Algo que estava guardado em mim... (2)
Aqui estou eu, falando com meus sentimentos. Algo quer sair, ganhar forma, ganhar textura com palavras. Onde estou? Não consegui definir. Estou tentando me concentrar, distinguir cheiros, sons. Ouço vozes e uma sirene. Estou em um campo. Essas vozes são ríspidas, falam constantemente em tons agressivos. Eu apenas obedeço. Não falo nada. Não consigo me visualizar. Minha visão está toda borrada. Tento aguçar meus ouvidos. As vozes mandam, gritam. Eu tenho medo. Não ouso a contestar, já vi o que eles fazem com quem grita por seus direitos. E aqui não há justiça. Fomos abandonados. Onde estou? Ouço apenas o silêncio. Não há lamúrias ou ressentimentos. Todos estão cabisbaixos. Deitam suas cabeças, sem saber o que esperar do amanhã. Deitam suas cabeças sobre algo que parece ser um “travesseiro” sem sonhos que possam lhes salvar da desoladora realidade. Eles também não choram, pois suas almas já derramaram todas as lágrimas, restando-lhes apenas o silêncio perturbador. Fomos esquecidos.