São raras as pessoas que ouvem o que você fala sem julgar, sem comentar. Elas ouvem com atenção cada palavra e frase solta da narração de uma pequena história de vida intensa e confusa. Quando paro para pensar na minha própria história de vida, algumas situações ficam assim: incontáveis.
Não tenho uma memória boa. Não guardo nomes com facilidade. Se não vejo a pessoa no meu dia a dia... o fato de ela ter existido na minha vida vai se apagando lentamente... e no fim resta apenas uma vaga sensação de: “conheço essa pessoa de algum lugar”. Sério, minha memória é péssima para fisionomia e nomes. Raramente lembro de histórias da minha infância, adolescência, salvo aquelas que são recontadas religiosamente em um café da tarde com minha mãe ou as que mais me marcaram.
Então, quando é para falar algo que aconteceu no meu passado, não encontro as palavras certas e tento resumir ao máximo as experiências. Por que? Primeiro: pode ser entediante para quem ouve, segundo: não lembro com detalhes cada cena, cada gesto, cada palavra. Mas hoje encontrei alguém que queria ouvir o que tinha a dizer.
E ouviu com atenção, sem julgar, sem criticar... É raro esbarrar com alguém assim. Alguém que realmente te ouça, ouça suas dores, não julgue e nem diminua. Não inferiorize sua experiência querendo contar vantagens.
E talvez seja isso que dá valor às nossas histórias: quando encontramos alguém disposto a acolhê-las, mesmo que fragmentadas, mesmo que sem todos os detalhes. Porque no fim, não é a perfeição da lembrança que importa, mas a conexão que nasce no instante em que alguém escolhe simplesmente estar presente: ouvindo, sentindo e permitindo que nossa voz exista inteira.

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