19 de maio de 2023

Se as paredes falassem...


Se as paredes falassem, elas diriam aquilo que escutam? 

As paredes desse lugar são frias e austeras. O que passou por aqui deixou seu rastro de dor e sofrimento. Não ouço risadas. Será que elas já estiveram presente algum dia? Ou o sorriso forçado pela esfera opressora era o que predominava no passado? Elas falam constantemente comigo e eu ouço sua voz. Elas dizem:

-"Saia daqui enquanto há tempo. Aqui não é lugar para alguém como você. Você é jovem  e esperta, tem muita energia que incomoda aqueles que pararam de acreditar nas coisas boas da vida. Eu fui construída com concreto e rigor. Meus tijolos serviram para camuflar um casamento em crise. Você, ao contrário, foi feita de sangue e sonhos. Tem uma mente sonhadora, criativa e sensível. Eu estou velha demais para mudanças que os jovens apresentam. O barulho de vocês me incomoda demais. Meus tijolos estão impregnado de forma-pensamentos negativos e há muita frustração, omissões, maldizeres e amores secretos que serviram como base para esse lugar. Eu já fui jovem um dia também. Eu acreditava na pureza dos homens, mas essa crença me quebrou por dentro. Eu já fui muito próspera, mas essas paredes não acompanharam a evolução, não se atentaram as mudanças e as ações que deveriam ter sido tomadas para não ficar parada no tempo. Hoje, eu continuo alimentando aqueles que ainda trabalham aqui por comodismo e medo. Mas não sei se aguento por tanto tempo. As paredes estão rachando, mesmo que esses humanos não enxerguem. Cada reclamação, cada maldizer, cada xingamento; estou absorvendo e as paredes um dia vão rachar. Por isso digo novamente, aqui não é lugar para alguém como você. 

É estranho estar em um lugar que você não se sente pertencida. Eu achava que estar entre "familiares" poderia me trazer um pouco de aconchego nesse mundo louco. Eu mergulhei nesse mar atrás de sereias e elas, mais uma vez, me iludiram com a promessa de encontrar meu tesouro. Desde que entrei por aquela porta, senti uma energia cansada. Parece que algo se perdeu. Não sinto que pertenço ali. Me sinto como uma peça mal encaixada em um quebra-cabeça velho e usado. Sabe a sensação de não ser aceita em um grupo porque você é diferente demais dele? As pessoas ficam incomodadas porque você vêm de fora, já passou por outros lugares, se relacionou com outras pessoas que também querem crescimento como você. E do nada, você é transportada de um mundo colorido, vivo e agitado para algo cinza, parado, morto. 

Eu não vou ficar por muito tempo aqui, Dona Parede. Minha missão foi levar um pouco de frescor e mostrar que lá fora, o sol brilha e que há muita coisa boa na vida! Eu sei que você tem medo da transformação, que não está preparada para acompanhar as mudanças, por isso não se assuste se eu sumir. Eu não vim para causar a desordem na sua cabeça e nem forçar mudanças que você não está pronta. Continue sustentando aqueles que depende de você para sobreviver. Eu só quero te dizer que estou de passagem... Tão logo, me levanto e vou embora. Vou bater mais uma vez na porta do lugar que sinto que pertenço! 

16 de maio de 2023

Decisões são difíceis...

 


Quisera eu que toda decisão que tomasse na vida fosse mais fácil. E junto com ela viesse menos arrependimentos e mais certezas. Quando penso que faço uma escolha pensando no meu propósito, me frustro quando a escolha vira meu presente a qual quero fugir a todo custo. Sim, eu sou essa pessoa que vive buscando encontrar o propósito dessa existência que tem 1,65m de tamanho. E quase sempre se frustra porque esse propósito a qual estamos supostamente destinados nunca se apresenta. Ainda bem que falei a palavra "supostamente". Talvez, esse propósito nem exista. E a vida é uma dança sem sentido, bailando pelos cosmos, solta e perdida; rodando na escuridão cósmica que a cerca. 

Decisões são difíceis e tem seu peso. Oh, se tem e geralmente carregamos esse peso reclamando. Existiu uma pessoa que tomou a decisão de carregar os pecados da humanidade numa cruz sem reclamar, sem contestar direitos, sem chorar. Os pecados nem eram dele, mas mesmo assim, assumiu o fardo de carregar a cruz. Mas a realidade desse Ser está tão longe da nossa realidade humana e é fora de cogitação me esmerar em algo que já é DIVINO e PERFEITO. Eu carrego minha cruz ladeira acima reclamando porque nada é como eu gostaria que fosse. E o que você exige tanto, garota? Eu quero me "encontrar", entende? Encontrar minha vocação. Encontrar aquilo que eu realmente goste de fazer e que dê dinheiro, muito dinheiro! Mas cada decisão que tomo parece me afastar desse "propósito" e mais erro do que acerto em minhas escolhas, principalmente, as profissionais. 

O problema de tomar uma decisão que vá te afastar de uma situação que você julga ruim é que as pessoas a sua volta podem de alguma forma contar com você. Por exemplo, se opto por sair de um emprego que não gosto; eu não posso me dar o luxo de simplesmente sair porque todo mês a mensalidade do asilo do meu pai tem que está em dia e parte do custeio vem desse salário. Ou seja, há outra pessoa que depende diretamente do meu esforço para sobreviver. E cada ano que passa, é mais difícil tomar uma decisão "egoísta" sem pensar nas consequências, sem pensar em como isso vai afetar minha vida e a vida de quem depende de mim. 

Uma decisão é difícil porque você pode quebrar as expectativas que os outros depositam em você. Todavia, contudo, entretanto; você não deve viver a vida esperando realizar o que os outros querem de você. Uma coisa é você ter uma responsabilidade com a sobrevivência de um parente, outra coisa é você viver a vida para agradar alguém. São coisas diferentes ainda que parecidas. Se você está em um lugar que não se sente bem, valorizado e respeitado; você tem que se mover e buscar algum outro lugar que te traga um conforto mesmo que você "decepcione" alguém por essa atitude. 

Decisões são difíceis. Quisera eu que fossem fáceis. E ao escrever tudo isso, estou me reorganizando internamente para aceitar que não fui feita para aquele lugar, que tem lugares que você sente uma sinergia com as pessoas a sua volta, outros não. Tem lugares que te dão liberdade e autonomia, outros não. Tem lugares que já morreram e só esqueceram de colocar uma lápide para oficializar sua morte; outros tem vida, frescor, movimento. Acho que meu propósito de vida tem a ver com isso: vida, frescor, movimento. É o que me traz alegria, estar em movimento. Se eu soubesse disso, não teria feito a decisão que fiz meses atrás. Mas agora sei... E eu precisava viver tudo o que estou vivendo agora para realmente saber meu lugar.

Se eu bater nessa porta que eu mesma fechei, será que ela se abre para mim?

Eu não joguei as chaves fora... Quando sai, eu só encostei ela. 

Espero encontrar essa porta assim: meia-aberta, com um feixe de luz.