos libertar? Eu mesma escondi as chaves da minha algema. 

O sol surge no horizonte; mas não consigo enxergá-lo. 
A escuridão é mais forte que a luz.  

20 de novembro de 2017

Abra mão...




Não deixe que seus problemas, que suas dores, que seus medos; te transformem naquilo que não é. 

Tudo é passageiro. Nada é para sempre. Não vale a pena se apegar ao sofrimento, achando que ele é eterno. Não, ele não é. Pode ser a maior dor do mundo, pode ser a situação mais complicada e aparentemente insolúvel, pode ser o momento mais difícil que esteja enfrentando; mas eles não são eternos.  

As vezes... A vida nos faz vivermos situações que precisamos "abrir mão", deixar as coisas irem embora, deixar as coisas serem como são. É difícil abrir mão quando se julga estar certo, quando se acredita que foi injustiçado, quando não se aceita o "não" do outro, quando se é rejeitado. Batemos tanto a cara no muro até aprender que as coisas não funcionam ao nosso bel-prazer e que há limites a serem respeitados; que há uma linha tênue que une os seus desejos com os desejos alheios, mas  que nem sempre estarão em plena concordância. 

A vida está me ensinando a abrir mão. Está me mostrando que não adianta usar o passado para me machucar e machucar aqueles que estão ao meu lado. Não adianta usar meus medos, minhas dores, meus problemas para permanecer no cantinho da reclamação, acomodada com tudo aquilo que me coloca constantemente para baixo. Vida é sinônimo de crescimento, não o contrário. O medo, a dificuldade, a dor, os problemas, tem que ser direcionados para que você cresça com eles, amadureça e use a experiência para se guiar de modo sábio pela existência. 

Abra mão e deixe ir embora. 
Com as mãos livres, estamos abertos para receber o que é, de fato, nosso. 
     

11 de novembro de 2017

O patinho feio



Sempre me senti um patinho feio. Tímida demais, recatada ao extremo, com dificuldades para lidar com minha feminilidade e vergonha de expressá-la ao mundo. Muitas vezes, me vi em situações que precisava me inibir por pura timidez ou para alimentar as castrações escondidas no meu subconsciente. 

Mergulhei em processos de auto-sabotagem, sempre me tratando com o pior "inimiga" de si. Dizem que os inimigos externos são mais perigosos, mas o pior é aquele que adormece na sua mente e surge em momentos improváveis lhe dizendo maldades sob si mesmo. A síndrome do patinho feio me fez dispensar companhias por achar que não tinha qualidades para estar no meio delas. A síndrome do patinho feio me fez olhar no espelho e não aceitar o que via. A síndrome do patinho feio me fez escolher a solidão.

O patinho feio, por muitos anos, achou que era um estranho no ninho; desengonçado, sem perspectivas de ser feliz por não se achar bonito, por achar que não fazia parte desse mundo. Acreditou por um instante que não tinha nada de útil para acrescentar a humanidade. Achou que suas habilidades não poderiam ser usadas para que ele construísse um mundo que representasse os seus sonhos. O patinho feio, por várias e incontáveis noites, não sabia o que desejar. Não conseguia olhar para o céu a noite e ver estrelas; concentrou-se em seus medos, em suas paranoias e crises de paralisia. O patinho feio decidiu que iria embora por não aguentar tanto sofrimento. Nadou, nadou, nadou e nadou.

Quando o patinho feio achou que não poderia mudar, mudou. Ele não era um patinho feio, ele era um belo cisne! Ele conseguiu enxergar pela primeira vez na vida que tinha potenciais a oferecer. Ele se viu no reflexo da água e aceitou-se como era. O patinho feio já não era infeliz porque sabia a necessidade de defender e vivenciar sua felicidade de ser quem era! 






9 de novembro de 2017

A importância de seguir em frente




Quem remói passado, destrói o presente e coloca o futuro numa caixinha que projeta todas as frustrações e decepções que já se vivenciou. Tem gente que vive a vida remoendo o passado, não conseguem colocar ponto final em uma história e preso as mágoas, não conseguem seguir adiante. Quem escolhe nutrir a mágoa, percebe que tudo parece mais moroso e dificultoso. A vida não flui normalmente. O fluxo fica impedido, trazendo mais atrasos e obstáculos. 

Viver preso as situações passadas é fechar as portas para o futuro e perder o totalmente as possibilidades que o presente oferta; é escolher o sofrimento e enterrar as esperanças. É viver a vida de modo dolorido e complicado sendo que ela pode ser mais alegre e simples. 

Quem não segue em frente, bloqueia o fluxo natural da vida. Tudo na natureza tem seu ritmo, segue seu propósito. A semente não cai na terra e fica protelando o que ela virá a ser, não fica pensando: vou ser uma árvore ou uma roseira? A semente, simplesmente, age; usa todo seu potencial para fazer o seu melhor e dar continuidade ao crescimento que é sinônimo de vida e evolução.

Não se prenda demasiadamente ao passado, afinal de contas, você não poderá mudá-lo. Mas... Você pode fazer a diferença na sua vida usando seu presente para construir aquilo que deseja usufruir no futuro e independente das dificuldades, siga em frente!     


8 de novembro de 2017

Aquilo que importa...




Às vezes... ficamos tão absorto pelos problemas que não enxergamos aquilo que realmente importa. É como se as vistas estivessem com viseiras. Por não ver o que é importante, acabamos pisando sem perceber. Quantas vezes não pisamos em coisas importantes e sequer percebemos? Pisamos em sentimentos alheios por estarmos tão focados em nossos próprios problemas.

O que é importante está, muitas vezes, destituído de valor mudando e não é transitório. O que é importante permanece ao seu lado e não diz adeus nos momentos mais improváveis. O que é importante nasce da alma e é alimentado pelo amor verdadeiro. Para amar, você não precisa de um diploma, um carro do ano ou a conta do banco cheia de dinheiro. Você precisa apenas de disposição, esforço, boa vontade e permitir que o coração esteja aberto ao aprendizado e crescimento.

O que é importante está ao nosso lado e escolhe permanecer conosco porque sabe que a vida sem o que realmente importa, torna-se supérflua e vazia. As coisas mais importantes da nossa vida nascem conosco: encontros determinados pelo amor antes do nascimento, são fortalecidos na breve passagem que fazemos na terra.   

30 de outubro de 2017

O fundo do poço



Tem momentos na vida que parece que estamos no fundo do poço. É justo aquele momento que perdemos a fé e a esperança que haverão dias melhores; que o sofrimento permanecerá inalterado e que os obstáculos não serão superados. Perdemos a fé na vida. Perdemos a fé nas pessoas. Perdemos a fé em nós mesmos. Acreditamos que estamos largados no fundo do poço, sozinhos com nossos medos e abraçados a angústia de vermos nossos sonhos despedaçados pela desilusão. A decepção é tanta que ela não rasga mais o coração em dor. A alma está tão seca que ela não derrama mais lágrimas. Tudo parece inóspito e sombrio. No fundo do poço estamos imersos na escuridão, na parte mais negativa da própria alma. 

Por vezes, estar no fundo do poço me ensinou que do chão no passamos. Se caímos ou tropeçamos, o ideal é levantarmos e seguirmos adiante. Se estamos no fundo do poço, temos que aprender a olhar para cima, buscando sempre a saída. Nenhum obstáculo é eterno; nenhum sofrimento é duradouro. Tudo é passageiro. Assim como a tristeza tem fim, a alegria também terá. Tudo é extremamente passageiro! Cada ciclo tem seus aprendizados essenciais para o nosso crescimento. Dói mudar, é verdade, mas a mudança é o único evento que traz progresso a vida humana. 

O fundo do poço me ensinou a olhar para cima, vendo que a luz do sol nasce para todos e que as estrelas já foram testemunhas seculares de histórias de superação. Tantas vidas, tantas histórias, tantas formas de ver o mundo e senti-lo, tantas experiências que tornam a existência humana rica em crescimento e aprendizado! O fundo do poço me ensina a  buscar  crescimento interior, pois somente desta forma sairei mais forte do que entrei.  

22 de outubro de 2017

Eu e você = Nós




O Amor não se atrasa. Ele surge na hora certa. O Amor é compassivo e paciente. Ele caminha ao seu lado, acertando os passos com carinho em direção ao crescimento.  

O nosso amor é sinônimo de expansão! Cresço todos os dias quando estou ao seu lado. Cresço na presença deste Amor que me faz ser um humano melhor. E sei que crescemos mais quando estamos juntos do que separados! Sei que duas cabeças pensam melhor que uma. Sei que eu e você, formamos aquilo que chamamos de NÓS. 

O nosso amor é belo, verdadeiro e bom. Ele promove crescimento para todos os lados, sempre trazendo em relevância o que temos de melhor.  Esta força jorra do centro do meu SER e está a cada dia fortalecendo meus propósitos e fazendo acreditar em mim mesma. E mesmo que por um instante eu desacredite em mim; você está ao meu lado para me ensinar a ter fé e paciência: vai dar tudo certo!

