A regra foi clara: um sorteio.
Sorteio é isso: lida com a "sorte", lida com o acaso, lida com uma conjectura de probabilidades que podem resultar em algo inesperadamente bom como também ruim. Os itens sorteados iam dos mais simples aos mais sofisticados. Sei que foi o modo que eles encontraram para agradecerem os funcionários pelos serviços prestados no decorrer do ano. Eu não estava criando expectativas, juro. Mas por alguma razão fiquei frustrada quando descobri que meu "prêmio" era um conjuntinho de tupperware de bebê (da marca buba). E confessando minha frustração com meus colegas balconistas, não era só eu que estava, vou colocar entre ASPAS, "chateada".
Uma colega comentou que por sermos a "linha de frente" da farmácia, tínhamos direito a itens melhores. E naquele momento, eu dei razão a ela. Estagiários ganharam "itens melhores"... até mesmo uma senhora que é dos serviços gerais, que vai duas vezes na semana limpar a loja, também ganhou um prêmio bom. Na hora, acabei dando meu "prêmio" para uma colega.
Chegando em casa, conversei com minha sogra e nessa conversa, ela trouxe vários insights que me fez repensar sobre a reação que tive diante a situação.
Não querendo me vitimizar com o ocorrido e achar que fui injustiçada por acreditar que trabalho bastante para ver as coisas funcionando dentro daquele espaço... mas quem sou eu diante as milhares de estrelas do universo? Quem sou eu para julgar se "fulano" ou "ciclano" merece ou não ganhar determinada coisa? Quem sou eu para julgar quem trabalha mais ou menos dentro da empresa? Só porque trabalho na linha de frente, negociando diretamente com quem paga nosso salário no final do mês não significa que mereço ganhar um prêmio melhor que um estagiário que está no início da sua jornada profissional. Como fui mesquinha diante a situação, como fui "pobre" em espírito em não conseguir me alegrar com a alegria do outro. Espero em ocasiões futuras, semelhantes a essa, sair um pouco de "mim" e pensar mais no "nós"...
E a outra reflexão é... Graças a Deus, não me falta nada, nada mesmo. As dificuldades que já enfrentei na vida, em um passado distante, não são meu presente, não é o que vivencio hoje. Tenho meus desafios, confesso, mas nada comparado a dez, quinze, vinte anos atrás. Instabilidades emocionais, financeiras... materiais... isso, Graças a Deus, foi retirado da minha vida. Eu reconheço como sou privilegiada em vários sentidos e sei que trabalho com pessoas que nem sempre tem a mesma "oportunidade"... Por isso, pesou na minha consciência quando julguei que essas pessoas não eram merecedoras de tais coisas porque seus trabalhos eram de menor valor. Loucura, né? Eu sei...
O nome disso é "arrogância", momento em que passo desprezar o feito do outro por ter uma visão de "auto-importância"... Coitada. Quem sou eu entre milhões de estrelas? Quem sou eu na imensidão desse vasto e infinito universo? Reconheço minha pequenez... Reconheço que sou pequena demais... Tenho que tomar cuidado para que essa arrogância não coma meus olhos, meus sentimentos, meus pensamentos... minhas ações, minha humanidade.
Que esse texto fique salvo para que eu volte por aqui e o releia sempre que necessário.