Lembre-se: o que Deus uniu, o homem não separa. 
Amo você! O amarei até que o último sopro seja dado por este corpo que voltará a ser pó desta terra. 
E na eternidade, estará presente este Amor que nos impulsiona sempre a crescer, JUNTOS!   

Mas eu me mordo de ciúmes!



Há quem diga que ciúme é demonstração de insegurança. Não deixa de ser. Ainda não fica claro para quem sente ciúmes como sua presença é indispensável na vida do outro. Ciúme acima da dose causa estragos terríveis no romance. 

Mas...

Há quem diga que ciúme é demonstração de importância. Um pouquinho de ciúme não faz mal. Ciúme na dose certa, apimenta a relação. Ciúme derrota a indiferença e mostra que a presença do outro é indispensável na vida dele. 

Eu? Me mordo de ciúmes. Não nego. Quero cuidar do que é meu. Me importo com quem amo. Pra quê esconder que sinto ciúmes? Não quero me sujeitar a um sadomasoquismo sentimental. Tenho que falar e eu seu não falar, começo a me sentir mal. Se eu abafar que estou sentindo ciúmes, a cara fecha por questão de segundos!

Eu sinto ciúme sim, mas prometo, não vou morder você! Se eu sinto ciúmes de você, é porque me importo, afinal, sua companhia se tornou indispensável e imprescindível na minha VIDA!

O mais importante de tudo é que o nosso amor nos mantém cada dia mais fortes e unidos; e diante a tudo isso, sou a mulher mais felizarda do universo por Deus ter colocado você no meu caminho.    

Você não perde aquilo que não é seu...



Você nunca perde algo que não é seu. Seja um amor, um trabalho, uma profissão, uma amizade...

Tenho pensado nisso ultimamente...

Às vezes, estamos ao lado de pessoas que estarão conosco vivenciando um ciclo de aprendizados mútuos, mas quando cada um aprende a lição do ciclo, estas pessoas seguem outros caminhos. Separações são inevitáveis. As pessoas se afastam naturalmente, como se a energia que havia entre vocês, não fossem mais compatíveis.

Existem aquelas pessoas que continuam contigo, independente da fase que você está. Elas não se afastam, pelo contrário, se aproximam mais e mais. Formam laços de afeto e carinho sustentados pela confiança e respeito. E estes laços não são abalados por altos e baixos de cada ciclo. Estas pessoas, são o que chamamos de amigos verdadeiros.

Durante o percurso existencial conheceremos muitas pessoas, mas pouquíssimas entrarão no recinto íntimo e ganharam a alcunha de melhor amigo. Tenho pensado tanto nisso. Só permanece ao teu lado quem veio para caminhar contigo e somar na sua vida. Os laços supérfluos naturalmente se desatam; laços verdadeiros se fortificam através do bem e do Amor.

Você só perde aquilo que não é seu, pois o que é realmente seu, o Universo encontra formas para que tudo isso chegue em suas mãos.


21 de outubro de 2017

ATO TRÊS: "O TATO"




Não sei por quantos segundos permanecemos olhando um para o outro. O contato com os olhos tinha um efeito poderoso. Era como se olhar nos olhos de Cristina, me permitisse enxergar que éramos humanos. O olhar humaniza. Só quem olha nos olhos do outro, sabe que somos semelhantes em nossas alegrias e tristezas; que carregamos a dor como também a cura; que ferimos uns aos outros porque desconhecemos outros modos mais suaves de se relacionar. Ao tocarmos o outro, sabemos que o toque deve ser feito como quem pega uma rosa para apreciar sua beleza. Você precisa aprender a segurar uma rosa com seus espinhos. Os espinhos alheios nos machucam, mas também não estamos isentos de tê-los. Os nossos espinhos podem ferir tanto o outro quanto à nós mesmos.

Quando me pego tendo esse tipo de pensamento, percebo que algo estranho está acontecendo. Qual foi a última vez que olhei nos olhos de outra pessoa e senti que através deste olhar eu me tornava mais humano? Não me lembro. Nunca tive um contato humano mais próximo como estou tendo agora com Cristina. 

Cristina se distancia um pouco ao perceber meu travamento diante de sua aproximação. Não sabia como deveria agir e tampouco conseguia ultrapassar as barreiras da minha timidez para beijá-la. Mesmo que a tenha desejado desde o instante que a vi, eu não podia tocar nela. Eu não era o tipo de homem que Cristina procurava. Sou fraco, mesquinho e hipócrita, além de tudo, irônico. Meu humor é ácido, meu pessimismo é intragável e sou sedentário. Dispenso romantismo e não acredito no Amor. E para completar o pacote de cara imperfeito: estou decidido a me matar. Não seria a solução na vida dela. Seria um baita problema. Cristina merecia algo melhor. E eu não era capaz de dar este "melhor" para ela. 

- Paulo... Acho que voltarei para o trabalho. - disse. 

- Tudo bem, te acompanho até a saída do parque. 

Tudo bem? É só isso que você irá responder? A mulher dos seus sonhos está do seu lado, abrindo seu coração e mostrando que sempre teve interesse em você e você só diz: "tudo bem"? Você não bate bem das ideias, meu amigo. O que eu devo fazer? Agarrá-la pela cintura e tascar um beijo? Acha mesmo que tenho coragem pra fazer isso? São tantos os pensamentos divergentes enquanto vejo a cara de decepção da Cristina com minha resposta: "tudo bem". Não. Não está nada bem. Eu sei que não está. Ela também sabe. Ela sabe que não é a única que guarda segredos e está esperando que eu revele toda a verdade. 

- Você acha que eu deveria voltar para o trabalho hoje? - perguntou. 

Hum! Que difícil responder. Eu não quero responder isso. Será que ela se contentaria com meu silêncio? 

Olho para ela e minha cara expressa: não sei a resposta. Alias, não sei NEM o que está acontecendo comigo. Estou desconcertado desde as últimas 4 horas.  

- Você está bem, Paulo? - pergunta mais uma vez e desta vez, ela pousa a mão sob meu antebraço. 

Uma corrente elétrica percorre meu corpo e meu coração bate mais forte. Graças a genética, coro facilmente a ponto de ficar vermelho igual um pimentão. Cristina percebe meu nervosismo e desliza sua mão para encostar na minha. 

- Não tenha medo. Eu não vou te machucar. - falou. 

Ao mesmo tempo que quero tirar suas mãos de cima de mim, desejo que me toque. Meus pensamentos divergem o tempo todo, mas sei que quero afastá-la de mim porque tenho medo que meu toque a machuque. Eu não posso amá-la do modo como espera. Eu sou tolo. Eu sei. Não imaginei que ao convidá-la para almoçar, me depararia com esta situação. Cristina sempre foi interessada em mim e eu sempre permaneci cego e nunca dei a chance de conhecê-la por estar mergulhado na dor de ser eu mesmo. Não quero que ela me toque. Não quero que ela tenha conhecimento de quem sou. Ela não me aceitaria. 

- Por favor, não me toque. - disse para ela sem refletir as consequências que estas palavras teriam. 

Cristina me olha assustada e retira rapidamente sua mão de minha mão. Ela vira de costas e retorna para o caminho que nos levaria para fora do parque. Acho que me expressei mal. O trajeto foi percorrido com ela andando na frente e eu, à quatro passos atrás. Sei que ela está chateada. Eu também estou chateado. Mas não sei como agir desta vez. Um beijo poderia ter consequências até piores que minhas palavras ditas agora pouco. 

Não entendo, contudo, por que estava fugindo do contato com ela. Sempre a desejei. Não é mentira. Cristina me despertara atenção desde o instante que a vi: entrando triunfalmente pela porta daquele escritório, jogando seus cabelos encaracolados de lado e sorrindo de modo gracioso. Seu sorriso tinha vida! Ela conseguiu chamar minha atenção no ápice da minha depressão. Ir para o trabalho, tornava-se uma motivação. Eu consegui levantar esses dias todos e encarar minha vida fracassada só para vê-la e estar por algumas horas em sua presença. Logo hoje, no dia que decido não existir, a mulher dos meus sonhos está querendo ser abraçada e amada como se não houvesse amanhã. E... de fato, o amanhã não existirá para mim dentro de algumas horas, então... Por que não me permitir esse ato? Por que não abraçar a mulher dos meus sonhos? Eu não decidi viver o último dia da minha vida sem arrependimentos?

- Cris! 

Ela parou de caminhar e antes que pudesse se virar, eu já estava abraçando-a. 

- Paulo... 

- Não diga nada por favor. Só me ouça. 

Ela consentiu com a cabeça e continuei.

- Eu a desejo tanto, tanto, que tenho medo que meu abraço a machuque. Eu te quero tanto, tanto, que tenho medo de lhe ferir por não ser aquilo que você espera que eu seja. Mas continuo te desejando, continuo te querendo e se este fosse meu último dia na terra, existe apenas uma mulher que gostaria de ter em meus braços. Esta mulher é você. 

Cristina se vira e me olha nos olhos. Ela toca minha face com cuidado. Suas mãos são tão macias quanto plumas. Por um momento, desejei ter ela ao meu lado até o fim da vida. Minhas mãos passeiam por suas curvas. Sinto o seu perfume penetrar minha essência e tomo as rédeas do meu corpo para não perder o controle. Desejo tê-la por completo. Desejo penetrar teu âmago, conhecendo tudo aquilo que guarda nas profundezas de sua alma. Desejo que esta mulher fique comigo mesmo que eu não seja digno de estar ao seu lado.

- Cris... 

Cristina me beija apaixonadamente e era como se naquele momento o passado de ambos não tivessem mais palavra ou força. A única força presente entre nós era o desejo que tínhamos um pelo outro. Seu beijo tinha a capacidade de fazer espairecer todos os pensamentos de minha anuviada mente. O toque de suas mãos tinha uma estranha capacidade de acolher minhas feridas. Ao seu lado, não me sentia julgado por quem eu era, mas aceito com minhas imperfeições e defeitos.

Cristina não deixou de segurar minha mão após os segundos mais intensos de minha vida. O calor que emanava de suas mãos me dava uma única certeza: eu e ela, estávamos vivos, compartilhando de modo pleno e absoluto algo que não era capaz de ser nomeado e tão pouco mensurado.

O calor de suas mãos me dava a certeza: eu ainda estava vivo. 

19 de outubro de 2017

ATO DOIS: "A VISÃO"


Sou atormentado desde criança por pesadelos. Sim. Pesadelos assustadores que te fazem suar, chorar e acordar gritando. Ao longo da minha vida, tentei abafar meus medos e ocultar minhas angústias atrás de uma imagem de autossuficiência. Mas... mesmo vivendo aquilo que chamam de “vida adulta”, continuei atormentado por esta angústia que parecia não ter fim.

Todos os dias, quando levanto da cama, percebo que não há distinção entre a realidade e os meus pesadelos. Vivo como se estivesse preso neste maldito sonho do qual não consigo acordar. O mais estranho de tudo é não saber quando este pesadelo começou e trouxe consigo seu tormento a ponto de me levar a destruir tudo aquilo que eu conhecia. Simples decisões me direcionaram ao abismo do sofrimento. Simples decisões foram capazes de me levar a conhecer o fracasso, a dor e a solidão. Vi a dor se alimentar do meu sangue e ouvi o diabo rir das ruínas daquilo que chamava de “sonho”. Passei anos mergulhado na parte mais negativa de minha alma, sofrendo todos os dias por medos que vieram à superfície e que não consegui enfrenta-los. Sofri tanto que cheguei a um ponto que a dor letargiava lentamente cada sentido que possuía. Fui perdendo minha sensibilidade e todos os sentidos que davam significado a vida humana foram deixando de existir para mim.  

O primeiro a me abandonar foi o paladar. Passei alguns meses sem sentir o gosto dos alimentos. Não sabia mais como saborear uma comida. Era como se eu mastigasse plástico e engolisse pedras. O garfo parecia pesar uma tonelada e só de olhar para a comida no prato, sentia-me enjoado. Emagreci quinze quilos em menos de um ano! Eu sabia que precisava comer bem para ter energia. E assim, me forcei a continuar comendo mesmo não sentindo o sabor dos alimentos.

Mas hoje, no dia que decido morrer, sinto algo diferente. Ao almoçar com Cristina, senti pela primeira vez, após vários meses, o gosto de um bom vinho. Senti a maciez daquela carne e o seu sabor penetrar minhas papilas gustativas. Fazia tanto tempo que não comia algo saboroso! Meu paladar estaria voltando logo hoje? O lado bom é que eu morreria hoje, sabendo que valeu a pena gastar cada centavo nesse almoço.

- Paulo! Vem logo! – Exclamou Cristina, acenando para mim na frente de uma entrada que tinha naquela praça e dava à um bosque. 

- Calma, estou indo! – Respondo.

Porque mulheres estão sempre apressadas? 

Ando um pouco mais rápido para alcançá-la e me deparo com um caminho repleto de hortênsias. Não sabia que tinha um lugar assim naquela cidade. E eu achando que conhecia bem esta cidade por morar aqui desde que nasci. Observo Cristina olhar para as flores admirada. Também estou. Fazia anos que não reparava na natureza por estar preso a rotina de cidade grande. O dia-a-dia atribulado de um escritório me fez entrar no modo automático e esquecer que existia também um mundo mais natural e menos exigente.

Olhava para aquelas flores tão delicadas. A natureza não faz esforço para existir. Tanto esforço o homem faz para provar algo para si e para outros e por vezes, acaba fracassando e arranjando inúmeros inimigos. O homem vive em conflito; raramente consegue conviver bem com seus semelhantes. Mas as flores, as plantas e árvores simplesmente existem e se adaptam as condições do seu meio sem entrarem em conflitos entre si. Há espaço para que todas cresçam. Elas respeitam as diferenças. Elas não brigam por territórios ou para descobrirem quem é a melhor de todas. Elas coexistem de um modo harmonioso e pleno; estando sempre a oferecer para nós, humanos, os frutos do seu crescimento. 

Me pergunto, às vezes, se o raciocínio designado aos humanos é mesmo sinônimo de superioridade em quesitos de evolução? Talvez, não. Sinto que a segregação dos seres humanos nasce através da linguagem, pois a partir do momento que damos nome a algo, estamos limitando o que podemos conhecer sobre ele.

- No que você está pensando? 

Estava tão absorto em pensamentos que não vi Cristina se aproximar de mim. 

- Estou reparando na beleza destas flores. Nunca parei para observá-las. 

Cristina dá um leve sorriso e me olha de modo provocador, mas ingênuo. Entretanto, meus pensamentos voam longe ao fitar aquela paisagem florida e nem observo que a mulher do meu lado estava prestes a desabafar seus problemas. 

- Há tanta beleza para ser contemplada! - afirmou Cristina. 

Balancei a cabeça positivamente sem revelar o que realmente pensava. Não queria demonstrar que tínhamos a mesma ideia em mente: se matar. 

- Tenho refletido naquilo que lhe contei mais cedo. - continuou.

Será que ela desistiu de cometer suicídio? Ainda bem. Cristina é uma boa pessoa. 

- O que está lhe fazendo mudar de ideia? - perguntei. 

- Se eu te disser que o nosso encontro me permitiu enxergar a vida por outro ângulo, o que diria? - indagou-me.

- Que isso é algo bom. 

- Eu não sei explicar o que aconteceu. Estava tão decidida a horas atrás que esse seria o melhor caminho para solucionar todos os meus problemas, mas agora consigo ver que não é. 

- Você pode me falar mais a respeito disso? - pergunto curioso.

- Todos os dias, quando acabava de acordar, sabia que teria que ver meus pesadelos e conviver com eles. Era como se fosse um martírio. Carreguei uma cruz pesada por tantos anos, condenada pelo pecado de não me perdoar. 

Senti naquelas palavras de Cristina uma angústia profunda. Não era apenas os relacionamentos superficiais que atormentavam. Havia uma ferida mais encravada em sua alma e sentia que nos próximos minutos ela revelaria os tormentos que vivenciara. 

- Ele era tão pequeno, Paulo. Tão inocente. Tão..! - suas palavras foram interrompidas por uma súbita vontade de chorar, mas ela segura e respira profundamente. 

- Cristina, não se sinta pressionada, por favor. 

- Eu tive um filho e o perdi em um acidente. Bastou um segundo que desviei minha atenção, um segundo e Carlos correu para pegar a bola e não viu o carro se aproximando em alta velocidade. Foi horrível ver seu pequeno corpo ser arremessado a metros de distância. Ver aquela criança tão cheia de energia, inerte em uma poça de sangue. 

Desta vez ela não contém o choro e as lágrimas rolam por sua face avermelhada. 

- Cris... - me aproximo dela e a abraço.

Eu sabia que o meu abraço não poderia trazer seu filho de volta. Eu sabia que aquele abraço não poderia reconstruir seu coração que estava em pedaços. Eu sabia de tudo isso e mesmo assim a abracei. 

- Eu me senti tão sozinha estes anos todos, Paulo. Eu fiquei presa no tempo e nunca consegui me perdoar por não ter sido capaz de impedir essa tragédia. E se eu não tivesse desviado minha atenção? E se eu não tivesse levado ele no parque naquele dia? E se...!

Continuei abraçando ela. 
Toda aquela dor, por um instante, era a minha dor também. 

- Cris, você não pode se prender as conjecturas do "E se...". Tudo aconteceu como tinha que acontecer. Não temos o poder de atuar sobre os fatos passados. Temos apenas que aceitá-los como são. 

- Dói ouvir isso, mas é a verdade. Agora eu vejo que é a verdade. Esses anos todos me condenei no remorso que deveria ter feito algo. Entrei em quarto escuro, acreditando que jamais sairia dele. Hoje, uma janela foi aberta e ao me aproximar dela, consigo ver um campo florido. 

Ao vê que Cristina recuperava aos poucos sua sobriedade, solto-a mesmo não querendo. Afinal, esperei tantos anos para abraçá-la. Ela pega um lenço em sua bolsa e limpa as lágrimas de sua face. Acompanho seus gestos e no final, ela me dá aquele sorriso devastador. Meu coração sobressalta e começo a sentir pequenas pontadas. Por que agora? Por que no último dia que decido morrer, descubro que além da escuridão existe luz? Por que estou sofrendo como se fosse o último mártir da terra? O que está impedindo a minha visão de enxergar outras alternativas? Talvez, o cansaço. Cansei de viver uma vida que não quero. Cansei de encontrar justificativas para meus atos. Cansei de ter que dar satisfações para todos à minha volta. Cansei das cobranças alheias que são feitas com juros e correções. Cansei de conviver com os seres humanos e sua hipocrisia. Cansei.

As pessoas normalmente diriam: "você está equivocado", "você tem que pensar de modo positivo". Isso. Basta um pensamento positivo e tudo muda ao seu redor. O mundo pode está vivenciando um caos e basta um pensamento positivo para que todos fiquem felizes. Que isso. Não pode ser sarcástico, não? Modo positivo de ver a vida enquanto ignoro a dor e o sofrimento que há a minha volta? Pensar positivamente não muda a realidade de nada. A própria vida existe sob destroços e por vezes, é destruída pelas opressões do dia-a-dia.

Estou cansado de ver a vida desta forma.

- Obrigada, Paulo, por estar aqui. - diz Cristina ao se aproximar de mim.

- Não precisa agradecer. - respondo.

- Não, você não entendeu. Obrigada por ESTAR AQUI. Por não ter corrido para as colinas enquanto desabafava minhas dores. Você me acolheu de uma forma que nunca aconteceu antes. Você me abraçou e neste abraço, senti que minhas feridas, minhas dores, minha angústia, também recebiam colo e alento. Você é incrível. - disse ela com um sorriso no rosto.

Meu coração dispara e começo a suar frio.  Cris se aproxima a distância de um palmo e olha em meus olhos. Vejo sua força. Vejo também sua desistência em se matar. Vejo o desejo que tenho por ela assim como vejo seu desejo por mim. Seus olhos esverdeados tem um brilho diferente. Eu me enxergo dentro deles e sei que ela se enxerga em meus olhos.

- Eu enxergo você, Cris.

- Eu também sou capaz de vê-lo, Paulo.

Continua...

18 de outubro de 2017

ATO UM: "O PALADAR"



Acendo o cigarro e o levo nos lábios. Dou uma tragada e solto a fumaça no ar. Acompanho o movimento da fumaça e sua dança irregular. Observo sua inconstância, compenetrado, esperando que um insight surja na escuridão e me ilumine com sua luz. Mas a escassez de iluminação interna não me permite por um instante ser agraciado pelos deuses. Tudo bem. Me conformo com minha escuridão. Me conformo também que deuses não existem. Eles não fazem esforços para que os humanos sucumbam às suas crenças. Por ventura, se os deuses realmente existirem, ouso a dizer que são seres sádicos. Adoram brincar com vidas alheias e impô-las ao sofrimento. Deuses se divertem às nossas custas, transformando a existência humana em uma experiência maquiavélica e dolorosa. Mas hoje, não quero pensar em Deus. Ele já teve tempo demais para intervir a seu favor e me mostrar sua força. Se não interveio, creio que este indivíduo não é tão útil assim para o Universo. 

Volto a observar a fumaça e as vejo desenharem o vazio existencial deste humano que está mergulhado na escuridão. Respiro profundamente e os olhos permanecem secos. Não há mais lágrimas. Existe apenas uma alma que exprime sua secura. Resolvi que este seria o meu último dia. Tudo está devidamente programado e não narrarei a forma como irei morrer nas próximas horas para evitar problemas futuros. Não quero que familiares saibam o que me levou à morte voluntária. Deixo que a suposição e o mistério rondem a minha morte. Eles jamais saberão a causa e isto partirá comigo, no silêncio do túmulo. Às vinte horas assino meu atestado de ida, somente ida. Não volto e espero não existir mais. Parto deste mundo que não se importará com um morador a menos.  Afinal, morrem tantos e quem se importa? Estarei longe da hipocrisia humana e ainda bem que não verei as lágrimas de crocodilo dos que fingem gostar de mim.

Olho para o relógio e são exatamente oito horas da manhã. Jogo a bituca de cigarro no chão e decido tomar um banho. Este será o último banho da minha existência e o farei digno de ser o último. Me dirijo ao banheiro, tiro a roupa e um papel amassado cai do bolso: uma pequena lista que escrevi dias anteriores com alguns afazeres. 

Último dia na terra [aleluia]

*Fazer as coisas do cotidiano da melhor forma o possível, afinal, você as fará pela última vez.
*Tomar coragem e chamar a Cristina para almoçar com você. Não tem nada a perder levando o fora da mulher mais bonita do escritório, afinal, é seu último dia na terra e se você levar um fora, o fora vai ser enterrado contigo às vinte horas.
*Pedir demissão do emprego chato, dizer umas verdades para aquele chefe ordinário e dar a louca no escritório. Não se envergonhe e nem pense nas consequências.
*Ir no restaurante e pedir o prato favorito. Evite fastfood, coma algo que vale a pena.


Com a lista nas mãos, me pergunto o que ganharia cumprindo aqueles pedidos que soam um tanto babaca e sem sentido. Mas confesso que um deles iria realizar minha verdadeira vontade. Sempre quis chamar a Cristina para sair desde o primeiro dia que a vi entrando triunfalmente pela porta do escritório, jogando seus cabelos encaracolados de lado e sorrindo de forma ingênua e maliciosa. Cris era o tipo de mulher que conseguia deixar qualquer homem boquiaberto por sua beleza e graciosidade. Entretanto, contudo, todavia, porém, a timidez nunca me permitiu ultrapassar o limite do “oi”. Para ela, eu poderia ser um simples colega de trabalho: desleixado, fracassado e mal pago comido. Mas hoje, excepcionalmente hoje, abro uma exceção no calendário e convidarei ela para almoçar comigo. 

Tomo banho, diga-se de passagem, o melhor do mundo e me apronto para ir ao trabalho. Resolvo deixar o carro na garagem e vou caminhando. De casa até o serviço, o percurso me exigia trinta minutos do tempo. Enquanto caminho, reparo a banalidade que se tornou a vida moderna. A promessa da modernidade e o slogan que a existência seria mais cômoda e fácil, não tornaram as pessoas mais felizes e, sim, mais incapacitadas. A impotência humana foi adquirida com avanço da tecnologia que engoliu a engenhosidade humana e a trocou por likes e exposição desnecessária em redes virtuais, colocando a autoestima de um indivíduo em uma espécie de balança discriminatória. Você é avaliado pelo o que tem ou aparenta ter. Essência? Só se for de perfume e não pode ser barato não, viu, porque se veste a marca e quanto mais cara, melhor para os visualizadores. Felicidade instantânea faz mal, tão mal quanto um miojo e você só vê o estrago dela depois de um tempo. Sabe quando seu estomago não aceita uma comida por estar enjoado? Felicidade instantânea é assim. Nos humanos, o estrago que ela causa chama-se solidão. Independente de quantas curtidas uma foto sua recebe, no final do dia, você está só consigo mesmo e ninguém está conectado a você.  Ah. Que arrogância minha achar que sei o que é melhor para todos. Meu ego nojento não se cansa destas analises sobre a existência humana. Meia volta, me deparo com minha prepotência e como sempre, ela me arrasa. Mas para quê ficar pensando nestas coisas? Que diferença poderei fazer neste mundo se ele já estava corrompido antes mesmo de eu nascer? O palco já está montado e somos meras marionetes, seguindo o roteiro dos que realmente controlam este planeta azul.

Sigo o percurso até o trabalho observando atentamente a vida, desta vez, sem pensamentos para instiga-la. Chego no serviço e vou direto para minha mesa. Ligo o computador e sou interrompido:

- Isso são horas de chegar, Paulo?

Olho para o lado e dou de cara com meu chefe. Esporro a esta hora da manhã? Dá um tempo!

- Bom dia para você também, Geraldo. 

- Quero o relatório para as onze sem falta! 

Dou com ombros e deixo ele falando sozinho. Que saco. Logo no dia que resolvo morrer, tem esses indivíduos para testarem nossa paciência. Indivíduos como Geraldo existem para irritarem os seres humanos. Por causa de criaturas como ele, a vida se torna algo estressante e dificultoso. Mas tudo bem, só por hoje farei este trabalho de maneira honesta e sem procrastinações. Me concentro para finalizar o serviço antes do horário. Foi só eu digitar as primeiras laudas e sinto um aroma adocicado no escritório. Aquele perfume inconfundível era da Cristina. 

- Bom dia, Paulo! – Disse em um tom animado.

- Olá Cristina.    

Ela sorri para mim e passa as mãos no cabelo delicadamente. Enquanto viajo na sua beleza, lembro do papel com pedidos idiotas. Se é o meu último dia na terra por que não tentar a sorte? Sorte? Não achei que a palavra sorte poderia brotar na mente do ser humano mais azarado do planeta. Sorte ou azar? Que diferença isso faz para quem decidiu que irá morrer nas próximas, digamos, sete horas? 

Sem esperar que o silêncio se torne algo constrangedor entre nós dois, pergunto:

- Cristina, gostaria de almoçar comigo no restaurante da esquina?

Cristina olha para mim assustada e não demora a responder:

- Adoraria almoçar contigo hoje, mas...

Ih! Deu ruim. 

- Paulo, vamos sim! Qual é o horário do seu almoço?

- Pode ser meio-dia? Te encontro na portaria. 

Ih! Deu bom. 

Ela afirmou positivamente com a cabeça e se despediu com um gesto de “até logo”. Despedi-me dela sem disfarçar o sorriso que ia de um canto da orelha para o outro. Isso foi a sorte me dizendo que não sou um cara tão azarado assim? AH, tanto faz! 

Feliz, terminei o trabalho antes do horário. 

Fui até a sala do chefe para entregar o relatório, quando o infeliz me solta:

- Já terminou o relatório, Paulo? Não acredito que foi capaz...

- Isso é para você que adora duvidar da capacidade dos outros. 

Geraldo me olhou atravessado e soltou:

- Isso é jeito de falar com quem é superior a você? Você sabe quem eu sou?

Então, se vou morrer, que eu morra sem arrependimentos. Abri a porta da sala do chefe que dava de frente as outras mesas e falei em voz alta:

- Quem você pensa que é? Você quer mesmo saber? Então, deixa eu explicar para você. Você é um "serumaninho" que vive entre sete bilhões de indivíduos neste planeta azul chamado Terra e este planeta está em uma galáxia com mais de 400 bilhões de estrelas e esta galáxia é apenas uma entre as 100 bilhões existentes no UNIVERSO. Quem eu penso que você é??? Você quer mesmo saber com quem EU estou falando?

- COMO OUSA?

- Olha só, Geraldo, por graça divina (?), estou bem complacente com sua arrogância e só posso lhe dizer uma coisa para alegrar o seu dia: Vá para o quinto dos infernos!

- Está demitido! 

- Está me fazendo um favor me demitindo desta espelunca. 

Vejo a raiva nos olhos do Geraldo. Pimenta nos olhos do outro é refresco para o meu. Deixo ele sozinho na sala, aos berros e vomitando todo o seu veneno. Passo pelas cabines dos meus ex-companheiros do trabalho escravo e eles me olham com admiração e certa repulsa. Ótimo para meu sadismo mórbido. Adoro ver a dualidade das emoções humanas. Pego minhas coisas e coloco tudo numa caixa. Antes de sair pelas portas, sou abordado pela Cristina. 

- Paulo! O que aconteceu entre você e Geraldo?

- Fui abençoado com a demissão. – Não conseguia disfarçar minha alegria. 

- E o nosso almoço? Éramos para nos encontrarmos daqui uma hora! 

Cristina preocupada com o nosso encontro, digo, almoço?

- Por que não vamos nesse exato momento?

Cristina olha para mim e ver em meus olhos um desejo estranho em querer fazer loucuras. Eu não estava preocupado se ela antecipasse o horário do almoço para estar comigo alguns minutos a mais e muito menos se ela se recusasse, tudo bem, entenderia sua necessidade de manter a aparência de boa moça. 

O não ou sim dela não me impediria de viver esse dia loucamente. 

- Vou pegar minha bolsa. Me espera aqui! 

Mulheres e seu sexto sentido. E não é que funcionam? Acham que estão com a bola toda e que mandam na relação. No menor sinal detectado de indiferença, elas ficam apavoradas, mandam mensagens desesperadas com medo de perderem as atenções de seus homens. 
Mas Cristina poderia respirar aliviada. Minhas atenções sempre estariam destinadas a ela. 

- Para onde vamos? – Falou um pouco afobada. Será que correu até sua sala achando que eu fugiria?  

- Qual lugar você sugere? – Devolvo com outra pergunta. Ela fica meio desnorteada com o poder de decisão em suas mãos. Pensou rapidamente e disse:

- Tem um lugar que você vai adorar! – Respondeu com aquele sorriso destruidor. Adorei a presunção dela em achar que eu poderia gostar do lugar que me levaria. 

Caminhamos algumas quadras do escritório até um restaurante com uma fachada bem “europeia”. Adentramos no recinto e somos recepcionados pelo garçom que nos dirigiu a mesa. Sem cerimônias pedi um vinho do porto. Cristina me olhou surpresa e fez um “tudo bem” com a cabeça. O garçom trouxe aquela bela garrafa que custava nada menos que mil reais e nos serviu a bebida. Não estava me preocupando se gastaria muito neste almoço. Tinha bastante dinheiro na conta, o suficiente para comprar oitenta garrafas se o quisesse. Após pedirmos os pratos, Cristina dá o primeiro gole e me indaga:

- Por que só hoje? 

- Só hoje o quê? – Sim, sou meio lerdo para entender o que está por trás das perguntas das mulheres. 

- Isso aqui! – Gesticulou com as mãos – De me chamar para almoçar. Por que só hoje?

Dou um gole na bebida. Vinho do porto. UHUM. Caro, mas saboroso. Cristina continua olhando para mim, esperando uma resposta. 

- Não sei. Só queria fazer algo diferente. – Melhor não dizer nada para não entregar na bandeja que sempre fui louco por ela desde o primeiro instante que a vi. 

- E fez coisas diferentes até demais! Você foi demitido do serviço. Como se sustentará daqui para frente? – Perguntou com uma genuína preocupação. E sei que a preocupação dela é sincera, mas hoje não estou com saco para pensar no que faria daqui para frente, afinal, daqui algumas horas estarei me matando e pouco me importa o dia de amanhã. 

- Cristina, vamos só viver este momento?

Ela percebe que não quero conversar muito sobre isso. Pedimos mais uma taça para o Garçom e peço para que ele deixe a garrafa. Começamos a contar casos que aconteceram no escritório e sobre as particularidades de determinadas pessoas. Riamos das fofocas e nos divertíamos falando mal das pessoas. 

- Geraldo? Geraldo é um sádico pervertido que se acha superior a todos! Você lembra do primeiro dia que entrei? 

Como eu poderia esquecer deste dia? 

- Geraldo veio com conversa mole para o meu lado, todo animadinho, dando em cima de mim. Odeio quando os homens se comportam feito cachorros! Parecem que pensam mais com a cabeça de baixo que com a de cima. 

- Eu lembro do seu primeiro dia, Cristina. Mas aqui, convenhamos. Você é uma bela mulher e todos naquele escritório ficaram dias comentando sobre sua beleza. - O álcool não está me deixando ter controle do que falo. 

- Até mesmo você? – Me indagou e desta vez pude ver em seus olhos um desejo reprimido por mim. Não. Espera. A Cristina tem interesse neste ser humano aqui? Isso é uma piada. 

- Confesso que você é uma bela mulher, mas há outros quesitos além da beleza que me conquistam numa dama. 

Ela olha de forma provocadora e solta aquele belo sorriso.  

- E posso saber quais são?

Antes que pudesse responder, somos interrompidos pelo garçom e ele serve o almoço. Ótimo! Este almoço chegou exatamente no momento que não precisarei responder perguntas cabeludas. Cristina agradece o serviço do garçom e dispensa-o. A moça dá um gole no vinho e diz:

- Você não respondeu à pergunta, Paulo. 

Coloco um pouco mais de vinho no copo e digo:

- Cristina, a beleza feminina é mistério. E como todo mistério, ele não precisa de explicações para ser apreciado. 

- Você é um mistério, Paulo. 

- Em que sentido? Você me acha feminino? 

Rimos juntos. O vinho tem o poder de deixar nossas palavras soltas. 

- Você sempre foi diferente dos homens que conheci. Todos os homens, sem exceção, se aproximavam de mim com intenções maliciosas. Você foi o único que me tratou diferente. 
Como assim? Eu e ela mal trocávamos uma palavra. 

- Sei que conversamos pouquíssimo, mas em todas as conversas percebia sua gentileza e educação. E por alguma razão, me sentia valorizada com esses pequenos gestos. 

- Não sei nem o que dizer...

- Não precisa dizer nada. Deixa disso! Vamos comer antes que esfrie. 

Dito isso, ela deu a primeira garfada e colocou mais um pouco de vinho no copo. As palavras cederam lugar ao silêncio. Comíamos absortos em nossos pensamentos. A quietude não era constrangedora, mas me perturbava. O vinho começava a reverberar no meu estômago dando-me azia. Seria efeito de toma-lo com o estômago vazio? O copo, talvez, nunca tenha ficado cheio e cada gole era para disfarçar minha incompletude interior. Eu não queria pensar em nada nesse momento, mas o vinho tinha um estranho poder de tornar visível algumas dores.

Cristina pediu licença para ir ao banheiro e acenei positivamente com a cabeça. Acendo um cigarro e na primeira tragada, sinto certo alívio. Irônico é achar que o alívio de uma tragada é aquilo que me mata. E que não estamos matando uma ansiedade e sim, adiando sua repercussão. Vejo a mulher retornar do banheiro com um olhar apreensivo. Ela senta, joga os cabelos para trás e sinto que queria me dizer algo. 

- Quero desabafar algo contigo. 

Acertei.

- Fique à vontade. 

- Será que poderíamos ir para outro lugar?

Afirmo com a cabeça e chamo o garçom para fechar a conta. Saímos do restaurante e vamos para uma praça perto dali. Esperando o momento certo, Cristina diz sem cerimônias:

- Estou pensando em me matar. 

Olho para ela espantado com sua revelação. Cristina quer se matar? Não. Calma. Ela ainda está com dúvidas e não sabe se realmente quer morrer. Se soubesse, não diria para ninguém sua decisão. 

- Você tem certeza disso?

Céus! Eu fiz essa pergunta mesmo? Até parece que estou incentivando ela a cometer um ato suicida. Não posso dizer nada, pois minha morte está programada para o final deste dia. Entretanto, confesso espanto à sua declaração. 

- Eu pensei tanto sobre isso! Não encontro mais razões para viver. - desabafou. 

Nem eu! O mundo dá mais razões para desistir da vida do que para vive-la. É um saco nascer e ter que encontrar justificativas para a cruel experiência de ser humano.  

- Que tipo de razões você gostaria que a vida lhe desse, Cristina?

Ela demora para responder. Eu levei trinta anos para descobrir que a vida não dar razões. As pessoas buscam através da filosofia, da arte, da literatura, da religião, do dinheiro; justificativas para seus atos, pois assim poderiam enganar todo o vazio existencial que elas sentem. Mas, uma hora percebem que o buraco é profundo e insaciável. O indivíduo nunca está satisfeito e estará sempre nessa busca insana por mais. 

- Eu queria amar e ser amada verdadeiramente! Estou cansada de relacionamentos superficiais. 

E só por causa da sua carência emocional você irá se matar? Tudo porque acha impossível encontrar uma pessoa que se encaixe nas suas expectativas e seja a representação real da sua idealização? Ótima justificativa. Esse papo de Amor e todo idealismo que foi construído sob ele tem feito as pessoas se enganarem em suas buscas. A utopia do amor romântico é produto desta mídia barata que vende ilusões aos corações sonhadores. Sonhar é um risco e sequer a própria realidade imagina que existam sonhos. 

- Eu não poderia lhe dizer para não fazer algo que se deseja. Se você acredita que se matar vai solucionar este problema, tudo bem, vá em frente.

- Você não se importa?

- Olha, importar, eu me importo, mas a decisão pelo seu bem-estar cabe a ti e não a mim.

- Nossa... 

- O que foi?

Disse algo errado? Claro que não. As pessoas adoram comentar sobre o que fazem das suas vidas, esperando uma aprovação dos outros. Entretanto, não tenho vocação para comentarista da vida alheia e não sou guru para guiar alguém a iluminação. Quando mais novo, acreditava que poderia ajudar as pessoas. Hoje, tenho a certeza que não ajudo ninguém. 

- As pessoas diriam que estou maluca. 

- Sou uma exceção à parte, Cris. 

- Estou vendo. Então você não se importa que eu me mate?

Ela queria ouvir exatamente o quê de mim? Afinal, a vida é dela ou minha? Pessoas e suas manias de atribuírem suas decisões aos outros. O que tenho a ver com a vida dela? Absolutamente nada. 

- Você não está fazendo a pergunta para pessoa errada?

Cristina balança afirmativamente a cabeça e permanecemos em silêncio por alguns segundos. Por alguma razão, eu me sentia incomodado com aquela declaração. Tudo bem. Não quero achar que sou o único que pode se matar. Pelo contrário. Não privo ninguém de tomar esta decisão. O ser humano onde quer que ele esteja, lutará para viver mais um dia por mais difícil que seja a vida! Desistir da vida é sinônimo de covardia por essa razão. Estranho, não? Por que desistir da própria vida seria considerado um ato covarde se esta é uma das decisões mais difíceis de se tomar? Sua própria vida pode ter lhe esgotado oportunidades e dificultado a resolução de problemas. Uma existência pode ter sido esmagada pela pressão da sociedade e por não suportar mais o peso, decidiu que a morte poderia pôr fim nesta cruz. Agora... O que tinha de errado na vida da Cristina para que ela cogitasse um suicídio? Ela é uma bela mulher: admirável, trabalhadora, inteligente, dócil e bonita. Não consigo enxergar motivos plausíveis para realização deste ato. E confesso, que isso me instiga a curiosidade para descobrir suas reais motivações.   

- O que fará por agora, Paulo? – Perguntou Cristina aparentando estar entediada com o silêncio.

Planos? Não os tenho mais. Tudo o que escrevi naquela lista idiota consegui realizar em menos de duas horas. 

- Eu.... Estou livre hoje. Por que? 

- Gostaria de passar a tarde contigo. 

- Você não tem que voltar a trabalhar?

- Não volto mais para aquele lugar, não hoje. 

Cristina deu aquele sorriso destruidor, jogando os cabelos para o lado e me olhando de uma forma completamente sensual. Céus! Como essa mulher era capaz de seduzir um homem assim? Naturalmente? 

Pensei em recusar seu pedido, mas lembrei de um desejo que ainda não tinha sido cumprido daquela lista tola: “viver o dia como se fosse o último”. E por essa razão, não poderia dispensar o convite de Cristina para passar o dia com ela. Ainda que este dia representasse apenas algumas horas, não recusaria essa oportunidade. 

- Onde iremos?

Continua...

17 de outubro de 2017

O Achismo




No momento do desespero, você não pensa no que está fazendo. A angústia e o medo te impulsionam a determinadas ações que poderiam ocasionar uma tragédia. Encurralado na beira do precipício, acreditando não ter mais saídas, o indivíduo se entrega a descrença de que nada pode ser feito e há apenas um destino marcado por lágrimas e sofrimento. O desespero é tanto que ele começa a se ferir. Ele se machuca na vã tentativa de acabar com a dor de uma vida que ele não quer mais para si.  

O coração sangra; o corpo também. O soluço após o choro demora a cessar. As lágrimas já escorrem pela face que dispensa expressões genuínas de tristeza. A dor se esvai e o que sobra é o vazio. É como se você estivesse em um quarto escuro, gritando e não há ninguém para te escutar, ninguém é capaz de te enxergar. O grito é engolido a seco; o silêncio é o consolo para quem está cansado de palavras que machucam.  

Ele pensa em suicídio achando que a morte solucionará suas angústias e mal sabe que o autoextermínio é apenas um meio para perpetuar a dor entre os vivos. Ele pensa em desistir da vida porque acha que está perdido. Ele pensa em desistir da vida porque acha que está sendo pressionado. Ele pensa em desistir da vida porque acha que não tem a mesma força que os outros tem para vivê-la. Ele pensa em desistir da vida porque se acha fraco demais para ela. 

O achismo não leva ninguém a nada. 
O achismo está levando ele ao nada enquanto ele pode ter tudo.

Se ele tem força para desistir da vida, ele tem que usar esta mesma força para enfrentá-la.

15 de outubro de 2017

A Realidade...



Quando a realidade bate na porta, você não pode continuar fugindo dela. Ou você atende e aceita ela como é ou você se esconde atrás de suas mentiras e teorias que fantasiam como ela pode ser e na verdade não é. A realidade espera lá fora. Espera que você se desvencilhe de todas as utopias que tem lhe feito enxergá-la de modo distorcido. 

Já me escondi por tanto tempo dela. Vivi dando desculpas e alimentando medos. Como um eterno bebê que não desejava ser desamparado pelos pais, esperava mesmo depois de grande que eles resolvessem todos os meus problemas e que me dessem a vida embalada e pronta. Achei que a vida só "acontecia" ao se ter um propósito. Dentro de um quarto escuro, não olhava para fora da janela para ver que a vida acontecia o tempo todo e quem estava se escondendo dela era eu e não ela. 

A vida simplesmente é. 

Já me cansei de tantas filosofias e ideologias que só distorcem meu senso de realidade e me afastam da verdadeira experiência de sentir a vida caminhar por estes pés e moldá-la como desejo com estas mãos. Já cansei de fugir da realidade e de todas as irresponsabilidades que isso tem acarretado a minha vida. A realidade não é fria, mas tem suas alternâncias entre o quente e o gelado. Ela também não é crua, mas tem seus estágios; têm suas formas, estruturas, regras, deveres e direitos. A Realidade é tal como ela é. Não adianta teorizar tanto e viver uma vida dentro da própria cabeça, fantasiando-a e deixando de vivê-la e senti-la em sua plenitude.

A vida simplesmente é. 
Aceitar o fato é mais fácil, difícil mesmo é se desvencilhar de todas as teorias que complicam algo que é simples e natural.  
    

13 de outubro de 2017

Indecisão...



Tem pessoas que já nascem sabendo o que irão fazer. Sabem desde criança que o destino delas é seguir aquela profissão. Elas não se importam com os desafios que irão enfrentar no caminho. São exatamente aquelas pessoas que com tão poucos anos de idade já definem o que farão no futuro. Para alguém que sempre foi indeciso quanto ao que irá fazer; conhecer estas pessoas me causa uma profunda admiração com mistura de inveja. Queria ter propósitos bem definidos e não permanecer numa alternância de desejos e desistências. Já quis ser desenhista, astróloga, taróloga, terapeuta holística, pedagoga e até advocacia entrou na lista; mas não me encontrei em nenhuma destas áreas. Será? Será que não me encontrei porque no fundo, não tive persistência e paciência com elas?  Chego numa fase da vida que não faço a mínima ideia do que farei daqui pra frente.

Até meses atrás, ir para o Japão com o intuito de trabalhar e morar, era o objetivo principal de vida de quem via nessa mudança radical uma oportunidade de recomeçar do zero. Pelo menos, estabilizaria o aspecto financeiro e dinheiro, depois de uns anos, não seria um problema. Todavia, mais do ganhar dinheiro, sempre tive vontade de encontrar uma profissão que eu pudesse expressar os anseios da minha alma. Indecisa com os caminhos da minha vida, ainda não me decidi.

É péssimo estar perdida e sem direcionamento. Olhar para o futuro tem sido assustador. As dificuldades diárias tem conseguido desestruturar tudo aquilo que achei fosse certo. Nessa indecisão quanto aos rumos da minha existência, a única coisa que tenho certeza é que nada é permanente e tudo é passageiro.  Não me interessa muito fazer testes vocacionais, pois as vocações não serão correspondentes com aquilo que anseio. Falta descobrir qual é este anseio e no dia que descobrir, será o dia mais feliz da minha vida.

Enquanto isso... Vou vivendo um dia de cada vez; buscando compreender aquilo que realmente me motiva. No fundo, nem tudo está perdido. Ele segura minha mão e me mostra que há outro caminho: a esperança. Olhar para o futuro não tem sido mais assustador. No meu presente ele está ao meu lado, me apoiando com a força do seu amor e isso me faz olhar para o futuro com a esperança que todas minhas angústias terão fim. Mesmo que esteja me desconstruindo, o amor está me fazendo renascer todos os dias.   


12 de outubro de 2017

O Amor está me fazendo renascer




Te quero tanto, tanto! Não sei o que fazer diante ao desejo de tê-lo por completo; apenas me enlouqueço por saber que tenho que lidar com as limitações temporárias que me impedem de estar contigo o tempo todo e por inteiro. O amor é tanto que tenho medo. Medo de lhe sufocar com minhas loucuras e o excesso de emoções que parecem fluir de mim descontroladamente. Medo que minhas crises lhe machuque e sei que não estou em um momento tranquilo.

Estou mergulhada em dúvidas e nadando na angústia sem aparente causa ou sentido. Crises existenciais tem sido constantes. O medo tem paralisado meus movimentos e me impedido de enxergar que as dificuldades são passageiras. Elas são passageiras, é verdade, mas os olhos parecem ter viseiras que impedem de enxergar isso.

Todos os dias sou desafiada a olhar no espelho e encarar as consequências do que vim feito da minha vida até então. E o resultado não é agradável. Sinto que passei muito tempo andando em círculos, perdida em um labirinto de emoções e presa ao emaranhado de sentimentos negativos que me fazem ver o desperdício do tempo em preocupações supérfluas, amores falsos e desejos inúteis. Olho no espelho e sinto que tenho que fazer algo ou me tornarei alguém insuportável.

Neste momento que preciso destruir tudo aquilo que sou para reconstruir um novo SER, você surgiu na minha vida, resgatando-me da desesperança completa e devolvendo ao meu ser, novos sonhos. Com paciência, você acolhe minhas feridas e com carinho, abraça quem eu sou neste momento: alguém com dúvidas e medos. Você me ama sem fazer cobranças ou exigências. Eu sei que no momento estou em pedaços, mas o Amor que tenho por você está me fazendo ser inteira e o meu Amor por você me torna alguém melhor do que eu era.

5 de outubro de 2017

Cumplicidade




Somos enamorados, mas também cúmplices.

Duas cabeças pensam melhor que uma.

A relação não se trata de duas metades que se unem pra formar um inteiro; mas inteiros que se encontram e decidem criar a unidade chamada casal. Se a química do casal não for espontânea e não houver cumplicidade entre os enamorados: um vai contar a piada e o outro não irá entender; um vai querer dormir de conchinha e o outro de lado; um vai estar sempre adiantado enquanto o outro estará atrasado.

A Cumplicidade acerta os passos no mesmo ritmo e caminho.

A Cumplicidade alinha as batidas de dois corações como se fossem um.

A Cumplicidade não se compra, se conquista!

A Cumplicidade está na conversa silenciosa dos olhares apaixonados; está na dança dos corpos que não negam o que sentem. 

A Cumplicidade está em viver o dia-a-dia com zelo, compromisso e dedicação.

Se não for para ser cúmplice, não me chame pra participar de nada. Na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, com sorriso no rosto ou com a cara emburrada; se não for pra ser companheiro de todas as horas, não será o cara certo. Cúmplices se unem porque possuem objetivos em comum. De mãos dadas, conseguem alcançar mais resultados juntos do que separados. Felicidade só é plena quando é compartilhada: se for com o amor da sua vida, melhor ainda!

4 de outubro de 2017

O Cúmulo da patifaria



Vejo muitos indivíduos imbecilizados querendo normalizar o absurdo através da relativização. Ver uma criança de 6 anos apalpar um homem nu tornou-se arte em pleno século XXI. Esqueça o que os grandes gênios da humanidade criaram sob momentos belíssimos de inspiração e contemplem as patifarias que a contemporaneidade vêm produzindo atualmente. Todo produto exteriorizado por essas mentes desequilibradas e nefastas se unem com um único intuito: a destruição dos princípios morais.

O cúmulo da patifaria é se apropriar de discursos falaciosos que invertem o sentido da lógica e do bom senso. O discernimento e a honestidade intelectual não são propriedades de mentes ardilosas que trabalham para que a destruição da moralidade surja no íntimo de cada indivíduo. 

Existir no século XXI, exige um compromisso do indivíduo com a Verdade, pois a mentira vêm se alastrando de modo sorrateiro e contínuo. Muitos já estão derrubados moralmente por vícios que não fazem esforço para extinguirem. Os vícios e as paixões mundanas declinam o indivíduo a inferiorizar sua consciência no lamaçal de contradições e imbecilidades; impedindo assim, a evolução da própria alma. Os estágios inferiores da consciência humana permitem que atrocidades aconteçam sob a relativização do que é certo ou errado. Existir no século XXI, exige pulso firme do indivíduo para que ele continue rente ao caminho da Luz, do Bem e da Verdade. 

Não seja mais um idiota a vociferar informações se elas não forem minunciosamente avaliadas e testadas no senso prático. Cuide pra que seus lábios preservem as verdades que fazem o mundo caminhar para frente. O Bem precisa de pessoas corajosas. O Bem precisa de trabalhadores de última hora! O Bem precisa de pessoas motivadas a darem o seu melhor. O Bem precisa de pessoas que estão dispostas a defenderem o Milagre da Existência! O Bem precisa de pessoas íntegras, honestas e sinceras. O Bem precisa de pessoas convictas na realização da Grande Obra! Não seja um idiota. Não desperdice seus potenciais e acredite mais em si, na sua força, na sua grandeza interior e que suas habilidades poderão ajudar muitas pessoas!

3 de outubro de 2017

Maria vai com as outras



Quando fiz estágio por um ano no colégio Santa Maria, fiquei encarregada de cuidar de crianças do primeiro período. Elas tinham entre 4 à 5 aninhos. Aprendi tanto com elas. Sempre quando uma criança copiava a outra, a professora a repreendia e dizia: "não seja maria vai com as outras".  E você? É aquele da turma que não tem opinião própria e adora seguir a modinha? Acha difícil defender seu posicionamento por ir contrário aos demais da roda? Pra se sentir incluído no grupo, você precisa agir de um modo socialmente aceito por eles? Ovelha, claro, não anda sem seu rebanho e pra onde marcha as demais ovelhinhas, lá vai "serumaninho" que não pensa por si só... 

De uns tempos pra cá, percebi como as pessoas estão carentes e como essa carência afeta seu modo de interação com o mundo social. Se você não faz parte de um coletivo que luta por causas sociais, dispensa o uso de álcool pra se divertir, recusa a maconha para não danificar seu raciocínio; não pactua com a ideologia comunista enaltecida nos campos acadêmicos e tampouco usa camisa do "Che Guevara" pra ser um "cool guy"; você está automaticamente no grupo da "direita delirante" ou é taxado de conservador fundamentalista, careta ou ultrapassado demais (Helloo! O mundo evoluí!)... É quase um "ET". Direita extrema? Onde vivem e o que fazem? Hoje, no globo repórter.

Namorei com um rapaz que precisava colocar um cigarro na boca para se sentir aceito no grupo. Este mesmo rapaz, tinha pânico de ficar sem fazer nada, pois o NADA o assustava; precisava da atenção alheia pra existir. Já me deparei com uma mulher que era a extroversão em pessoa. Quem via ela, não sabia que por trás da aparência forte e altiva, havia uma mulher fragilizada e com medos. E estas mesmas pessoas, estão por aí, buscando a identidade coletiva e esmagando a essência interior. E quanto mais vejo estas pessoas sufocarem sua essência interior; mais as observo perdidas em caminhos que não foram feitos para serem trilhados por elas. Para serem aceitos por estes coletivos sociais, estas pessoas chegaram ao cúmulo de esmagarem suas próprias individualidades, distorcendo a lógica, a racionalidade, a ética e a moral; para serem aceitos por estes coletivos.

Nada contra, afinal, a vida é "deles" e o problema não é meu. Esta observação está servindo de reflexão. A vida é uma sucessão de escolhas certas e erradas. Vivemos com as consequências de nossos atos passados. O futuro é aquilo que construímos através de nossas atitudes no presente. Quando escolhemos permanecer no erro e não aprendemos com as lições que ele nos traz, tendemos a perder e destruir tudo aquilo que amamos. A mulher não consegue enxergar que está perdendo seu casamento toda vez que coloca as necessidades da pauta coletiva em cima de suas necessidades emocionais e femininas. O rapaz não compreende que toda vez que ele fuma uma maconha pra descontrair com aquele grupinho, ele está condicionando seu organismo ao vício e destruindo sua capacidade lógica e de raciocínio. E tudo isso é resultado do efeito: "Maria vai com as outras".

Volta aqui, Maria! Mostra tua essência! Lute por aquilo que considere certo e não dê tantos créditos às vozes alheias! Cadê sua individualidade? Resgate ela, afinal, ela é única no Universo todo. Maria, contemple a maior honra da existência: Seja você mesma e te garanto que não são as vozes do "coletivo" que irão te ensinar isso.

2 de outubro de 2017

Segundo uma feminista...



Segundo uma feminista, eu não estou apta a criticar o movimento porque nunca fui a uma manifestação para ver do que se trata a luta das "manas". Sob essa lógica, seria correto afirmar que eu preciso usar maconha para dizer que ela faz mal ao organismo saudável ou que causa dependência física e psicológica na vida de uma pessoa. A verdade é que nunca tive interesse em nenhuma espécie de movimento coletivo, pois acredito que a evolução do indivíduo está no caminho do autoconhecimento.

As manifestações coletivas podem ter causas justas e não as desqualifico. Pelo contrário. Se são pautas que  trabalhem em prol do bem-estar dos indivíduos atuantes de uma sociedade, apoio quem se predispõe ao trabalho de manifestar sobre aquilo que incomoda e que pode estar errado. O problema, entretanto, é quando as pautas estão revestidas por interesses mais obscuros de manipular o raciocínio lógico de um indivíduo para que ele execute algo sem questionar sua veracidade. O problema do movimento feminista é que ele não aceita críticas e por mais agressor que o movimento se apresente diante as pessoas; ele estará certo em sua "essência" - pelo menos na ótica da feminista que acha absolutamente normal enfiar uma estatua da virgem maria no orifício anal e não achar agressivo tal ato.

Já estive presente em duas universidades federais do país (UEMG e UFMG) e nunca me senti atraída a fazer parte do coletivo feminista, pelo simples fato de que não adianta tentar mudar a consciência de uma sociedade inteira se você não está compromissado com sua REFORMA INTERIOR, ou seja, se você não buscar ser um humano melhor, você não estará contribuindo em nada para que essa mudança seja efetiva. Pare um pouco e reflita comigo. De que adianta acusarmos o outro dos defeitos que julgamos não termos, mas que se escondem nos recônditos da alma? De que adianta exteriorizarmos nossos conflitos internos e não buscarmos a resolução deles através da nossa mudança de atitude perante à eles? Lutar por uma identidade coletiva justifica esmagar a identidade individual? Se o movimento feminista deseja agregar mulheres da sociedade, por que estas mulheres são atacadas pelo coletivo quando se manifestam contra aquilo que não representam elas? Vocês não se dizem defensoras das mulheres? Defendam elas! Se o movimento é a favor da mulher; por que defendem pautas que destroem a manifestação da ENERGIA FEMININA UNIVERSAL? Se o movimento feminista é a favor da mulher, por que há tantas mulheres que não se sentem representadas por ele? 

Segundo uma feminista, eu não posso criticar o feminismo porque não sou feminista. E infelizmente, esta mesma feminista não critica aquilo que defende. Algo que não pode ser questionado, não me apresenta nem um pouco de confiabilidade. Não há diferença entre o fanático religioso e o fanático político. O fanático está cego, não consegue enxergar a escuridão que está imerso.

Mas eu digo a essa feminista, que eu posso criticar aquilo que conheço porque faço uso da lógica e também do discernimento. E se o feminismo que vejo; este que precisa desrespeitar o outro para se conseguir respeito, sinto-lhe informar: tampouco me representa, não tenho menor interesse em participar de coletivos e não precisa se sentir ofendida por essa declaração.

A única luta que travo todos os dias é a luta que diz respeito a minha jornada interior. É esta a jornada que me faz valorizar minhas potencialidades e que me coloca pra trabalhar em cima dos meus desafios internos. Se sou homem ou se sou mulher; a vestimenta que faço uso nesta encarnação só é veículo para que eu consiga trabalhar tudo aquilo que minha alma verdadeiramente deseja: ser um SER humano melhor através do autoconhecimento e da reforma interior.  Então, o feminismo, só lamento, você não me serve em nada. Minha opinião? Morre comigo.


1 de outubro de 2017

Afastamento voluntário...



Pare o mundo, eu quero descer! 

Preciso me desligar dessa loucura diária. Preciso me afastar da insanidade daqueles que querem destruir a pureza; defender a loucura; justificar sua histeria; manipular sua ótica sobre o que é errado ou certo. Preciso me afastar destas pessoas que não usam a lógica para discernir o que é realmente bom para o outro ou pra si mesmo. Preciso me afastar de muitas pessoas que mais me causam mal do que bem. Preciso me afastar de pessoas que defendem o islamismo sob a ilusão que é uma religião da paz. Preciso me afastar de pessoas que levantam bandeiras coletivas e são massas de manobras para partidos políticos.

Preciso me afastar de pessoas que acham que o conservadorismo é um mal no mundo; que o capitalismo é um sistema econômico falho e que o comunismo deveria ser o regime vigente do século 21.  Preciso me afastar de pessoas que tem raiva da cultura européia cristã e que usam termos como "supremacia" branca para segregar as pessoas em grupos raciais. Preciso me afastar de pessoas que defendem que é Arte é ver uma criança tocar o corpo de um homem nu. Preciso me afastar urgentemente daquelas que se dizem defensoras de outras mulheres, mas não perde a oportunidade de abortar um feto que poderia ser do sexo feminino.

Preciso me afastar destas pessoas ou acabarei mergulhada na insanidade como elas.

Preciso resguardar minha dignidade e preservar os valores que são corretos. O bem existe, eu sei que existe e tem muitas pessoas boas caminhando pelo mundo! E é por toda bondade que existe no mundo que precisamos preservá-lo das mãos corruptas e dissimuladas.

Arjuna, você não está vendo que a guerra está sendo travada? Erga a espada, lute e honre seus ancestrais. Preserve a memória daqueles que estiveram há tempos caminhando sob a terra, deixando seus ensinamentos de amor. Para haver paz, é preciso aprender a guerrear.